Da esquerda para a direita: Eduardo Ribeiro, Verónica Goyzueta, Bruno Paes Manso, Allan de Abreu, Elena Cabral, Ricardo Gandour e Guilherme Borges. Foto: Luanna Jambo
Luanna Jambo, com colaboração de Rodrigo Gomes e Geovanna Melissa (1º semestre)
A ESPM-SP, em parceria com a Columbia Journalism School, promoveu no último dia 14 de outubro a 9ª edição do Seminário Internacional de Jornalismo, com o tema “Cobertura do Crime Organizado na América Latina”. O evento reuniu especialistas renomados para debater os desafios da cobertura jornalística sobre redes criminosas na região.
Entre os participantes, estavam Allan de Abreu, repórter da revista Piauí; Bruno Paes Manso, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP; Eduardo Ribeiro, jornalista editor de Jornalistas & Cia; Elena Cabral, pró-reitora da Columbia Journalism School; Giannina Segnini, professora da Columbia e ganhadora do prêmio Maria Moors Cabot; Verónica Goyzueta, correspondente do jornal espanhol ABC e professora da ESPM-SP; Ricardo Gandour, fellow da Columbia Journalism School e professor da ESPM-SP; e Guilherme Borges, professor e coordenador do curso de Jornalismo da ESPM-SP.
Os debatedores Allan de Abreu e Bruno Paes Manso ressaltaram a importância de um jornalismo investigativo rigoroso para desvendar redes criminosas complexas que atuam na região, além de compartilhar experiências pessoais e análises sobre o crime organizado no Brasil.
Allan de Abreu, autor dos livros Cocaína: A Rota Caipira (Record, 2017) e Cabeça Branca: a caçada ao maior narcotraficante do Brasil (Record, 2021), destacou a importância do jornalismo especializado em segurança pública, ressaltando como ele vai além da tradicional cobertura policial. Para o repórter, essa área exige múltiplas habilidades e uma compreensão mais profunda da realidade social brasileira, já que envolve temas como desigualdade, economia e a presença do crime nas estruturas da sociedade. “O crime organizado não é falar só de polícia, é falar de uma situação etnográfica, como discutir a desigualdade social brasileira, discutir como o crime se infiltra na economia”, afirmou o jornalista.
Já Bruno Paes Manso, autor dos livros A República das Milícias (Todavia, 2020) e A Fé e o Fuzil (ed. Todavia, 2023), apontou que o crime organizado deve ser compreendido não apenas como um inimigo externo, mas como um sintoma de questões mais profundas da sociedade brasileira. Segundo ele, o jornalismo tem um papel essencial ao investigar não só os fatos, mas também os conflitos internos da cultura nacional. “O jornalismo tem um pouco esse papel de olhar para dentro, sobre os nossos ódios, sobre as nossas raivas, sobre os nossos conflitos, para escrever a respeito disso. E quem sabe, assim, olhar a nossa cultura de uma outra maneira”, destacou o pesquisador, que também frisou a dificuldade do país em construir um imaginário coletivo de nação, resultado de séculos de desigualdade e exclusão.
O seminário reforçou a importância de debater o crime organizado na América Latina e aprofundou o conhecimento técnico e metodológico sobre as estruturas do crime organizado para uma cobertura eficaz. Além de fomentar a troca de experiências entre jornalistas especialistas e alunos, o evento oferece uma oportunidade para a formação acadêmica e prática de futuros jornalistas, aproximando-os da realidade do mercado e dos desafios da profissão.