Editorial: jornalismo contra a opressão

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| RENATO ESSENFELDER, EDITOR DA PLURAL
O que te oprime? A pergunta, um tanto desconcertante, foi o mote desta edição da Plural, que chega agora ao seu sexto ano repleta de novidades.
Enveredamos por uma seara subjetiva, psicológica, com a qual o jornalismo factual tem pouca familiaridade. Em vez de nos apoiarmos principalmente em estatísticas e dados empíricos – instrumentos preciosos para o repórter noticioso –, optamos por investigar um problema abstrato: como as pressões da vida moderna provocam angústia nas pessoas, e como reagimos a essas pressões e angústias? De onde vem a necessidade de se adequar a um certo ideal de felicidade, de sucesso, de sexualidade?
Assim, tateando sentimentos e sensações, as matérias a seguir muitas vezes prescindem das chamadas fontes especializadas – os estudiosos reconhecidos em seus campos de atuação – para mergulhar fundo no que se convencionou chamar de “jornalismo humanizado”. Apesar do cará- ter um tanto redundante (que bom jornalismo, afinal, não seria humanizado?), a expressão é útil para nos lembrar que escrevemos sobre pessoas e para pessoas. Assim, a perspectiva humanizada da reportagem é justamente aquela que: 1) valoriza as opiniões e vivências das pessoas comuns, sem status midiático; 2) promove o encontro face a face entre jornalista e fontes, com todas as decorrências desse encontro (que, em alguma medida, é sempre transformador); 3) tomando os entrevistados como sujeitos plenos, e não como objetos de informação, entende que pratica um jornalismo que apresenta versões verdadeiras mais do que um jornalismo produtor de verdades, já que trata de subjetividades; 4) busca significados, sentidos, nos eventos que descreve, ciente portanto de que seu objetivo não é explicar uma pretensa realidade objetiva, mas sim buscar compreender, a partir de sua própria subjetividade e autoria, fenômenos complexos.
É, como se vê, um jornalismo que aposta na autoria, na capacidade de o repórter – ou, no nosso caso, do aluno-repórter – interpretar o mundo à volta, incluindo os mundos interiores de seus interlocutores.
Para dar vazão aos muitos sentidos e possibilidades da autoria criativa, esta edição aposta ainda numa expansão radical do conceito de matéria jornalística. Ao longo das próximas páginas o leitor encontrará textos, ensaios fotográficos, um jogo da memória, um vídeo em 360 graus e recursos de Realidade Aumentada. Plural também estreia o recurso do “editor convidado”: um especialista que comenta a pauta da edição e auxilia no encaminhamento dela, ampliando os horizontes dos alunos-repórteres. Neste número, contamos com Pedro de Santi, renomado psicanalista, professor na ESPM, PUC-SP e Casa do Saber, que é também o entrevistado da edição.