Discurso de Luther King faz 50 anos em meio a preconceitos no Brasil

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Há exatos 50 anos, Martin Luther King, pastor e ativista político norte-americano, pronunciava um discurso histórico para cerca de 250 mil pessoas, transmitindo a ideia de que todos os cidadãos, não só americanos, tinham o direito de viver em uma sociedade justa e igualitária. Meio século depois, com a chegada de médicos estrangeiros ao Brasil, o preconceito e a ausência de igualdade voltaram a ser discutidos pela sociedade.

Recentemente, o governo brasileiro autorizou a entrada de médicos cubanos para atuar na saúde pública. Cerca de 4 mil profissionais devem desembarcar no país durante a primeira etapa do acordo firmado com o governo cubano para participar do Programa Mais Médicos.

Já na segunda-feira (26), um grupo de médicos brasileiros protestou contra a vinda dos estrangeiros. Reuniram-se em frente à Escola de Saúde Pública em Fortaleza, Ceará, onde ocorria o primeiro dia do curso preparatório para os cubanos do Mais Médicos.

Segundo o Simec (Sindicato dos Médicos do Ceará), que liderou a manifestação, cerca de cem médicos foram ao encontro. Tentando impedir a saída dos cubanos, o grupo os agredia com xingamentos racistas, chamando-os de “escravos”.

“O caso aconteceu para comprovar que vivemos em uma sociedade que ainda é muito racista e que isso provém das raízes do nosso passado. É uma característica que não evoluiu ainda, em meio a tantas melhorias. Apesar das cotas raciais e dos inúmeros discursos sobre inclusão das pessoas, no cotidiano algumas pessoas ainda não mudaram isso”, diz a estudante universitária Gabriela Rodriguez.

A jornalista Micheline Borges, do Rio Grande do Norte, fez uma declaração polêmica sobre a vinda dos cubanos. “Me perdoem (sic) se for preconceito, mas essas médicas cubanas tem uma cara de empregada doméstica. Será que são médicas mesmo?”, questionou em uma postagem na sua página de uma rede social. Após a má repercussão da frase, a jornalista, em declarações à imprensa, pediu desculpas a quem se sentiu ofendido e disse não ter preconceito contra ninguém.

“Não adianta ter um monte de leis e ações sociais que partem do governo, sendo que as pessoas não atuam da mesma forma. Não conseguimos nem valorizar profissionais, que são pessoas que estudaram e lutaram para estar onde estão. Nós os julgamos por uma característica física e não por sua competência”, completa Gabriela.

Opinião parecida teve Daniela Boccuto, 17, estudante de Ciências Sociais. Ela afirma que essas atitudes mostram o preconceito racial e a visão elitista que são velados no Brasil. “Todos falam que é um país sem preconceitos, mas trabalham pra um embranquecimento da pele negra das pessoas e na questão de cotas contra negros, afinal existem outras diversas cotas, mas foi contra os negros que deu a confusão”, afirma.

“Luther King tinha um sonho de sociedade justa, que está muito longe de acontecer, pelo menos no Brasil, onde médicos não conseguem aceitar novas mudanças e, ao se deparar com estrangeiros de um país socialista, gritam palavras racistas e ignorantes”, opina Gabriel Almeida, 18, estudante de Análise e Desenvolvimento de Sistemas.

À imprensa, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou que o programa Mais Médicos causa polêmica porque é ousado. Segundo o governo, a iniciativa prevê ainda a expansão do número de vagas de medicina e de residência médica, além do aprimoramento da formação médica no Brasil.


Bianca Giacomazzi, Isabela Souza 
e Leonardo Ferreira (2º semestre)