Inovação e tecnologia caracterizam novos negócios em jornalismo, dizem palestrantes

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Profissionais que estão à frente de projetos criados nos últimos anos contam como conseguiram viabilizar suas ideias – Foto: Vicente Ricardo

Julia Faria e Vicente Ricardo (1º semestre)

A segunda mesa do 6° Seminário Internacional de Jornalismo, realizada no fim da manhã de hoje, dia 22 de setembro, abordou o tema “Novos negócios em jornalismo: inovação e possibilidades”. Conrado Corsalette, cofundador e diretor de redação do jornal digital Nexo, Helena Bertho, diretora de conteúdo da revista digital AzMina, e Mara Luquet, fundadora e CEO do canal MyNews, partilharam suas experiências na criação de produtos e empresas, destacando o papel da inovação e das tecnologias digitais nesses processos. A mediação ficou por conta do professor Antônio Rocha Filho, da ESPM.

A primeira a palestrar foi Luquet. Ela enfatizou que a internet alterou os parâmetros tradicionais do jornalismo, introduzindo possibilidades mais flexíveis. Diferentemente do que ocorreu em décadas passadas, quando os jornalistas enxergavam a tecnologia como uma “grande vilã”, a mídia digital já é considerada uma “grande aliada”, com o poder de potencializar a veiculação de informações e de oferecer oportunidade de produzir jornalismo de diferentes formas.

O projeto do MyNews foi iniciado com patrocínio de grandes e pequenas empresas. Porém, devido à pandemia, as parcerias foram cortadas, surgindo a necessidade de buscar outras maneiras de manter o negócio. Dois exemplos foram citados: um apoio oferecido pelo YouTube, que monetiza projetos jornalísticos independentes, e os assinantes.
A partir das saídas encontradas, começaram a produzir conteúdos exclusivos para essas pessoas, com o objetivo de ampliar o público. O canal conta com 600 mil inscritos no YouTube, e a meta é que pelo menos 4% deles sejam assinantes. “Tem também o ‘super chat’, que são as pessoas que mandam dinheiro para ajudar no financiamento do projeto. Estamos estudando como desenvolver isso melhor”, acrescentou.

De projeto social a negócio sustentável – Bertho contou que AzMina era, inicialmente, um projeto social, sem fins lucrativos. Com o objetivo de mudar o jeito como a figura feminina era colocada pela mídia, ela e suas sócias, compartilhavam o desejo de fazer algo que impactasse o mundo. No começo, não visavam o aspecto financeiro, o que mais tarde acabou se tornando uma demanda, pela falta de sustentabilidade. O desafio que encararam foi o de aprender na prática a organizar, inovar e se estruturar financeiramente para que a revista pudesse se manter na proposta de emancipação feminina.
“Fazemos notícias para que as mulheres possam se emancipar e serem agentes da mudança e que tenham noção de seus direitos. É claro que os homens precisam participar do debate de gênero. Nós até tentamos [incluir os homens], mas não é o nosso foco”, explicou.

Uma das estratégias adotadas por AzMinas foi a criação de um aplicativo e de projetos que não estão relacionados apenas ao jornalismo em si, mas à tecnologia de dados. As fontes de recursos a que recorrem e que foram descobrindo com o tempo e a prática são diversas, como o Google, as fundações, as empresas e os assinantes. “Tem sempre que estar inovando, não apenas com a tecnologia, mas contar histórias que não são contadas, olhar para lugares que não são olhados”.

Bertho ainda reforçou a importância da diversidade na equipe – com pessoas de outros lugares, pretas, da comunidade LGBTQIA+, etc. – e como isso também é um fator que ajuda no processo de criação.

Financiamento e foco no debate público – O Nexo tem como foco a explicação e a contextualização dos fatos, abrangendo todos os temas possíveis. Para Corsallete, as tecnologias ajudam a esclarecer os fatos e a contar as histórias de melhor maneira.

Apesar de o jornal ter foco financeiro em assinaturas – contando, hoje, com 22 mil assinantes –, seus recursos também são extraídos de outros projetos, financiados por instituições filantrópicas ou com receitas específicas, como o Nexo Políticas Públicas, o podcast Politiquês e a plataforma NexoEDU, voltada para a educação.

“Uma coisa importante é que, em todos esses financiamentos externos, a gente mantém uma independência editorial completa, e o conteúdo desses materiais que são financiados é aberto e não entra no nosso paywall – afinal, isso já está monetizado”, esclareceu Corsallete. “Inclusive, tirar o paywall não passa só por essa estratégia editorial. Passa também pelo que a gente acredita, como contribuir para o debate público. Essa é a missão do jornal”.

Após as exposições, foi realizado um debate, a partir de perguntas formuladas pelos participantes. A programação do Seminário continua até a metade da tarde, com transmissão ao vivo pelo YouTube.

#ParaTodosVerem: No lado esquerdo da foto, o professor Antônio Rocha Filho está sentado, no auditório da ESPM, mediando a palestra. No centro, os palestrantes Helena Bertho, Conrado Corsallete e Mara Luquet aparecem no telão. No lado direito, a logomarca ESPM aparece em destaque, em frente a um púlpito.