Qual será o acontecimento de amanhã?

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Milena da Silva – 4º semestre de Jornalismo

Segunda-feira, 5h40. Mais um dia como todos os outros. Se quero chegar na faculdade no horário, é exatamente a essa hora que preciso sair. Geralmente faço todas as coisas correndo para dar tempo, o que na maioria das vezes resulta no esquecimento de algo, ou me atrapalho e bato uma parte do meu corpo em algum lugar da casa, acredito que já posso carimbar os lugares em que fiz isso, porta, mesa, sofá, balcão, cadeira, a lista é grande.

Subindo em direção ao monotrilho, encontro sempre os mesmos dois homens trabalhando, eles são lixeiros. Todos os dias eles me dão bom dia, e diariamente espero por isso. Na catraca do monotrilho a situação é a mesma, o segurança é simpático e também aguardo para lhe dar bom dia, quando ele não está fico até me perguntando se aconteceu alguma coisa.

Passando a catraca, meu cérebro já processa que a parte mais difícil do dia está por vir, mas virou costume, pois faço o mesmo caminho todos os dias. Subo a escada rolante e as pessoas passam por mim correndo para pegar o monotrilho que está na plataforma, não entendo o porquê fazem isso sendo que o da primeira estação só vai até São Mateus e volta, é um trajeto muito rápido. Já passo por tanta humilhação durante a manhã ao pegar transporte público, que me recuso a correr.

Nesse momento, já são 6h e eu estou na estação São Mateus. Quando saio na hora, consigo ficar na fila para ir sentada. Coloquei meu fone e peguei meu livro. Eu ainda não tinha ligado a música, então consegui ouvir exatamente o que uma mulher à minha frente estava conversando no celular. “A gente precisa ver, se isso não resolver levo ela em algum lugar que dá Cytotec”. Ainda era muito cedo e eu estava com muito sono, mas a informação que ouvi definitivamente chamou minha atenção.

A conversa em questão era sobre aborto, e pelo que entendi, de uma amiga. Achei estranha a forma em que ela estava falando alto o suficiente para quem quisesse ouvir, e não tratou como se fosse um assunto polêmico em um lugar extremamente cheio. Eu, como uma grande curiosa que sou, discretamente tirei o fone de ouvido.

O monotrilho chegou na plataforma e eu e essa mulher sentamos uma do lado da outra. A essa altura, outras pessoas também já estavam prestando atenção. A conversa no celular se estendeu e a mulher continuou falando o quanto a amiga foi burra por ter deixado isso acontecer.

Minha opinião sobre isso? Não tenho. Foi uma informação impactante para aquela hora da manhã e minha mente ainda não tinha começado a processar direito. A mulher em questão se despediu da amiga no celular e o guardou. Durante todo esse tempo, fingi que estava lendo meu livro, e quando levantei a cabeça, vi a forma como as pessoas olhavam para a moça ao meu lado. Ninguém estava com um olhar de indignação, apenas desacreditados em ouvir sobre aquilo abertamente, algumas pessoas estavam até rindo.

Já são 6h35 e chegamos na Vila Prudente, todos os que estavam dentro do monotrilho desceram para que os outros passageiros pudessem entrar. Seguimos adiante para nossos destinos, e o assunto que marcou a manhã de todos que estavam no vagão logo vai ser apenas uma pequena lembrança passageira em relação a tudo que vemos e ouvimos dentro dos transportes públicos.