Premiações de Chloé Zhao, de Nomadland, abrem discussão sobre mulheres no cinema

Imagem: Instagram NomadLand oficial

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Theo Fava (1º semestre)

As premiações hollywoodianas de 2021, Oscar e Globo de Ouro, foram marcadas pelas conquistas da cineasta chinesa Chloé Zhao, na categoria de Melhor Direção, que ela venceu com o filme Nomadland. A vitória do Oscar, especialmente, gerou muita atenção por ser apenas o 2º prêmio de direção dado a uma mulher em 93 anos da cerimônia.

O acontecimento vem acompanhado de uma recente onda de valorização dada a diretoras mulheres. A exclusão da estadunidense Greta Gerwig da lista de indicados na categoria, em 2020, provocou reações negativas de internautas e membros da indústria, mas, neste ano, duas dos cinco indicados foram mulheres. Além da vencedora, havia também a britânica, Emerald Fennell, diretora de Bela Vingança, pela qual venceu o prêmio de Melhor Roteiro Original.

A cineasta brasileira, Sabrina Fidalgo, afirma, no entanto, que essas ocasiões não são motivos de comemoração por ser um absurdo o fato de Chloe Zhao só ter sido a segunda vencedora nesses 93 anos do Oscar. Além disso, acredita que o reconhecimento das mulheres na premiação não foi suficiente considerando a grande presença que tiveram na indústria durante o ano. “A representação das mulheres neste ano, no Oscar, deixou muito a desejar no sentido de que ter somente duas diretoras concorrendo à categoria de melhor direção ainda é muito pouco, quando, na verdade, poderíamos ter tido ao menos três”, disse. De acordo com ela, Regina King, diretora do filme Uma Noite em Miami, tinha que estar no páreo mas não entrou injustamente.

Sabrina é uma renomada diretora, roteirista e produtora, tendo seus filmes exibidos em centenas de festivais pelo mundo, além de um dos nomes mais promissores do cinema brasileiro. Para alcançar esse ponto, porém, ela teve que superar muitos desafios e dificuldades ao longo da carreira. Sobre esses obstáculos, ela comenta: “homens têm mais facilidades com o mercado. As obras deles são mais bem recebidas, eles filmam mais que a gente, e são mais convidados a participar de grandes projetos. Nesse sentido, eu me sinto prejudicada por ser mulher e por ser negra também e por acabar tendo meu trabalho deslegitimizando comparado com o de diretores homens”.

Apesar de ainda não haver igualdade de gênero em Hollywood, a diretora afirma que os Estados Unidos ainda estão muito à frente do Brasil nesse quesito, pois o apoio institucional para diretores masculinos neste país é muito maior que o de diretoras. Em 2019, apenas 16% dos filmes escolhidos para os cinemas brasileiros foram foram feitos por mulheres.

Mesmo com todas essas dificuldades para mulheres na indústria, Sabrina busca manter um olhar positivo sobre os próximos anos. “Sou uma otimista, então enxergo um futuro melhor. Tem muitas mulheres maravilhosas colocando-se, falando e organizando-se, sobretudo”, reconheceu a cineasta. De acordo com ela, muitas articulações têm dado resultados positivos nos últimos anos. Entre elas, há os coletivos DAFB, de mulheres diretoras de fotografia, e o Elviras, de críticas de cinema. “Acredito que, num futuro próximo, vamos estar numa situação melhor. Não vou dizer que vamos estar em pé de igualdade ainda, mas estamos melhorando pouco a pouco”, finalizou.

Entre as futuras participantes da indústria está a estudante de Cinema e Audiovisual da ESPM-SP, Marcela Mattana. Desde que pensou em uma carreira profissional, a jovem quis trabalhar com cinema. “É muito mágico o poder que um filme tem sobre você. Tem gente que se encontra neles, e é possível se identificar com cada obra de uma maneira diferente”, disse a estudante. Marcela afirmou que ver a Chloe Zhao vencer a estatueta, em Abril, a deixou muito mais motivada, por saber que o potencial e a capacidade de mulheres cineastas estão sendo reconhecidos. Na sala da jovem, a quantidade de mulheres ultrapassa o número de estudantes homens.