Página no Facebook denuncia preconceito em casas noturnas do Brasil

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“A cada dia surgem mais relatos de discriminação em casas noturnas. Queremos o fim dessa discriminação opressora!”. É com essa frase que a página no Facebook Boicote Mix começa sua descrição, uma explicação de seus objetivos e suas visões sobre as casas noturnas mais frequentadas do Brasil.

Criada no começo de agosto de 2015, com o nome de Boicote Ao Villa Mix, a agora chamada Boicote Mix atingiu a marca de 20 mil curtidas na rede social com pouco mais de um mês de existência. “É estranho esse momento dos 5 minutos de sucesso da página, queremos manter assim e crescer mais”, diz Luísa Manzin, estudante de Comunicação e Multimeios na PUC-SP, uma das criadoras da página.

Administrada por dez meninas, as jovens se revezam para realizar as funções da Boicote Mix, como publicar denúncias, responder mensagens e dar entrevistas. Postando quase diariamente, suas administradoras conseguiram chamar a atenção de grandes veículos. A rádio Jovem Pan, a revista Veja, o portal Catraca Livre e a emissora SBT, entre tantos outros meios, ajudaram na repercussão da causa.

Discriminação

Os relatos publicados pela Boicote Mix são enviados anonimamente por pessoas que já tenham sido vítimas ou tenham presenciado atos de discriminação nas mais famosas baladas de São Paulo e do Brasil. Da mesma forma, algumas postagens foram enviadas por ex-funcionários das casas noturnas, que confirmam e explicam como ocorre a seleção daqueles que podem ou não entrar nas festas.

 

 

 

“Muitas pessoas que estão dispostas a pagar para entrar nas casas noturnas são discriminadas e barradas por não estarem no padrão de beleza da casa”, reafirmam as organizadoras página. Desde de denúncias de ameaças e abusos verbais até agressões físicas, as histórias compartilhadas pela Boicote Mix são de racismo, homofobia, gordofobia, objetificação da mulher e, principalmente, seleção através de padrões de beleza.

 

 

 

O engajamento das organizadoras é muito presente na página, que publica textos e vídeos de sua autoria, discutindo suas opiniões sobre os padrões da sociedade. “Eles garantem o ‘nível alto’ de beleza e mulheres ao invés de promover uma noite agradável para todos, independente do custo. E isso gera a discriminação. Essa luta, além de uma luta pelo fim da discriminação nas casas noturnas, é de quebra dos padrões. (…). Diga não à discriminação e padrões. Diga sim à diversão para todos, não importando sua cor, peso ou roupa.”

 

Ministério Público

 

Desde o início, a página volta sua atenção para as denúncias de discriminação de casas noturnas. O público que as organizadoras pretendem atingir é aquele que frequenta as baladas que praticam esses crimes. Trazendo à tona um assunto que havia sido investigado há alguns anos atrás sem resultados, as administradoras da página levaram as denúncias ao MP-SP, que abriu um inquérito civil para investigar a casa.

Segundo o inquérito, “(…) a análise dos documentos juntados demonstra a prática reiterada de discriminação racial, social e estética por parte da representada. Essa escolha de “quem entra e quem não entra” tem a função de segregar e marcar a divisão entre pessoas que, embora morem na mesma cidade, não possuem a mesma classe social, a mesma cor de pele, o mesmo peso, ou a mesma beleza considerada como ideal pela representada. É evidente que a mencionada prática é discriminatória e fere os princípios constitucionais da igualdade e da dignidade da pessoa humana (artigos 1º, inciso III e artigo 5º, caput, da Constituição Federal)”.

O procedimento, de acordo com Izilda Lima, do Núcleo de Comunicação Social do órgão, está em andamento desde agosto deste ano.

Em nota oficial, a assessoria de imprensa da casa noturna Villa Mix afirmou que é contra qualquer tipo de discriminação:

“O Villa Mix São Paulo informa que está estudando, junto aos seus advogados, a página denominada “Boicote ao Villa Mix”, criada no Facebook, com acusações consideradas difamatórias. Desde a sua fundação, o Villa Mix preza pela qualidade de sua programação e conforto de seus clientes, trabalhando com nomes na lista e reservas antecipadas. Preocupada com a segurança do público, a casa não ultrapassa sua lotação máxima – o que pode gerar filas na porta e a impossibilidade de entrada de mais pessoas. Por fim, a casa afirma que é contra qualquer tipo de discriminação e não compactua, de forma alguma, com o que tem sido exposto na página mencionada”.

Julia Gianesi (2º semestre)