Escritora Rosana Hermann fala sobre jornalismo, literatura e redes sociais

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Rosana Hermann ministrando palestra na ESPM-SP. Foto: Pricilla Comazzetto

Bacharel em Física nuclear pela USP, a paulistana Rosana Hermann optou por uma mudança brusca logo no início de carreira: estudar comunicação e deixar as ciências exatas em segundo plano. Após concluir um curso básico de comunicação pela Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP), Rosana seguiu carreira no ramo: hoje é roteirista, blogueira e escritora, com obras de sucesso como “Um passarinho me contou – relatos de uma viciada em Twitter”, “Para entender a Internet” e “Ser mãe é tudo de bom”.
Em palestra aos alunos da ESPM-SP, durante a Semana de Jornalismo, Rosana expôs sua opinião sobre diversos assuntos, entre eles, a importância do curso de jornalismo: “É muito bom o fato de o curso da ESPM-SP ser novo, pois muitas coisas mudaram. Acredito que seja um curso atualizado, capaz de fornecer as teorias fundamentais para a formação do profissional”, afirma. Confira, a seguir, alguns pontos que a escritora e blogueira abordou em entrevista ao Portal:

Portal – Por que você optou por trocar a física pelo jornalismo?
Rosana Hermann – A física me deu embasamento para montar um raciocínio, para ter vontade de descobrir – e também foi minha primeira forma de ter contato com o computador A postura científica de você descobrir algo é muito parecida com a postura jornalística. Hoje, vejo que elas não são incompatíveis – pelo contrário, são complementares.

Portal – Sua graduação em Física Nuclear contribuiu de alguma forma para a sua profissão atual? Se sim como?
Rosana – Contribuiu. Hoje eu consigo fazer, e entender, um algoritmo, e consigo aplicar esse raciocínio porque eu escrevo, formulo algo com começo, meio e fim.

Portal – Você considera o diploma de jornalismo necessário para o exercício da profissão?
Rosana – Eu acho o curso mais importante do que o diploma. Para ser um jornalista, hoje, ter essa formação é essencial. O diploma tentou regulamentar quem já estava há muito tempo em atividade e não tinha o curso. No entanto, hoje há múltiplas formas de obter qualificação – cursos online, ensino à distância. A universidade é um centro de discussão indispensável para a qualificação profissional.

Portal – Até hoje, qual foi a sua melhor experiência trabalhando como jornalista?
Rosana – Nas “Diretas Já”, quando houve uma grande manifestação na rua em que todo mundo saiu às ruas, de cara pintada, para pedir o impeachment do ex-presidente Fernando Collor, tinha saído para fazer uma reportagem sobre o assunto. Estava totalmente pautada, mas, quando íamos gravar a manifestação, um menino de 4 ou 5 anos – um bebê, quase –, cheirado de cola, completamente abandonado na calçada, chegou perto de mim para pedir comida. Naquele momento, entendi que aquilo era prioridade. Fiquei muito emocionada, peguei o menininho no colo e comecei a chorar e falar para a câmera que o que a gente estava buscando não era o impeachment de uma pessoa, e sim uma sociedade mais justa, que impedisse que crianças como aquela vivessem de modo tão degradante. Foi aí que percebi o quanto precisamos ter um olhar completo do que acontece à nossa volta.

Portal – Qual sua opinião sobre as redes sociais e o tempo que os jovens “gastam” nelas? Você acredita em um vício crescente nessas ferramentas?
Rosana – O vício é terrível, eu mal consigo me livrar. Acredito que a ideia de termos um “superpoder” de velocidade, de poder falar com muita gente ao mesmo tempo, não é fácil de administrar. No mundo real, você não dá conta de tanta coisa; o problema é a ilusão de poder que as redes nos oferecem, a sensação de que nelas podemos conquistar algo que nos falta na vida concreta.

Portal – Você pretende escrever mais um livro?
Rosana – Sim. Inclusive, já estou organizando outro. Hoje mesmo, estava trabalhando nele.

Renata Fleischman (1° semestre)