“Não compreender (o racismo) é um problema patológico”, diz professor Marcos Silva

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Richel Piva (2º semestre)

Professora Denilde Oliveira

No último dia 11, o coletivo negro da ESPM-SP, Afroria, em parceria com a produtora audiovisual dos alunos da faculdade, Tv Pixel, organizou uma roda de conversa para conscientizar e debater sobre o racismo e o cenário atual, tanto do país, quanto do mundo. A reunião contou com a presença da professora do curso de Relações Internacionais, Denilde Oliveira, e o professor Marcos Silva, do curso de Jornalismo. A conferência realizada na plataforma Zoom contou com a presença de 60 pessoas.

Para contextualizar e informar sobre o assunto, a produtora Tv Pixel produziu um minidocumentário, chamado “Samba para Branco Dançar”, que conta, principalmente, através da música, toda a história negra, as resistências e o principal tema: o racismo. Durante o debate, os participantes do coletivo Afroria fizeram algumas dinâmicas para com que as pessoas brancas pudessem entender seus privilégios e ter uma pequena noção do que é o racismo e como ele acontece.

Uma dessas foi uma brincadeira do “eu nunca”, em que os membros do coletivo colocavam situações que evidenciavam o racismo como por exemplo “ser perseguido em uma loja por causa da sua cor” e perguntavam quem da reunião já havia passado por isso – aquele que já havia passado abaixava um dedo, quem não, permanecia com ele levantado. A maioria dos brancos permanecia com todos os dedos levantados e grande parte dos negros fechava a mão inteira de desigualdades.

Durante o evento, entendeu-se que o racismo é um tema muito difícil de ser falado e aceito pelas pessoas, ninguém gosta ou quer ser chamado de racista, porém nascemos e crescemos dentro de uma estrutura racista, a qual somos ensinados a pensar como uma minoria e uma classe dominante, deixando de lado a realidade. Nas escolas e faculdades, segundo os debatedores, temos um ambiente montado e pensado por brancos para brancos fazerem uso delas.

Com a globalização e a internet grupos que antes eram calados agora conseguem retomar e readquirir a voz que lhes foi tirada durante todos esses séculos, seja no Brasil ou no Mundo. A professora Denilde Oliveira chamou a atenção para o movimento do “Black Lives Matter”, um movimento ativista que teve origem em 2013, nos Estados Unidos, contra a violência direcionada às pessoas negras, que teve grande repercussão recentemente com a morte do norte-americano, George Floyd.

O Brasil também foi impactado pelo “Black Lives Matter”. Para Denilde, o movimento, embora tenha sido o assunto mais comentado no Google Trends, as manifestações ficaram muito mais restritas à esfera digital do que em cobranças efetivas ao governo, empresas e instituições. Para o professor Marcos Silva, houve uma estetização do movimento, ou seja, a aparência – de participar e apoiar – estava valendo mais do que o real sentido e motivação nele presente.

Para que ideias e protestos como esses tenham reflexos ativos na sociedade é preciso que esse ativismo saia da esfera digital, que não dure apenas um mês e depois suma dentro da imensa rede que é a internet. Para que ele tenha consequências e que haja mudanças é necessário que se cobre ativamente quem deve ser cobrado.

O coletivo negro Afroria, da ESPM-SP, é composto por seis pessoas – num universo com mais de oito mil alunos. Mesmo com número reduzido, os integrantes estão tentando mudanças dentro da Escola, uma delas é propor a criação de cotas em seus vestibulares, permitindo assim uma maior diversidade e a retomada de direitos básicos da população, como o acesso à educação.

Professor Marcos Silva

Leia as principais falas ditas durante o debate

“O problema não está na melanina, mas sim na estrutura” (Professor Marcos Silva)

“Não compreender (o racismo) é um problema patológico” (Professor Marcos Silva, em relação a negação do racismo por parte dos brancos)

“Somos vítimas da própria história. Eu sou professor universitário, mas quando sou parado pela policia sou apenas um negro” (Professor Marcos Silva)

“Em que momento olhamos para trás e vimos quem são as pessoas negras à nossa volta?” (Professora Denilde Oliveira, ao contar sua trajetória)

“Onde está o negro? De que África? E de que negro estamos falando?” (Professor Marcos Silva, ao falar sobre como a história ela foi contada e valorizada pela perspectiva europeia deixando de lado o outro lado).

“Vivemos um genocídio da população negra” (Aluna Ana Paula Moreira, membra do coletivo Afroria)

“Quem está às margens da sociedade e quem está no alto padrão?” (Aluna Anna Victoria, membra do coletivo Afroria)

“Presenciamos, passamos por isso (racismo) e temos medo de sermos os próximos” (Aluno Gabriel Santos, membro do coletivo Afroria)