Dos fóruns para as redes: discussões, militâncias e anonimato na internet

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Por Walter Niyama

Imageboard ou chan são sites em que usuários, de forma anônima, podem criar e responder fóruns de diversos tipos. O mais famoso deles é o 4chan, fundado pelo americano Christopher Poole que em 2015 disse que os membros do fórum anônimo, do qual ele tanto fez parte da criação quanto presidiu, formam facilmente uma das maiores comunidades da internet que existem.

Nos chan é possível encontrar tópicos que vão dos assuntos mais comuns ao mais questionáveis. Muitos memes (imagens de conteúdo cômico) surgem nos fóruns anônimos antes de aparecerem nas redes sociais. Já outros assuntos levantados nas plataformas são semelhantes aos de uma “deep web”, podendo ser sobre morte ou crimes como tráfico e pedofilia. Tais temas são proibidos nos sites mais populares do tipo, e o próprio 4Chan já enfrentou problemas por causa disso.

Os grupos nesses fóruns são bastante fortes nos Estados Unidos, em outros países de língua inglesa e em alguns na Ásia. Tanto é que a origem do maior grupo de hacktivistas do mundo, Anonymous, tem sua origem no 4chan na América do Norte. No Brasil, eles ainda não são tão grandes, embora existam muitos usuários nessas plataformas nos EUA que são brasileiros, além de que eles foram destaque na internet quando o vlogger Felipe Neto abordou sobre os chans nacionais após a repercussão de um vídeo que defendia relações sexuais com menores.

Ideologias

Devido à falta de censura e liberdade, política também é um assunto debatido nesses chans. O projeto Comunica que Muda, da “nova/sb”, mostrou que 84% das menções a racismo, política e homofobia são de teor negativo. O radicalismo é percebido nos fóruns de grupos de extrema-direita e também por grupos antifa (abreviação de antifascistas) como podem ser encontrados no Leftypol do 8chan.

Eles ficaram em bastante atividade em 2016, durante a eleição de Donald Trump, ocorrendo ainda tentativas de pessoas na internet tentando influenciar outras a aderir às opiniões dele, fosse pela eleição de Trump ou Brexit, através de memes.

Um grande exemplo disso foi o personagem Pepe, o Sapo, impulsionado por pessoas dos chans. Surgido em 2006, ele passou a ser usado em imagens a favor de Trump, além de ser usado com imagens relacionados a ideologias de direita, fossem de modo irônico e apenas cômico, ou de modo a fazer propaganda.

Um homem gritou o nome “Pepe” durante um discurso de Hillary Clinton em sua campanha. Donald Trump utilizou uma imagem dele em suas redes sociais. Pepe começou então a ser taxado de símbolo de ódio. Isso levou o criador do desenho, Matt Furie, a “matar” sua obra. Para isso ele postou uma ilustração que mostra o funeral do sapo.

A Southern Poverty Law Center (SPLC) monitora grupos de discurso de ódio na América e disse que as ideias de extrema direita ou Alt-Right (direita alternativa, vista por muitos como extrema-direita) foram as que mais ganharam espaço na mídia digital recentemente.

Opinião na rede

A internet permite que diferentes indivíduos falem e discutam a respeito de política, mas o professor de ciência política da ESPM-SP, Geraldo de Campos, acredita que, apesar desses assuntos estarem sendo mais debatidos, isso não quer dizer que as pessoas estejam mais politizadas do que antes: “Pessoas que normalmente não são tão assertivas em debates reais nas redes sociais assumem quase que uma persona muito agressiva nas redes sociais, uma das coisas que permite isso é o anonimato. É preciso ver se esse aumento de comentários a respeito disso tudo é uma nova dinâmica em que as pessoas estão procurando mais os fatos e se aprofundando sobre eles, ou se estão apenas opinando por uma necessidade de falar de tudo, o que me parece mais o caso”, concluiu o professor.