O Metropolitano de São Paulo, ou apenas Metrô, completa 50 anos em 2024. Foto: Júlia Peres
Júlia Peres (1º semestre)
Em 4 de setembro de 1974, quase um século após a inauguração do primeiro metrô do mundo em Londres, a novidade chegou ao Brasil, na cidade de São Paulo. Com a inauguração da sua primeira linha de metrô, que hoje é conhecida como Linha 1-Azul, o país deu um passo importante na mobilidade urbana, ligando Jabaquara à Vila Mariana.
Com apenas 7 km de extensão no início, o sistema cresceu ao longo das décadas. 50 anos depois, conta com 6 linhas e 104,4 km de extensão, atendendo mais de 5 milhões de passageiros diariamente. Com destaque para a estação da Sé, com as linhas 1-Azul e 3- Vermelha, que é a mais movimentada, recebendo mais de 415 mil usuários por dia.
Também é na Sé que é localizada a Central de Achados e Perdidos (CAP). O local recebe centenas de objetos que são deixados nas diversas estações de metrô de São Paulo. O serviço é coordenado por Rodrigo Mori Coelho, supervisor da central, e se tornou essencial para reconectar passageiros com seus pertences e, às vezes, até mesmo com suas próprias vidas.
Achados e Perdidos
O setor começou os trabalhos em junho de 1975, um ano após a inauguração da primeira linha do metrô. De lá para cá, o serviço tem se aprimorado, adaptando-se às mudanças tecnológicas e às necessidades dos passageiros.
De acordo com Coelho, a central recebe cerca de 300 objetos por dia, o que resulta em uma média de 6 a 7 mil itens por mês. “Os objetos esquecidos nas estações são cadastrados, recebem um número de identificação e, uma vez por semana, recolhemos esses pertences e os trazemos para a nossa central, na estação Sé”, explica o supervisor.
A equipe realiza uma busca ativa para tentar localizar os donos, utilizando o máximo de informações disponíveis, como características visuais dos itens ou qualquer identificação. Quando conseguem algum dado, os funcionários utilizam desde as redes sociais até cartas para tentar entrar em contato. A partir de 2010, o processo foi modernizado, agora é possível fazer a pesquisa desse objeto no sistema informatizado. Antes disso, todo o processo era feito manualmente, o que limitava a agilidade da equipe.
O que acontece com os objetos?
Após serem registrados e guardados, os objetos ficam na central por um prazo de 60 dias. Caso o dono não apareça nesse período, eles são encaminhados ao Fundo Social de São Paulo para doação ou leilão, sendo tudo revertido para causas sociais. “Documentos e itens que não podem ser doados, são descartados de maneira adequada. Medicamentos, por exemplo, são enviados a postos de saúde, e documentos, para órgãos públicos”, detalha Rodrigo.
Objetos mais comuns
Entre os itens mais encontrados estão carteiras, documentos e bilhetes de transporte, seguidos por mochilas e celulares. Embora os celulares não sejam os mais esquecidos, são os itens que a central toma mais cuidado ao devolver, representando cerca de 50% a 60% das devoluções.
A sazonalidade também influencia o tipo de item que chega ao setor de achados e perdidos. Em época de frio, casacos e roupas de inverno são comuns, enquanto guarda-chuvas aparecem em grande quantidade nos dias chuvosos. “O que mais recebemos são objetos do cotidiano dos passageiros”, afirma Rodrigo.
Museu de objetos inusitados
Mas nem só de objetos comuns vive o Achados e Perdidos do Metrô de São Paulo. A variedade de objetos é impressionante. “Já recebemos próteses de perna, dentaduras, muletas, bengalas, cadeiras de rodas, tábuas de passar roupa e até fogões”, lembra o supervisor. Outro exemplo curioso é a quantidade de malas esquecidas, algumas cheias de itens incomuns, como ferros de passar e chapinhas. Coelho ainda comenta que já tiveram casos em que deixaram até mesmo a mudança inteira de casa para pegar depois.
Com todas essas histórias, a CAP criou um museu com uma coleção dos objetos mais inusitados encontrados. A coleção começou a funcionar no novo posto de atendimento da Central de Achados e Perdidos, inaugurado na última quinta-feira (17). O acervo inclui diversos itens curiosos, como aparelhos musicais, chapéu mexicano, quadro de moedas olímpicas, notas de vários países e até a imagem de São Longuinho, o padroeiro dos objetos perdidos, o que traz uma certa dose de ironia para a história da central.
Final feliz
Entre tantas histórias, uma em especial se destacou para Rodrigo e sua equipe. Danilo, um jovem vindo recentemente do interior, foi assaltado logo após chegar a São Paulo. No estado de choque, acabou esquecendo todos os seus pertences na estação de metrô. Sem documentos, sem contato dos familiares e desorientado, ele foi parar na rodoviária, onde não pôde ficar por muito tempo e foi encaminhado a um albergue.
A equipe do Achados e Perdidos, ao tentar localizar o dono dos itens deixados, conseguiu entrar em contato com sua família, que estava a sua procura sem saber o que havia acontecido. A partir desse contato, eles conseguiram encontrá-lo no albergue e promoveram um emocionante reencontro. “Foi a primeira devolução de uma pessoa”, relembra Coelho, ressaltando o papel essencial da CAP para esse desfecho.
Embora haja épocas de maior ou menor demanda – como nas férias de julho e janeiro, quando a quantidade de objetos perdidos diminui – o trabalho contínuo da equipe é fundamental para devolver não apenas objetos, mas também memórias e restabelecer conexões pessoais.
O serviço de achados e perdidos do metrô de São Paulo funciona de segundas às sextas das 7h até as 20h, na estação da Sé.
Veja na galeria a seguir imagens da cobertura do Portal sobre o Metrô e o CAP.