“Deixemos que vivam sua preeminência, mas ela não vai durar mais do que 15 minutos”

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Para muitos, assistir a um filme europeu, ou àqueles que possuem um padrão diferente dos chamados hollywoodianos, é questão de status cultural e sensação de preeminência em relação aos demais. Aproveitando o filme iraniano, “A Separação”, e com a análise do tema pelo crítico de cinema que trabalhou como roteirista do programa Vila Sésamo da TV Cultura, Eduardo Salemi, vamos mostrar o verdadeiro lado dessa proposição.

O cinema iraniano teria tudo para ser desconhecido e pouco representativo no mundo. Com um histórico de censuras em pleno século XXI, uma vez que as leis que governam o Irã são severas em relação ao cinema, os filmes se tornam um meio de reflexão sobre a vida dos mulçumanos, levando em conta o seu caráter ficcional.  Com representações simples e apesar dos poucos recursos devido ao forte controle do governo, o cinema iraniano foi ganhando espaço nas telas ocidentais ao contar histórias humanas. Os problemas do país, como a falta de liberdade e uma estrutura social complexa passam a ser de conhecimento público com sensação de semelhança de dramas pessoais.

O filme “A Separação”, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, se inicia com um pequeno drama familiar sobre a separação de um casal, vai aos poucos transformando-se em um suspense que trilha caminhos surpreendentes. Cena a cena, uma tensão silenciosa toma conta da tela e instiga os espectadores. A nova composição da família depois que a esposa abandona a casa, a forma como a filha passa a observar as reações do pai e a aprender com elas, a chegada da trabalhadora para ajudar a cuidar do pai, o incidente na escada, o irracional comportamento do marido da mulher que cai -ou não da escada, o inusitado julgamento, as reações do pai que até mente para manter o núcleo familiar como ele foi um dia. O público fica atento à tela, aprisionado pelo desconhecido. Desconhecido que se faz presente nos rumos que a história toma, e também nas relações sociais e religiosas iranianas, tão diferentes daqueles que estão acostumadas ao público. Outra atração, é revelar que mesmo uma sociedade regida por leis e por uma religiosidade severas, possui uma rotina semelhante à ocidental, com trânsito, carros franceses, mulheres que abandonam o lar, um pai que participa da organização da casa, uma família que tem seu dia a dia modificado por causa do Mal de Alzheimer.

Para o crítico de cinema, Eduardo Salemi, a questão de que, para muitos, assistir a um filme diferentes dos chamados padrões hollywoodianos, de superioridade em relação aos demais, esta ligado ao que cada um entende sobre a representatividade do cinema. De acordo com ele, o cinema o cinema é, aos olhos de parte do público, resultado do que é produzido pela indústria norte-americana. É a zona de conforto de lazer de quem quer apenas ir ao shopping e assistir ao mesmo espetáculo esquemático, com astros de sempre, ao sabor de um grande saco de pipocas. Para outros, é uma arte tão importante quanto a pintura, a literatura, o teatro. E como tal, é o momento em que o público que consome arte é capaz de se ver, de viver experiências propostas por artistas/cineastas de várias culturas diferentes.

Flyer do Filme "A Separação"

 

Dessa forma, Eduardo acredita que o cinema iraniano pode fazer parte do repertório visual de quem gosta de cinema. Ou seja, para esse público, um filme iraniano pode ser genial, ou simplesmente chato, dependendo para isso da realização, da forma de contar uma boa história. Para outro público, ele pode ser apenas um caminho para o status cultural. Mas eles não terão nenhum benefício da experiência oferecida pelo cinema europeu ou de qualquer outra parte do mundo. “Deixemos que vivam sua preeminência, mas ela não vai durar mais do que 15 minutos”, terminou.

 

Confira o trailer do filme:

 

 

Sugestões de Filmes Iranianos:

 

O Balão Branco

 

Durante as festividades do ano novo persa, uma garotinha insiste que sua mãe compre um peixe dourado bonito e gordo, ao invés dos magros que há fonte na casa da família, mas eles estão quase sem dinheiro. Após muito insistir, o irmão da garota acaba conseguindo o dinheiro, mas no caminho à loja, ela perde centenas de “tomãs” diversas vezes, e os adultos ao seu redor estão muito ocupados para dar atenção aos seus problemas.

Flyer do Filme "O Balão Branco"

 

O Gosto da Cereja

 

            Um homem em Teerã contrata um velho soldado para um trabalho estranho: ao amanhecer do dia seguinte, chamá-lo duas vezes perto de uma cova aberta. Se ele responder, deve ajudá-lo a sair, senão, sepultá-lo.

Flyer do Filme "O Gosto da Cereja"

Talitha Adde (1º semestre)