Traços de machismo são notados em discursos no cotidiano

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Foto: Memac Ogilvy & Mather Dubai: Campanha publicitária da ONU Women “Women shouldn’t”. Crédito: Fotos públicas.

No final de abril foi publicada uma matéria no Estadão sobre alunas que espalharam algumas frases machistas supostamente ditas por professores da faculdade Mackenzie, em São Paulo. O Portal de Jornalismo da ESPM-SP procurou entender o movimento das alunas e ouvir a opinião de mulheres engajadas em um coletivo feminista.

“Eu prefiro mulher depilada, acho pêlos nojentinho”, “Mulher se arruma primeiro para as outras mulheres, depois para elas, e por último para os homens” e “eu não sou machista, meu discurso é pró-feminismo, mas a maioria dos homens é machista sim” são algumas das frases ditas pelos professores.

De acordo com os relatos das estudantes, uma voz elevou-se em meio à sala e iniciou-se um diálogo entre aluna e professor: “mas e as mulheres que não gostam de homens?”, e a resposta veio a seguir: “ah, verdade, esqueci das ‘mulheres gays’.  Ao final, o professor terminou dizendo que o homem também sofria pressão da sociedade “por ser o provedor e ter que sustentar uma família”, pedindo ajuda aos homens da sala e todos se calarem.

Em relação à matéria publicada no Estadão, Andressa Griehl, do grupo Coletivo Feminista afirmou: “as divulgações são muito necessárias, pois mostra para as outras meninas que elas não são as únicas a passarem por essas situações. Dá força para que elas também façam as denúncias, e, consequentemente isso dá força ao movimento.”

Perguntamos sobre como as mulheres percebem o machismo. “É difícil as mulheres conseguirem ver essa visão de problematizar as atitudes machistas. Eu mesma não era aguçada para isso, comecei a perceber só quando passei a pesquisar sobre o feminismo e ter mais atenção nas palavras que eu usava, tipo, ‘não vou falar isso porque eu estarei reproduzindo machismo vou estar sendo homofóbica’.”

De acordo com Vitória Kanaan Rosa, também do grupo Coletivo Feminista, a ideia das meninas de expor alguns dos absurdos falados, foi incrível, “quem sabe assim param para refletir o quão machista algumas frases são, não é?”

Sobre a percepção do machismo, Vitória diz: “Eu vejo que depende da visão de mundo de cada mulher. Se você foi criada ouvindo aquilo como algo natural, e nunca teve acesso à nenhuma informação que contraria, você vai achar aquilo normal. Agora, se algum dia a garota/mulher percebeu como certas frases são ofensivas à nós, fica mais fácil de se atentar nas próximas vezes.”

Hoje em dia, inúmeras histórias de machismo são contadas por diversos meios digitais e até mesmo pode ser escutado em corredores, em assuntos do dia a dia. Não é necessariamente só o homem que pode ser machista, e sim mulheres também. “Grande parte das garotas que conheço já passaram por alguma situação dessas, mesmo que tenha passado despercebido. Eu já ouvi de professores que “a culpa do estupro também é da mulher, já que ela provavelmente estava vestindo algo sugestivo”, que ” se uma garota tem um amigo homem, ela com certeza quer beijá-lo”, ou “mulher deve ser submissa sim e ficar na cozinha, cuidar da casa e dos filhos”, disse Vitória.