Podcasts literários ganham destaque nas plataformas de streaming brasileiras

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Clara Leandrini (1º Semestre)

A popular prática de produzir e ouvir podcasts não é algo recente. Suas primeiras influências são datadas de meados dos anos 1980, mas somente durante os anos 2000 essa prática foi oficializada.

O podcast é constituído por um conteúdo gravado, disponibilizado via internet, em que o ouvinte pode escutar em qualquer dia e hora, por quantas vezes quiser. Diferente da programação de rádio, que acontece ao vivo e nem sempre pode ser reproduzida novamente a qualquer momento, o podcast fica disponível para ser ouvido quando for mais conveniente para o ouvinte.

Dentre a infinidade de assuntos abordados nesse tipo de produção, os podcasts literários vem ganhando cada vez mais espaço, apresentando uma nova forma de discutir e analisar a literatura de um modo dinâmico e inovador.

Os escritores Jéssica Balbino e Tadeu Rodrigues, idealizadores e apresentadores do podcast literário Rabiscos, disponível na plataforma de streaming Spotify, contam como a ideia do projeto nasceu e como foi a escolha da literatura como tema central abordado no canal. “Fizemos alguns vídeos entrevistando autores da literatura contemporânea em um festival literário. Deu super certo e, meses depois, Tadeu propôs de fazermos um podcast, porque é mais ‘prático’ do que o vídeo e teria a mesma proposta’’, conta Jéssica.

Ainda sobre a concepção do projeto lançado por eles em 2018, a escritora, e também idealizadora do blog Margens, fala como seu trabalho de mais de 20 anos abordando literatura, em sua maioria marginal/periférica e contemporânea, e a dedicação de Tadeu à poesia e à cultura, como escritor, contribuiu com a escolha de repertório abordado pela dupla no podcast. “Nós falamos de literatura LGBTQIA+, de setembro amarelo, de gordofobia, de machismo, do desastre em Mariana e Brumadinho, de tráfico de drogas, de perdedores, de racismo etc.”, explica Jéssica.

Quando questionada sobre a produção das pautas para cada episódio, Jéssica conta que tudo acontece em um modo freestyle. As pautas vão sendo desenvolvidas ao longo da gravação, quando muitas vezes recebem convidados para seus episódios. Tudo é feito para que o nicho do canal seja atendido da melhor forma possível. “Sobre a seleção dos livros, nós sempre pensamos em algo que tenha engajamento com público que nos ouve, mas que também seja interessante pra gente falar sobre, que tenha a ver com o momento, que case com alguma data específica”, conta a escritora.

Para comemorar os dois anos do podcast no ar, Jéssica idealizou o projeto batizado como OCUPA RABISCOS, inspirado em uma ocupa realizada nas redes sociais de uma amiga, dando espaço para apresentar apenas autoras negras.

O projeto comemorativo funciona em forma de convites, em que um autor convida o outro para apresentar uma obra, tanto nas redes sociais do Rabiscos, como no próprio podcast. “Quase todos com quem entramos em contato toparam fazer parte da ocupa, o que é um grande presente pra nós. Uma excelente forma de comemorar estes dois anos do nosso podcast”, conta a escritora.

Durante o período de pandemia, as atividades do podcast não pararam. Jéssica e Tadeu dedicaram-se a não interromper as gravações, se adaptando ao que o momento pedia. A escritora conta que houve um significativo aumento de público desde o início de março, quando a quarentena foi decretada em todo o país.

Mesmo havendo momentos de dificuldade para continuar o projeto nesse período, Jéssica ressalta a importância de continuar produzindo conteúdo, não só num momento de incerteza causado pelo vírus, mas também pela instabilidade política que o Brasil vive. “Tem sido importante fazer o podcast durante a pandemia. Ele é uma âncora com a realidade e isso é fundamental, sobretudo em tempos tão difíceis e não falo só da Covid-19, mas do governo brasileiro”, comenta.