Bianca Iazigi – (2º semestre)
Muito mais que uma exposição, “Amazônia”, de Sebastião Salgado, foi uma ode ao pulmão do mundo e ao mundo esquecido que foi construído nele. A grande referência feita à Amazônia é a floresta e as comunidades indígenas, e, por esse motivo, o fotógrafo, que trabalha com essa temática há anos, norteou seu projeto pelos dois grandes pólos. Além da apresentação de seu talento e originalidade, o papel exercido foi de conscientização das atrocidades que ocorrem nesses territórios – sobretudo o desmatamento e a negligência dos povos nativos. Os momentos capturados são verdadeiramente comoventes e têm o poder de reacender o espírito humanitário dos brasileiros diante de sua pátria em chamas.
Sebastião Salgado é um dos mais influentes e renomados fotojornalistas da atualidade. Cravou sua marca quando, em 1987, decidiu publicar todas as suas fotos em preto e branco, o que se tornou sua marca registrada. De acordo com ele, a ausência de cores o permite concentrar na personalidade das pessoas, na dignidade, o que traz mais força ao seu trabalho. É muito conhecido por seu engajamento com causas sociais, sendo “Amazônia” uma de suas obras mais consagradas. Os registros foram feitos ao longo de sete anos, durante 60 viagens à região, nas quais capturou paisagens e imagens do dia a dia de 12 comunidades indígenas.
O local escolhido para a exposição de São Paulo foi o Sesc Pompéia, na área de convivência, onde ficou até o dia 31 de agosto deste ano. Foram reunidas 205 imagens, distribuídas ao longo dos corredores e salas circulares postas no meio do ambiente. Elas vagamente remetem às ocas indígenas, nas quais os costumes, a história e o cotidiano de cada comunidade são expostos. Salgado fotografou momentos como a caça, rituais, comemorações, brincadeiras e reuniões familiares, além de tirar retratos muito pessoais de alguns indígenas. Em uma das fotos, ele mostra a estrutura improvisada no meio da floresta, em que um longo pano branco foi montado e erguido para servir de fundo para suas imagens. Ele surge com a ideia de propriamente incorporar a natureza a seu trabalho.
Outra perspectiva muito retratada pelo fotógrafo é a umidade da Amazônia, por mais vago que isso soe. O nome desse fenômeno é “rios voadores”, que são cursos de água atmosféricos que permanecem em forma de vapor – bem conhecidos pelos alunos de Geografia. Assim, os visitantes têm a chance de ver as densas massas de ar carregadas de umidade que flutuam sobre o infinito verde e causam as torrentes amazônicas, as quais ficam muito evidentes nas imagens, ainda mais pela edição em preto e branco. Além disso, as paisagens deslumbrantes das cachoeiras e morros quebram a monotonia das famosas planícies e desdobram a natureza diversa do solo brasileiro. Há muita beleza e todas as fotos geram a sensação de imponentes, mas, definitivamente, congelar o momento em que o arco-íris vai de encontro ao chão é incomparável.
Finalmente, Salgado, além da representação visual, também acrescenta à exposição paredes em que há textos falando um pouco sobre cada comunidade indígena. Por exemplo, fala sobre o Território Indígena do Xingu, no qual vivem mais de seis mil indígenas de 16 grupos étnicos, apresentando algumas curiosidades sobre a disposição das casas, o sistema de integração cultural e as festas. Não tem como não se impressionar com as pinturas corporais desses povos, tão únicas e características, além das vestimentas e os adereços usados por eles, que são um patrimônio nacional que merece mais respeito e valorização. A exposição “Amazônia” já não está mais em São Paulo, porém ficará até dia 29 de janeiro de 2023 no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, com entrada franca, mas que exige agendamento.