Montagem ilustra como o aumento de temperatura pode afetar o planeta. Fonte: ONU.
Nicole Micheletti – 1º semestre
“Temos dois anos para salvar o planeta”. Esta declaração é de Simon Stiell, secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, realizada no dia 10 de abril de 2024, em Londres. É uma das fortes afirmações que o alto escalão da ONU tem realizado para chamar a atenção da opinião pública sobre as mudanças climáticas.
Stiell segue a linha do secretário-geral da instituição, António Guterres, que tem utilizado recorrentemente o mesmo estilo enfático sobre a questão climática. Durante a COP 27, na Conferência das Partes no Egito, em 2023, o português disse que a sociedade está no caminho para o “inferno climático”; que o novo termo a ser utilizado para tratar o aquecimento global devia ser “ebulição global”; em novo depoimento, Guterres atualiza novamente o termo para “fervura global”, indicando que a questão climática teria se tornado crítica.
A equipe do Portal buscou o geógrafo Maximiliano Engler, formado pela Unesp, para compreender se as afirmações anteriores são corretas ou não. Ele acredita que os termos utilizados tanto por Guterres quanto por outros analistas e estudiosos do assunto se devem a uma tentativa de alertar a população sobre a crise climática que está iminente: “Uma vez que a situação vem piorando ano a ano, se o mundo não mudar seus comportamentos perante a natureza, chegará um momento que os seres humanos não poderão fazer nada para reverter a situação”, afirma.
Independente do termo utilizado, é consenso entre os cientistas que estudam mudanças climáticas que a temperatura média do planeta está subindo, devido à queima de combustíveis fósseis. Já se nota o fenômeno nos dias atuais, com os primeiros meses de 2024 como os mais quentes da história do planeta.
Frases como as dos dirigentes da ONU buscam chamar atenção ao atual desafio climático, o de manter a temperatura média do planeta em até 1,5°C acima dos níveis registrados depois da Revolução Industrial. Caso isso não seja alcançado, o clima da Terra pode chegar ao que climatologistas chamam de “ponto de não retorno”, uma condição bioquímica que não será mais possível reverter as causas e consequências do aquecimento global. Se isso ocorrer, a “era da ebulição global” não será apenas uma frase de efeito.
Cronologia dos depoimentos enfáticos de Guterres sobre aquecimento global
02/12/2019 – Secretário-Geral da ONU António Guterres pede um fim à “guerra contra a natureza”;
07/11/2022 – “Estamos no caminho para o inferno climático”, alerta Guterres na COP 27;
27/07/2023 – “A era do aquecimento global acabou. A era da ebulição global chegou”
– “A consequências são claras e trágicas: crianças sendo levadas por enchentes, famílias fugindo de incêndios, trabalhadores desmaiando no calor escaldante”, declara Guterres em coletiva de imprensa.
26/02/2024 – “O nosso planeta está à beira do precipício. Os ecossistemas estão em colapso”, disse Guterres em vídeo apresentado na abertura do encontro da Unea-6.
10/04/2024 – “Temos dois anos para salvar o planeta”, alerta Simon Stiell, responsável pelas COP, da ONU.
Esta matéria faz parte do Climajor, laboratório do curso de jornalismo da ESPM-SP, que capacita alunos para a cobertura das mudanças climáticas.