Memórias do fotojornalismo – Rémi Ochlik

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Fernanda Pimentel Delgado – (2º semestre)

O fotógrafo, diariamente, escolhe e sofre as consequências por registar a realidade através do clique, fundamentado sempre na ética, na consciência e no valor. Este é um trabalho duro e sofrido que é enfrentado todos os dias com a missão de escancarar uma realidade, uma verdade, que não seria vista se não eternizada e capturada na imagem.

Rémi Ochlik morreu aos 28 anos, contando através da lente de sua câmera atrocidades de uma realidade distante e inimaginável. Seu trabalho? Fotógrafo de guerra. Sua história começou cedo, em 2004, com apenas 20 anos, quando viajou ao Haiti e fotografou a queda do presidente Jean-Bertrand Aristide, ganhando o Prêmio François Chalais para Jovens Repórteres. Então, abriu sua própria agência, a IP3 press, especializada em fotografia de combate. Sempre no meio da tensão e da ação, Ochlik cobriu o conflito na República Democrática do Congo em 2008 e em 2010, voltou ao Haiti para relatar a epidemia de cólera. Passado um ano, o profissional notavelmente cobriu as revoluções de 2011 na Tunísia, Egito e Líbia; tendo seu trabalho na Líbia ganhado o primeiro prêmio na categoria Notícias Gerais do concurso World Press Photo, que foi descrito como imagens que contavam uma história completa.

A própria história de Ochlik o levou à Síria apenas uma semana antes de ser morto, em fevereiro de 2012. Mesmo jovem, o fotojornalista compreendia os riscos da profissão que escolheu. Ele sentia o perigo, mas era onde queria e sonhava estar. Seu trabalho permitiu que o mundo testemunhasse  atrocidades de uma vida sofrida e cruel, que por fim, acabou interrompendo a vida do talentoso contador de histórias, em um momento em que sua própria história mal havia começado.

Rémi Ochlik, é mais um exemplo de que por trás da câmera, há um ser-humano extremamente sensível: membro de uma família, um amigo querido ou um trabalhador, que age de modo leal à sua própria verdade e realidade, refletindo seu olhar sobre o mundo. Relata a passagem do ser-humano, sua existência no cotidiano e o tempo-espaço em que se encontra, por isso tem uma visualização do social muito apurada, além do interesse pela vida como ela é. Atua como um tradutor que democratiza todas as experiências ao traduzi-las em imagens, transcodificando conceitos em cenas. A foto é o instante entre duas histórias: a que a fez chegar naquele momento e a criada a partir dela. Assim, o fotojornalista tem um papel importantíssimo de distribuição da consciência, que mesmo tão jovem, Rémi Ochlik atingiu. Consciência que faz com que cada um esteja ciente do mundo ao seu redor, compreendendo seu lugar enquanto cidadão e o impacto de suas decisões diárias em um contexto geral.