Grupo GAS: a “máquina de ajudar gente” que atua na cidade de São Paulo

O trabalho do GAS, no dia 28 de julho de 2017. Instagram do grupo GAS. Foto: Andy Costa.

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Membros do grupo GAS durante rota de entrega, em São Paulo. Foto: Grupo GAS

No começo de abril de 2016, fazia frio em São Paulo. Em uma dessas tardes cruéis – até mesmo para os mais calorentos –, o professor Christian Francis Braga, 44 anos,  esqueceu o casaco antes de sair de casa para o trabalho e, sem um capote ou uma jaqueta, batendo os dentes e com o corpo estremecido, caminhava pelas ruas da cidade, torcendo para que a tortura acabasse logo. Em seu trajeto, deparou-se com um morador de rua que, empaticamente, o alentou. “Amigo, fica tranquilo, fica calmo que ja já (sic) o frio passa”, ele disse. “Você vai aguentar”. Comovido, no mesmo dia o professor voltou para casa e juntou alguns agasalhos e cobertas para que, no dia seguinte, entregasse para esse mesmo morador de rua. Nessa noite, quatro pessoas morreram de frio em São Paulo. Christian decidiu se mobilizar sobre a causa e fazer acontecer alguma mudança sobre isso e, assim, nasceu a primeira ideia do que futuramente viria ser o GAS, um projeto social a fim de ajudar pessoas em situação de rua.

Atualmente, são 70 pessoas trabalhando ativamente no GAS, além dos outros 70 membros que vão e que voltam. O coletivo faz ações quinzenais em cinco rotas diferentes na cidade durante a madrugada, entregando kits de higiene pessoal, cobertores, sanduíches, café, suco e água para milhares de pessoas marginalizadas. “São duas rotas no centro, uma na zona oeste, norte e leste. A entrega termina por volta das cinco da manhã”, conta Christian. Ele mesmo se encarrega de administrar o projeto como se fosse uma empresa. Como coordenador geral, o professor de espanhol organiza o passo a passo da arrecadação e se dedica para que tudo seja minuciosamente perfeito na hora da entrega, contando com a ajuda de outras duas coordenadoras que, junto do corpo de voluntários, funcionam de maneira linear e horizontal por e para o projeto. Mas, mesmo com tanto amor e dedicação, não é uma tarefa fácil. “A maior dificuldade que enfrentamos é com relação à arrecadação. Dependemos de empresas particulares que não queiram nada em troca de suas doações, parceria com algumas ONGs, faculdades e colégios”. Redes sociais, como o Facebook e Instagram, são instrumentos estruturais para a divulgação e arrecadação. Christian acredita que as facilidades virão a partir do momento em que o GAS se transformar em ONG. “Estamos no processo”, conta. “Acredito que, assim, teremos um pouco mais de facilidade, alcançando empresas que colaborem por conta do abatimento no imposto de renda”.

Apaixonado por dar aulas, Christian viu sua profissão como educador ser cada vez mais desvalorizada e sua paixão desdenhada. Deprimido, se viu sem recompensas, perspectivas e com a saúde absolutamente debilitada, sem nenhum tipo de forças para seguir com objetivos. O GAS aconteceu como uma válvula de escape para todas essas angústias. “O meu tempo livre me ofereceu a oportunidade de me ocupar mais com essa questão solidária. Resolvi, então, dois anos atrás, colocar o Gás para funcionar de maneira mais estruturada”, conta o educador. “O meu objetivo era transformar o projeto numa máquina de ajudar gente”, complementa, hoje feliz e realizado. Christian diz ter encontrado paz e tranquilidade dentro de si ao ajudar a cuidar da vida de pessoas carentes. “Eu não reclamo mais da minha vida, não existe nada que pague o preço de saber exatamente o que você deve fazer com ela”. Com o amor como combustível, o Gás hoje coloca a solidariedade como força motriz.

Ao ser interrogado sobre o futuro, o professor afirma que, além de transformá-lo em uma ONG bem estruturada, seu desejo é de cada vez mais atingir mais e mais pessoas de rua – inclusive crianças em situações vulneráveis – e transformar o GAS em um conjunto de possibilidades de ajuda para pessoas que foram excluídas da sociedade e são constantemente esquecidas pelo poder público. “Nosso objetivo é juntar o maior número de pessoas que estejam nesse mesmo propósito, a fim de arregaçar as mangas para trabalhar pelo próximo sem esperar nada em troca”, afirma.

Outras Atividades

Além da entrega, o projeto GAS também ajuda no resgate de pessoas de situação de rua viciadas em álcool, craque, cocaína e outras drogas. “Muitas dessas pessoas vêm até nós pedindo ajuda para se internar”, conta Christian. Em parceria com uma casa de habilitação localizada em Juquitiba, o Gás se propõe a levar os dependentes até a clínica, onde eles recebem a oportunidade de se tratar durante seis meses com alojamento e refeições sem custo. Além disso, o Gás Pets também existe como uma ponte de auxílio para resgate de animais abandonados.

Para participar 

Todas as entregas do grupo GAS são pré-organizadas. Para saber mais sobre como ajudar, acesse:

Instagram ; Facebook ; Site