Os rumores que Mohamad Hindi Neto, participante do Masterchef 2014, daria uma palestra ao curso de Jornalismo da ESPM, chegaram antes mesmo que ele à rua Artur Alvim. Alguns dos milhares de seguidores nos vários canais que produz conteúdo sobre gastronomia já lhe escreviam, perguntando se podiam acompanhar a conversa com os alunos de Cenários e Tendências Culturais, na última quarta feira (14).
Ele chegou logo depois. Aos 28 anos, com cabelo desgrenhado, calça jeans e camiseta, Neto se assemelhava a um aluno. Ele mesmo ressaltou isso, dizendo ser a primeira vez que falaria em uma universidade. Formado em Administração, foi um 4o lugar no Masterchef do ano passado que o tornou conhecido nacionalmente. Na ESPM, apresentou uma visão da gastronomia que integra culinária, marketing e redes sociais, além da empatia que lhe garante milhares de views.
Multichef
De ascendência libanesa, diz que a cultura e a comida são indissociáveis. “É um desrespeito não comer algo se lhe oferecem”, ressalta. Dos pais, comerciantes, também herdou o olhar atento ao lado mercadológico da gastronomia. “Um chef deve dominar vários aspectos, é um trabalho minucioso. Estatísticas dizem que no primeiro ano de existência, 80% dos restaurantes fecham. Por isso, deve-se pensar na comida, mas também no marketing e no atendimento, superimportantes para um negócio”.
Começou a cozinhar, porém, por motivo simples: Preparava na república onde vivia os bons pratos e drinks que provava ao sair com amigos. “Viajar também me influenciou muito”, o que se pode notar nas várias fotos de seu Instagram, @mohindi.
Mas Mohamad não está só na rede mundial de fotos. Hoje, ele vive das várias ações que produz na internet e fora dela, como eventos promocionais, o blog Fomelog e o programa no Youtube O prato do dia. Neto também teve um site de compras coletivas, o Vai Comer o Quê?
Com isso, percebeu a força das mídias no mundo da gastronomia. “Os jornalistas tem muito poder nas mãos. Já vi restaurantes fecharem e parcerias acabarem após receberem críticas. Também li críticas de alguns blogueiros que não entendem do assunto. Por isso, acho que ambos deveriam aprender muito de gastronomia para escrever, até mesmo trabalhar um pouco na área”, sugeriu aos alunos de Jornalismo da ESPM.
Reality
Do Masterchef, disse ter aprendido mais com os amigos competidores que com os chefes jurados. “A gente se ajudava. Aprendemos mais a preparar a parte psicológica que os pratos em si”, confessa. “É um jogo. Vi quem podia eliminar, cozinhando melhor que os piores”. Soube também organizar melhor seu tempo e a fazer pratos simples e bons.
Desses, destacou ao público da palestra seu nhoque de banana da Terra, que criou enquanto participava do reality. “Se há ingredientes brasileiros, dá para fazer um prato típico. Mas não consigo fazer um prato árabe com os mesmos elementos”, detalha Neto.
Gourmetização
Mohamad confessa ter aprendido a cozinhar de verdade só depois do Masterchef, quando foi trabalhar durante seis meses com o cozinheiro Alberto Landgraf, dono do Epice, restaurante contemporâneo. Lá, entendeu que um pé de porco pode valer quatro estrelas, não importando os ingredientes que leve, mas sim o seu preparo. “Se gourmetizar é usar bons ingredientes para melhorar um prato, ok. Afinal, cozinhar é pensar. Mas não faz sentido criar pratos que não ficarão melhores do que fazemos em casa”, afirma.
Neto acredita, entretanto, que a valorização da gastronomia não é apenas fruto do marketing e televisão, mas também da ascensão das classes sociais no Brasil, que já havia possibilitado que comêssemos melhor. “Claro que os programas culinários ajudam muito, mas antes deles, a galera já tinha vontade de comer bem”, comenta.
Ao final, Mohamad deu dicas sobre os melhores lugares para comer em São Paulo. Quer saber quais são? Pergunte a ele, em algum dos seus canais. Provavelmente, você terá sua resposta na hora.
Edson Capoano (professor de jornalismo, editor da seção Vila Mariana)