Parto domiciliar divide profissionais de saúde e simpatizantes

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Além de trazer novas responsabilidades à vida da mulher, a decisão de ter um filho envolve diversas tomadas de decisão – e uma delas já divide opiniões entre pais, médicos e outros profissionais de saúde desde os primeiros meses de gestação: a de como realizar o parto. Hoje, cinco métodos são adotados: o normal, o natural, o humanizado, o domiciliar planejado e a cesariana. Entre os quatro primeiros, considerados de menor risco de infecção e com recuperação mais rápida no pós-parto, a modalidade domiciliar é a mais polêmica.

O parto humanizado permite a presença de acompanhantes, a escolha da posição em que a gestante se sente mais confortável e vinda do bebê aos braços da mãe logo após o procedimento,  porém, não é unanimidade por ser realizado fora dos muros das maternidades e hospitais.  Para muitos médicos, o método torna mais difícil o apoio e o resgate à gestante no caso de haver alguma complicação. “Não sou a favor de forma alguma aos partos domiciliares, já bastam os riscos que enfrentamos no âmbito hospitalar, a obstetrícia é uma especialidade de urgência”, argumenta a ginecologista e obstetra Elisabete Durão.

Segundo a médica, mãe e filho podem precisar de cuidados só possíveis de serem feitos dentro de um hospital. Transfusão de sangue, por exemplo, caso ela tenha uma hemorragia durante o parto, ou se o bebê precisar ser reanimado. “O feto é uma caixinha de surpresas, pode estar bem dentro do útero e nascer mal.”

“A medicina evoluiu para proporcionar segurança com tecnologias de ponta onde antes do problema acontecer o diagnóstico já pode ser previsto. Quando a gente previne, os acidentes são evitados e os riscos são amenizados”, enfatizou a obstetra.

Para outros profissionais que lidam com o período pré-natal, no entanto, a modalidade possui diversas vantagens. “Nesse formato, o parto pode acontecer na casa da mulher ou de alguém que ela escolher, como a da mãe, por exemplo. Por ocorrer em um ambiente despido da tecnologia, tem mais possibilidades de ser realmente humanizado”, afirma Priscila Cavalcanti, instrutora de Yoga para gestantes e doula – profissional que dá apoio emocional e físico para as futuras mães.

Segundo Priscila, o conceito de humanização pressupõe, antes de tudo, a adequação do parto às necessidades e expectativas da mulher. “Tudo está ligado ao respeito pela fisiologia e pelo ritmo do parto, de forma que se possa realizá-lo nas condições ideais para a gestante – por exemplo, se ela quiser dar à luz de cócoras ou dentro da banheira.”

“As maternidades de ponta em nossa capital contam com ambientes acolhedores e individualizados na presença do familiar e sempre monitoradas para que, se houver alguma intercorrência, teremos todo aparato para socorrer o paciente”, diz Elisabete, tentando convencer as mulheres que dizem optar pelo parto domiciliar por achar os hospitais pouco acolhedores.

Se, por um lado, os médicos são contra a realização do procedimento fora do aparato tecnológico dos hospitais, os ativistas do parto domiciliar também têm seus argumentos. Uma das defesas é argumentar que o lar é o ambiente onde as gestantes se sentem mais seguras, mais acolhidas, onde têm mais privacidade e onde as coisas podem ser mais “do jeito delas”. “O parto domiciliar é
livre de intervenções e nele o trabalho de parto dura o tempo que tiver de durar. Assim, o bebê nasce em seu tempo, da maneira mais fisiológica possível”, afirma Priscila.

Giovanna Mazzeo (2º semestre)