Fotógrafo e viajante, Érico Hiller relata histórias por trás das lentes

Fotógrafo lança livro sobre os rinocerontes. Foto: Divulgação/Paulo Rapopport.

Share

Fotógrafo lança livro sobre os rinocerontes. Foto: Divulgação/Paulo Rapopport.

Érico Hiller é ex-aluno da ESPM-SP, formado em Comunicação Social em 1999. Hoje ele é fotógrafo documental independente, sempre colaborando com diversas empresas, como National Geographic Brasil, Rolling Stone e Marie Claire, além de ter seu próprio site contando sobre as histórias vividas em diferentes países, entre outros grandes projetos humanitários.

Recentemente, lançou um livro inspirado em sua experiência na África do Sul: “A Jornada do Rinoceronte”. Hiller concedeu uma entrevista para o Portal de Jornalismo da ESPM-SP.

 

Portal de Jornalismo: Qual foi a sua inspiração para produzir o livro “A Jornada do Rinoceronte”?

Érico Hiller: Eu acho que nós, documentaristas, nos inspiramos pelos fatos, pelas informações que recebemos e as interpretamos de modo a dar um testemunho sobre o mundo que nos cerca. Com os rinocerontes foi isso. Eu soube, em uma viagem para a África do Sul, em 2007, que este animal estava em estado crítico de ameaça e comecei a ler, pesquisar. Com o tempo, a vontade de me debruçar nas fotos e na história era muito grande.

PJ: Qual o maior desafio na concepção e produção de um projeto denso como “A Jornada do Rinoceronte”?

EH: Para mim os desafios são os “não-fotográficos”, ou seja, a burocracia, a busca de patrocínio, permissões, etc. Uma vez esta etapa cruzada, as fotos em si não são exatamente desafios, pois as buscas das soluções são fluidas e prazerosas. Os desafios são não se ferir, buscar uma imagem inovadora, fugir de clichês, etc. Como um todo eu considero este um projeto complexo, com riscos e de longo prazo, portanto, não é fácil. No tempo de um projeto assim coisas acontecem. Eu ganhei cabelo brancos, perdi meu pai, meu filho nasceu. A vida segue seu curso. O projeto se torna um segmento de uma parte de sua vida. Sempre que olho para o livro todas essas memórias vêm à tona.

PJ: Você teve fortes emoções durante o projeto que fizessem você querer desistir?

EH: Sim, sempre. E essas “emoções” são parte do processo. E elas funcionam como combustíveis. É algo indissociável, não podemos e não devemos nos livrar delas e sim usá-las e interpretá-las o tempo todo. Mas sim, sempre ocorrem altos e baixos e algumas vezes achei que este projeto pudesse não acontecer. Sobretudo, porque para fazer o que eu queria não era simples, dependia da boa vontade e da permissão de outras pessoas. Tive vontade de produzir este livro em 2007 e, mais ou menos em 2010, achei que desistiria, mas segui em frente. A caça de rinocerontes se tornou um drama ambiental urgente e global. Algo tinha que ser feito e esta história precisava ser contada.

PJ: O livro “A Jornada do Rinoceronte” é uma forma de se posicionar contra a caça de rinocerontes pelo mundo. Por que você decidiu lutar por isso?

EH: Essa não é uma luta minha e muitas outras pessoas colocam suas vidas em risco e fazem muito mais pelos rinocerontes do que eu. Mas na medida que você vai se envolvendo, não há como não se sensibilizar e tomar partido. O ser humano só tem motivação quando acredita e eu passei a acreditar seriamente que tinha a algo a fazer, uma espécie de missão sagrada a qual eu não podia mais vira as costas. E sim, eu me posicionei pela conservação destes animais, o que se torna uma luta pessoal. Até hoje sempre leio, acompanho e e me atualizo de tudo sobre o que se passa com esses animais magníficos.

PJ: Quanto tempo demorou para desenvolver o livro?

EH: Eu me envolvi com o tema desde 2007 e publiquei o livro em 2016. Nove anos.

PJ: Você já publicou algum livro antes deste? Pretende publicar um outro?

EH: Antes deste eu publiquei outros dois livros, um sobre países emergentes, chamado EMERGENTES (em 2008), e um sobre locais ameaçados, chamado AMEAÇADOS (em 2011). Ainda quero fazer outros trabalhos, claro.

PJ: Como é, para você, transmitir as histórias que você publica em seu site (Diário de Viagens) para o público? 

EH: Não tenho publicado tanto no meu site, mas comunicar é uma das missões da fotografia, nós somos contadores de histórias e isso é o fim de um processo que se inicia geralmente anos antes. É um deleite, um prazer e uma honra. Eu adoro compartilhar as coisas que vi e vivi com as pessoas. Sites e redes sociais são plataformas magníficas, gratuitas e ecologicamente amigáveis para isso.

PJ: Qual é a sensação de viajar e conhecer essas diferentes culturas ao redor do mundo?

EH:  A sensação é ótima. É um misto de engrandecimento pessoal com expansão de fronteiras de visão sobre o nosso mundo. Nem todas as formas de se expressar exigem locomoção física. A música pode ser feita na garagem de casa. A literatura pode ser feita com o lap top deitado numa rede. Mas a fotografia, pela natureza de sua existência, deve levar o fotógrafo a ir explorar, conhecer, ver e interpretar com os próprios olhos. Impossível não ser assim e talvez daí resida todo esse fascínio com a fotografia, com a cotação de histórias.

PJ: A sua formação em Comunicação Social te ajuda nos dias de hoje?

EH: Não muito. Mas com certeza tenho algum alicerce baseado no que aprendi em sala de aula, não sei pontuar exatamente o que, mas com certeza tem. Talvez um olhar mais analítico, ou criativo…

PJ: O que te motivou a seguir a carreira de fotógrafo?

EH: Sempre amei fotografia, mas de certa forma relutava em assumir e ser fotógrafo de vez. Isso demorou a acontecer. Mas a ESPM teve influência certa, pois nas aulas de fotografia eu me certifiquei o quanto amava tudo isso. Realmente amava e amo fotografia.