Futebol feminino: mesmo em crise pelo baixo investimento, jogadoras se unem para arrecadar doações ao SUS

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Giullia Reggiolli, João Pedro Cirilo e Tais Burihan

O Coronavírus parou o mundo todo, e isso acabou impactando o esporte de uma forma geral. Criou diversas dívidas e graves problemas financeiros à todos os envolvidos. Mas talvez quem vem sofrendo mais com isso sejam as esportistas das categorias femininas, que já clamam por ajuda financeira a muito tempo, e mesmo assim a diferença de renda para as outras categorias masculinas continua exorbitante.

Foto: Divulgação da campanha JogaJuntoFF

Além disso, devido a pandemia, o futebol feminino está sendo deixado de lado cada vez mais. As atletas, que já possuem salários muito inferiores aos dos jogadores, agora terão seus campeonatos adiados para favorecer o futebol masculino. Por exemplo, a Eurocopa da categoria foi adiada para julho de 2022 para que a masculina possa acontecer ainda em 2021. A justificativa dada por Aleksander Čeferin, presidente da UEFA, é que assim não haverá competição entre os torneios, e com isso a Eurocopa feminina seria o principal torneio de verão do ano de 2022, visto que a Copa do Mundo será somente no final do ano.

A CBF forneceu um auxílio de quase R$ 4 milhões para equipes de série A1 e A2  do futebol feminino. O valor parece alto, no entanto está bem abaixo do recebido por categorias masculinas. Os 68 clubes da série D masculina terão o dobro do benefício, um total de R$ 8,160 milhões, ou seja, o dobro do recebido pela categoria principal feminina. Já o valor recebido individualmente por cada clube é maior para os clubes da série C masculina, atingindo um total de R$ 200 mil reais, enquanto na série A1 feminina chega somente a R$120 mil.

Messi, sozinho, ganha o dobro de 1.693 jogadoras das principais ligas do mundo juntas Foto: Reprodução / Twitter / ONU

Mesmo não possuindo um destaque merecido, as jogadoras brasileiras do futebol feminino não se abalam, e continuam procurando formas de alcançar o sucesso e promover sua categoria. Diversas jogadoras mostraram que a rivalidade não é tudo, e mulheres de todas as categorias do futebol feminino brasileiro e internacional se juntaram para promover o movimento #JOGAJUNTOFF, onde diversas jogadoras colocaram suas camisas a leilão. O intuito é arrecadar dinheiro para uma grande doação ao SUS para ajudar as vítimas do Covid-19.

Fonte: perfis oficiais de Mariana Dantas e da campanha #JOGAJUNTOFF no Twitter

A criadora da campanha foi Mariana Dantas, lateral esquerda do Flamengo. Ela conta que teve a ideia ao ver  diversos jogadores se unirem em uma eliminação do Big Brother Brasil em prol de fazer doação de camisas caso algum participante ficasse. Ao mesmo tempo, outros doavam dinheiro para ajudar as pessoas que estão passando necessidades por conta da pandemia. Com isso, ela completou:  “Foi aí que pensei que no futebol feminino não ganhamos altos salários, mas temos camisas para sortear. Nisso pensei na ideia de juntar os dois, fazendo um movimento para doações pelo coronavírus”, conta Dantas.

Mariana Moraes, jogadora de  Futebol Society do Corinthians, diz que o projeto se iniciou com uma ideia da atleta do Flamengo, Mariana Dantas e que muitas outras jogadoras a apoiaram e abraçaram a causa. Sobre a campanha, Moraes afirma, “Eu acho que antes de tudo, o momento exige isso de nós, a união, a força, a empatia. A campanha representa muito, não só pelo combate ao COVID-19, mas também para as nossas modalidades ( Futebol de campo, Society e Futsal), porque mostra que não há a união apenas restrita a modalidade em que estamos, mas de todo o mundo feminino que ama jogar bola”. E continua, “Claro que existe a rivalidade dentro de campo, mas fora dele a grande maioria é toda amiga. Até porque nossa luta diária por reconhecimento e tudo mais precisa disso.”

O futebol feminino terá de lutar para se reerguer e continuar a evolução que estava conquistando antes da pandemia, Emily Lima, treinadora da seleção equatoriana, e ex-técnica da seleção brasileira de futebol, afirma que:  “Vamos dar continuidade no crescimento e na visibilidade que estávamos obtendo, mas com certeza vamos ter que nos adaptar perante a uma nova realidade mundial.”

A campanha foi muito bem recebida e teve um sucesso maior do que o esperado, tendo apoio de grandes jogadoras como Marta e Amandinha, neste momento a melhor do mundo do futsal. A causa já arrecadou R$ 19.390,89, e possui 478 apoiadores. Quem quiser ajudar e optar pela ‘Vakinha online’, pode acessar este link. Já no PicPay, basta procurar por @jogajuntoff, mesmo user das páginas no Twitter e no Instagram.