Jornalismo de dados pode ser solução para para demanda de transparência pública

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Jornalistas contam bastidores de reportagens e projetos de dados no 20º Congresso de Jornalismo Investigativo da Abraji (Foto: Luciana Vassoler/Abraji)

Luiza Vezzá (7° semestre)

O jornalismo de dados tem suas raízes na reportagem com auxílio de computador (RAC), surgida na década de 1960. Essa prática está alinhada ao conceito de “jornalismo de precisão”, que integra o uso de computadores e métodos das ciências sociais na apuração jornalística. Longe de ser um substituto para o jornalismo tradicional, o jornalismo de dados atua como um poderoso complemento.

Nos últimos anos, o cenário geopolítico mundial deparou-se com líderes autoritários, que protagonizaram fortes ataques à imprensa e à sua credibilidade. No 20º Congresso de Jornalismo Investigativo da Abraji, que aconteceu entre os dias 10 e 13 de julho na ESPM-SP, dentre inúmeras palestras e oficinas, identificou-se um questionamento comum: frente à esse cenário, quais são as previsões para o futuro? 

Uma demanda global por maior transparência pública, impulsionada principalmente pelos movimentos de dados abertos e “Open Government” é a matéria-prima essencial para o jornalismo de dados, permitindo que os jornalistas acessem e utilizem grandes volumes de dados governamentais e públicos para suas investigações e análises.

É por isso que muitos jornalistas apostam no jornalismo de dados para os próximos anos. Ele atende a um público crescente que exige análises aprofundadas e baseadas em dados, otimizando a apuração com o uso de tecnologias para transformar grandes volumes de informações em narrativas claras e envolventes. 

Para Pedro Caramuru, consultor de relações governamentais e especialista econômico, uma das principais justificativas para a ascensão do jornalismo de dados está em sua capacidade de reconquistar e engajar um público que, por diversas razões, tem se distanciado do consumo de notícias. 

Além de sua relevância para o público, o jornalismo de dados desempenha um papel crucial no aprimoramento da própria qualidade da informação. Em territórios onde jornalistas por vezes se limitam a declarações de figuras públicas ou grandes empresas, o uso de dados permite uma apuração mais aprofundada, transformando dados brutos em insights e revelações que independem de uma entrevista exclusiva. 

“Em Alagoas a gente tem uma coisa de muito jornalismo declaratório, que não tenta apurar, ou apura muito pouco. Exatamente pelo grande número de informação disponível, de estatística, saber trabalhar com bases de dados está se tornando uma coisa importante até para a apuração de matérias que seriam consideradas convencionais”, explica Lucas Maia, jornalista da Agência Tatu.

Mas, existem barreiras para a implementação desse tipo de jornalismo nas redações. O convencimento das equipes jornalísticas e das direções sobre o tempo e o esforço que essa prática exige é uma delas. Diferentemente da apuração tradicional, que muitas vezes tem começo, meio e fim em poucas horas, o tratamento e a análise de dados demandam um conhecimento técnico específico e um período de investigação consideravelmente mais longo. Projetos de jornalismo de dados podem levar meses ou até anos para serem concluídos, o que representa um obstáculo em redações que operam sob a pressão constante de prazos diários.

Outro impedimento é a escassez de recursos financeiros e a falta de investimento. Embora haja reconhecimento sobre o espaço e o valor do jornalismo de dados na imprensa, a realidade orçamentária de muitas organizações jornalísticas limita a alocação de fundos para projetos de longo prazo e para a contratação de profissionais com as habilidades técnicas necessárias para lidar com grandes volumes de dados.

Fabiana Moraes, jornalista, doutora em Sociologia e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), destacou no Congresso da Abraji um cenário adverso para o jornalismo no meio digital. Segundo ela, dentro das redes, o jornalismo entra numa disputa por atenção em ambientes digitais muito ruidosos. Ela ressalta a importância de “informar graficamente” os leitores como um meio de contornar este cenário. Uma das formas de fazer isso, é usando a visualização de dados. 

O jornalismo de dados é um meio de democratizar a informação, simplificar informações complexas, para que a sociedade tenha capacidade de compreender o funcionamento de esferas distantes. A jornalista Nathalia Mendes, analista de comunicação na Transparência Brasil, explica: “Mostrar para uma pessoa que existe um portal da Transparência da Câmara Municipal com as proposições que eles apresentam não é uma informação acessível. Agora, se eu crio isso de uma forma visualmente agradável e envolvo essa pessoa em uma narrativa, mostrando porque isto é importante, isso faz diferença”.