Felipe Padovese (1º semestre)
Há cerca de duas semanas, em 14 de abril, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou a saída do exército americano de solo afegão. O líder democrata planeja encerrar a guerra contra o Afeganistão, iniciada em 2001, após o ataque às Torres Gêmeas. “É hora de encerrar a guerra mais longa dos EUA. É hora de as tropas americanas voltarem do Afeganistão”, declarou o presidente, em discurso na Casa Branca.
Para Fausto Gody, professor de relações internacionais da ESPM-SP, diplomata e doutor em Direito Internacional Público, a retirada das tropas não é um sinal de “descanso”, tampouco uma medida de paz: “É um compromisso do presidente Joe Biden. Esse compromisso já tinha sido anunciado, de certa forma, pelo ex-presidente Donald Trump, porém a retirada acabou por não acontecer”.
Gody completa, indicando uma razão: “Eles (americanos) não conseguiram pacificar o Afeganistão, então essa saída é quase uma declaração de incapacidade, uma falência do projeto”.
Como consequência da retirada das tropas, Fausto aponta prováveis conflitos civis entre as organizações radicais na ausência de tropas americanas. Contudo, ele não cita a possibilidade de novos conflitos entre os radicais e os norte-americanos. “O Afeganistão é formado por uma multidão de etnias, mais de 12 civilizações milenares. Elas não consideram o poder das outras entre si, então a única maneira de se encontrarem é através de uma Jirga (uma reunião dos líderes de cada etnia), enquanto não houver acordo entre as etnias o Afeganistão sempre ficará sujeito a essas crises”.
Já o professor de relações internacionais do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa) e cientista político, Leandro Consentino, prevê uma eventual pacificação dos grupos radicais no âmbito econômico, visando medidas mais de inteligência do que físicas militares. “A gente pode fazer um paralelo com o que acontece aqui no Brasil, às vezes intervenções diretas, por exemplo, em favelas onde há tráfico, pouco surtem efeito. Surte mais efeito trabalhos de inteligência, quebrando a espinha dorsal do ponto de vista econômico, o quanto eles ficam desorganizados quando se mexe em peças chave deles ou quando se fecha determinado duto de dinheiro”, explica.
Ambos os professores foram questionados sobre a necessidade da presença de tropas americanas no território afegão. Para Fausto, a pergunta deveria ser se os Estados Unidos deveriam ter invadido: “Esse atentado foi um grande trauma, só que o que os americanos não entendem é que essa guerra não começou no Afeganistão e sim no Iraque, com Saddam Hussein. Os americanos não entendem a região, por isso eles nem deveriam ter ido, deveriam ter achado outro jeito de dialogar, para até ter prevenido os atentados de 11 de setembro”.
Na mesma linha, Leandro afirma que, “de fato, a gente não vê nenhum tipo de resultado mais palpável, está sendo gerada muito mais instabilidade nesses locais do que democracia. Vendo desse ponto, eles não precisariam nem ter invadido e permanecido”.
As tropas americanas foram instaladas no território após o atentado de 11 de setembro de 2001, evento que abalou o mundo e mudou a política externa dos Estados Unidos, especialmente em relação ao Oriente Médio. Após o ataque, os Estados Unidos adotaram uma série de medidas políticas e militares para contra-atacar e se defender de eventuais novos ataques. O país aumentou os poderes das agências de inteligência americanas, que identificaram o líder por trás dos ataques às torres gêmeas, e também apelaram para ações mais agressivas, como o bombardeio de Cabul, a capital do Afeganistão.
A Al-Qaeda foi identificada como responsável pelo ataque, grupo fundamentalista islâmico, cujo líder era Osama bin Laden. O grupo era protegido pelo regime político afegão talibã, outro grupo fundamentalista que subiu ao poder no país. O conjunto desses fatores impulsionou os Estados Unidos a invadir o território afegão, e a destituir os governantes favoráveis ao talibã. A guerra já se arrasta há mais de 20 anos.