Movimentos antirracistas ganham força no Brasil

A ativista Juliana Moreira

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Júlia Etrusco e Athos Sacilotto (1º semestre)

 

A morte de George Floyd causada pela violência policial no dia 25 de maio, em Minneapolis, Estados Unidos, reacendeu discussões sobre racismo ao redor do mundo. O Brasil foi um dos países que se comoveu com a morte do estadunidense, o que incentivou manifestações contra o racismo e a favor da democracia. O Portal de Jornalismo da ESPM entrevistou a ativista da causa negra e estudante de Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais, Juliana Moreira.

A história brasileira é marcada pela violência policial e exclusão social de negros. Segundo dados do Atlas da Violência de 2019, a taxa de homicídio de negros (pretos e pardos) por grupo de 100 mil habitantes foi de 43,1 enquanto a de brancos, amarelos e indígenas foi de 16,0. Além disso, de acordo com uma pesquisa do Datafolha realizada em 2019, 51% da população brasileira não confia em instituições de segurança brasileira, como a polícia.

A violência contra os negros no Brasil acontece, segundo Juliana Moreira, principalmente, devido ao racismo estrutural. De acordo com a estudante, a sociedade brasileira foi moldada pela estigmatização dessa minoria e, com isso, as instituições como a polícia não estão isentas desse preconceito. “Todo o estigma que o racismo imputa aos indivíduos negros  (que são inferiores aos brancos, que são violentos, que são favelados, que são pobres…) faz com que eles sejam alvos da polícia e, desse modo, os policiais inconscientemente reproduzem todo esse racismo e preconceito”, alerta Juliana.

Além disso, a estudante também acredita que a morte do estadunidense George Floyd foi responsável por causar mais comoção nos brasileiros do que a violência policial cotidiana. A entrevistada atribui a comoção popular à mídia americana, que noticiou amplamente os protestos que ocorreram nos Estados Unidos. “No Brasil, morrem mais negros do que nos EUA. Essas vidas já viraram estatísticas, não comovem e nunca comoveram as classes privilegiadas, visto que, infelizmente, essa classe não tem empatia e compaixão pelas vidas de pessoas faveladas e negras”.

Os protestos antirracistas e contra a violência policial, iniciados nos Estados Unidos, foram responsáveis por colocar em pauta a estigmatização de negros. Apesar disso, de acordo com a estudante, a vigilância da causa negra deve ser constante e não momentânea. “O governo já implantou algumas medidas muito importantes, como as cotas. Agora, acerca da conscientização sobre o racismo, seria interessante, por exemplo, tornar obrigatório a discussão desse tema e da cultura negra na grade escolar”, ressalta. Por fim, a estudante aponta que a luta antirracista não pode ser apenas de negros. “Os indivíduos não negros podem contribuir para a conscientização da luta antirracista a partir da auto conscientização”.