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“É um grito de socorro”, afirma João Wainer em debate sobre pichação

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O debate sobre a legitimidade da pichação aconteceu durante a Semana Cultural na ESPM-SP organizada pelo Centro Acadêmico 4 de Dezembro (CA4D), em maio deste ano. João Wainer, fotojornalista da Folha de São Paulo e codiretor do documentário Pixo, e Silvana Ferreira, professora de história da arte na ESPM-SP, organizaram a conversa com os alunos no Auditório Castelo Branco.

Alunos conversam com codiretor do documentário Pixo sobre pichação. Foto: Fernando Turri.

Alunos conversam com codiretor do documentário Pixo sobre pichação. Foto: Fernando Turri.

“Eu considero a pichação como uma das formas de comunicação mais sofisticadas”, afirmou Wainer. Para ele, a pichação não é feita para ser entendida pelas pessoas, sendo uma agressão à sociedade. “Não tem nada pior do que você ser ignorado”, explicou o diretor, afirmando que a manifestação de ódio da população em relação aos pichadores é a única maneira vista por eles de serem notados.

Para Silvana, esse tipo de debate é um reflexo das características do momento histórico que as pessoas estão enfrentando. “A gente está vivendo uma mudança tão rápida em tudo, que faltam reflexões e nomenclaturas para as coisas”, disse a professora. “Eu vejo isso como expressão urbana. Não tem que ficar chamando se aquilo é arte ou não é arte”, disse sobre a rixa entre pichadores, grafiteiros e os que condenam esses tipos de práticas. “Cada coisa tem o seu lugar”, completou.

“Vamos transformar esses pichador malvado em um grafiteiro bonzinho”, reproduziu Wainer, ironizando comentários que ouviu nos quatro anos que esteve imerso nesse universo para a produção do documentário. Ele explicou as divergências entre ambos os grupos e debateu sobre a visão das pessoas em relação as duas formas de expressão.

“Antes de ser arte ou de ser uma forma de expressão urbana, pichação é crime”, enfatizou o fotojornalista. Mas ele afirmou que, uma vez que esse tipo sofisticado de comunicação exista, como ele mesmo intitula, é necessário discuti-la.

Wainer se preocupa com a apatia das pessoas sobre o que os pichadores estão querendo expressar. “A pichação é tinta e letra. As pessoas estão escrevendo coisas. Elas estão tentando se comunicar”, alertou o fotojornalista. Para ele, o pichador vê a cidade como um grande caderno de caligrafia.

As letras nas fachadas das casas e prédios são expressão da repressão e exclusão dessas pessoas. “O cara que picha está com muito ódio. Ele bota para fora a raiva dele com a pichação”, argumentou. Um garoto que pega um spray para pichar poderia pegar em uma arma para assaltar, de acordo com o raciocínio construído pelo codiretor do Pixo. “É um passo antes da criminalidade mais violenta. É um grito de socorro”, completou João Wainer com certa indignação.

A Semana Cultural na ESPM-SP continuou com ações promovidas pelo CA4D até sexta-feira. Na quinta-feira (15), Marcos Dimenstein, do Catraca Livre, esteve às 14 horas no Auditório Philip Kotler. No mesmo horário houve uma oficina de grafite com Ricardo Tatoo na quadra nova, dentro da faculdade. A Academia de Músicos da OSESP (Orquestra Sinfônica Estadual de São Paulo) se apresentou às 18 horas também no Auditório Philip Kotler.

Fernando Turri (1º semestre)