Liga homossexual combate o preconceito no esporte

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Com cada vez mais integrantes, os Unicorns são uma liga esportiva homossexual que oferece treinos diversos e o desejo de abraçar outras minorias

Pedro Gariani e Márcio Dumont – respectivamente e no meio – com amigos durante o treino de funcional. Foto: Bárbara Fava.

A cultura machista do futebol brasileiro e a homofobia nas escolas afastam uma grande parcela dos gays da prática esportiva desde cedo. O grupo Unicorns surgiu em 2015 como resposta à antiquada ideia de que “futebol é coisa para macho”, desenvolvendo a primeira equipe amadora composta unicamente por homossexuais. Quebrando tabus e combatendo as barreiras do preconceito, o grupo esportivo ganhou cada vez mais espaço e participantes. Um choque de interesses entre alguns integrantes foi um dos pontos de partida para que o grupo seguisse os caminhos para além do treino de futebol às quartas-feiras.

Desde o ano passado, o Unicorns passou a reunir pessoas que tinham interesse pela corrida e/ou pelo funcional no Parque Ibirapuera, inaugurando um novo ambiente no grupo, tornando-se mais um lugar onde poderiam se comportar como bem entendessem. “Eu era atleta de natação, então sempre tive uma ligação muito forte com o esporte. Mas sou zero fã de futebol”, conta Pedro Gariani, 23. O publicitário é um dos responsáveis pelo crescimento poliesportivo do grupo. “Eu disse para os meninos (Bruno Host e Filipe Marquezin, os fundadores do time) que também devem ter no grupo gays, como eu, que não gostam de futebol, mas que gostariam de fazer outras coisas. Sugeri de a gente pensar em expandir e ter outros esportes para atender essas pessoas. Como a gente já corria junto, veio a corrida primeiro. Um mês depois começamos com o funcional. Hoje temos 50 inscritos no sábado e 30 na quarta-feira”.

Márcio Dumont, 30, também participa do Unicorns pela corrida e funcional. O engenheiro conta que, após uma discussão durante uma partida de futebol, homens heterossexuais foram vetados de jogar com os unicórnios, mas garante que nos treinos no Ibirapuera todos são bem recebidos. “Na corrida e no funcional tem de tudo. É, realmente, um grupo aberto porque não existe um processo seletivo, é simplesmente um espaço que você vem para se divertir, fazer esporte, ter uma vida mais saudável e conhecer pessoas novas”, complementa.  “A ideia é se reunir e ter a liberdade de brincar com o outro, gritando um ‘ô, bixa!’, ‘corre mais, viado!’ quando quisermos”.

 

Repercussão

Os unicórnios receberam muita atenção da mídia no ano passado. “A gente teve uma repercussão grande, saímos nos principais veículos de comunicação. Isso foi muito bom para a visibilidade do grupo”, frisa o publicitário. Gariani conta que na medida em que o grupo ganhou relevância e acabou por engajar mais pessoas, uma possível parceria tornou-se mais interessante para algumas marcas. “A Adidas viu um potencial no nosso grupo, hoje eles são nossos parceiros e temos seis treinos mensais com eles”, conta. Os treinos abertos fazem parte do projeto “Adidas Runners”, onde qualquer fã de corrida pode participar.

Mesmo com a importante e necessária ajuda, o Unicorns sente que existe certo distanciamento entre a marca e eles, já que há pouca divulgação por parte deles do projeto em si nas mídias sociais da marca. “É muito mais a gente se associar à imagem deles do que eles à nossa. Não existe uma divulgação em massa”, comenta o publicitário.

 

Inclusão

Junto do caráter leve, da brincadeira e do desenvolvimento de um espaço em prol da diversidade e diversão, o grupo levanta a bandeira da resistência. Para eles, a exclusão e o preconceito são coisas sérias e o grupo possui a preocupação de pouco a pouco criar um ambiente cada vez mais favorável a outras minorias que ainda não se uniram ao Unicorns. “Infelizmente ainda não temos nenhuma trans no grupo, por exemplo, mas esperamos que em um futuro próximo elas sintam vontade de chegar aqui e treinar como qualquer outra pessoa”, comenta Pedro Gariani.

Um dos projetos de integração é o recente trabalho social que o grupo oferece para a Casa Florescer, um espaço que acolhe mulheres transexuais e travestis em situação de vulnerabilidade, no Bom Retiro, em São Paulo. Os unicórnios arrecadaram alimentos para a casa que abriga e atende às demandas de cerca de 30 mulheres que foram excluídas da sociedade. Gariani garante a sede e disponibilidade do grupo em trazer essa mudança para os Unicorns. “Estamos formatando algo mais estruturado, mas a disposição e a vontade de fazer acontecer já existem”, afirma o publicitário.

 

Integrantes do Unicorns treinando funcional no Parque Ibirapuera, em São Paulo. Foto: Bárbara Fava.