Mulheres repercutem polêmica: Belas, sim. Recatadas, nem tanto

Share

“Não tenho medo de expressar o que quero, ir pra onde quero ou vestir o que quero”, acredita Amanda Cardoso, 18 anos. (Foto: arquivo pessoal)

No dia 14 de abril, a revista Veja publicou uma matéria sobre Marcela Temer, esposa do vice-presidente da República Michel Temer, com o título “Bela, recatada e do lar” (http://abr.ai/26cXQ2b). A publicação gerou polêmica, e não era para menos.

Movimentos feministas e iniciativas individuais não gostaram nada da reportagem. Nas redes sociais, centenas de mulheres se posicionaram diante da matéria da jornalista Juliana Linhares.

Paola Zanon, 22 anos, se sente livre “para poder fazer o que quiser”. (Foto: arquivo pessoal)

 

A reportagem do Vila Mariana ouviu mulheres da região sobre o caso. A estudante de Jornalismo do Mackenzie, Isabella Bisordi, acredita que a matéria repercutiu tanto pois é chocante ver um dos veículos de maior circulação do país impondo padrões a serem seguidos pelas mulheres – “algo que o feminismo vem lutando contra há décadas”, afirma ela. Já a estudante de Rádio e TV da Cásper Libero, Dalva Kohl, diz que “a matéria em si não teve tanta repercussão, mas sim a reação e a ´campanha` em consequência do texto”.

 Ao serem questionadas sobre a posição da revista e da jornalista autora da matéria, a opinião das entrevistadas é quase unânime: uma revista conservadora não apoiaria o movimento de minorias. “Achei a matéria machista, irônica e me senti bastante ofendida em quanto mulher. Podemos e devemos ser aquilo que quisermos ser”, desabafa Victoria Amato, estudante de Direito da PUC-SP.

 

Dalva Kohl, de 19 anos, se considera “boca aberta”: “Vivo falando e dando a minha opinião nas coisas, se eu não gosto de algo já faço o maior barraco”. (Foto: arquivo pessoal)

Nana Soares, jornalista especializada em temáticas de gênero e violência contra a mulher, criticou no seu blog do Estadão a publicação da Veja: “A matéria é bem problemática, justamente porque trouxe uma visão de mundo de décadas atrás. Não por uma mulher ser bela, recatada e do lar, mas por qualificar (sic) como sendo somente essas dignas de valor, ao dizer que, por sua mulher ser assim é que Michel Temer é um homem de sorte”.

Isabella Bisordi, 21 anos, está sempre lutando pelo seus direitos “e de todas as mulheres de serem livres e respeitadas, mesmo não sendo belas, recatadas ou do lar”. (Foto: arquivo pessoal)

 “Quanto à jornalista, espero que ela tenha entendido o porquê de toda a repercussão. Ela também é mulher e merece ser o que bem quiser, e tomara que a polêmica tenha servido para que ela entenda o quanto é errado enaltecer determinado padrão”, diz Isabella. A editoria da Vila Mariana entrou em contato com a repórter que escreveu a matéria, Juliana Linhares, mas ela não quis se pronunciar.

 Para Amanda Cardoso, estudante de Publicidade da Cásper Líbero, ser bela, recatada e do lar não torna nenhuma “mulher menos mulher”. O grande problema da matéria foi rotular esse estereótipo como o da mulher perfeita. Paola Zanon, também da Cásper, concorda: “Ser bela, recatada e do lar não é escolha consciente. É uma imposição da sociedade patriarcal e a mulher acredita que, sendo assim, ela será aceita pela sociedade”.

Victoria Amato, 21 anos, se considera uma mulher livre. (Foto: arquivo pessoal)

 Quanto mais for imposto às mulheres que para serem respeitadas, devem ser belas, recatadas e do lar, mais irão desmerecer a luta feminista. Isabella termina: “Vamos ser cada vez mais o que quisermos, e não o que esperam de nós. ”

Por Giovanna Lunardelli, Júlia Ciriaco e Julia Pino (3º e 4º semestres)