Debate aborda atritos entre liberdade de imprensa e interesses empresariais

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Jornalismo e Marketing têm alguma relação? Essa foi a questão colocada em pauta no debate ministrado pela professora Paula Calil, responsável pela disciplina de Plano Estratégico de Marketing no curso de jornalismo da ESPM. Paula reuniu, na quarta-feira, dia 2 de abril, os professores Daniel Ladeira, (Planejamento de Comunicação e Relacionamento com a Mídia), e Izolda Cremonine (Comunicação Coorporativa), que também é diretora da C&M Comunicações, para falar da influência do marketing no dia a dia do profissional de imprensa.
Durante o bate papo, Izolda falou sobre o reflexo dos interesses comerciais na autonomia das redações. De acordo com a professora, os repórteres têm limitações que muitas vezes se dão devido à politica da empresa. “O jornal O Estado de S. Paulo, por exemplo, ficou durante muito tempo sem publicar entrevista com o Abílio Diniz, devido a um atrito entre o setor comercial e a redação do jornal”, completa.
Para Izolda, o jornalista que está no começo da carreira acredita que, devido à sua função social, possui total liberdade de imprensa dentro do local de trabalho. Porém, de acordo com a professora, isso é apenas uma ilusão. “Quando se fala de liberdade de imprensa, de qual liberdade de imprensa nós estamos falando? A da redação ou a do veículo de comunicação? São duas visões diferentes”, afirma. Segundo Izolda, o jornalista tem uma função social e profissional, já o veiculo de informação, além da função social, possui uma função empresarial, que visa o lucro.
“O jornalista trabalha na redação com liberdade, desde que o que ele escreva, pesquise ou fale, esteja diretamente ligado a um interesse do veículo de comunicação. Isso é uma realidade a nosso favor. O estado de consciência a respeito disso nos facilita o trabalho, pois nós vamos saber até que ponto nós poderemos ir”, afirma. Apesar disso, a professora afirma que se a linha editorial do veículo não agrada o profissional, é aconselhável que ele mude de local de trabalho. Sobre essa situação, Izolda completa: “Se eu tenho que pagar a escola das crianças, academia etc., isso vai ser um emprego que eu vou manter durante certo tempo, porque eu preciso dele para pagar as contas. Mas aí eu não vou ter aquela identidade com o que eu estou fazendo”, afirma.
Ladeira concorda e aconselha os alunos a escolherem empresas que possuam os mesmos valores que eles. “Às vezes uma pessoa atira para todos os lados e vai trabalhar em um veículo que tenha uma posição ideológica completamente diferente da dela”, comenta. Para ele, a posição ideológica do veículo de comunicação reflete diretamente na produção do conteúdo.
Quanto à dependência de anunciantes , Ladeira acrescenta: “A atuação do profissional tem as suas limitações em função dos interesses comerciais de um veículo. A empresa precisa de dinheiro para pagar o seu profissional”, completa.
Izolda, após lançar o choque de realidade perante os alunos, finaliza: “Não é para desiludir vocês, muito pelo contrário, porque a função do jornalista é a denúncia, a informação. É isso que tem que ser compatível com o projeto editorial”.
Ao fim do encontro, o aluno Pedro Ian Teixeira afirmou concordar com as ideias apresentadas pelos professores, além disso, comentou sobre a realidade empresarial que o jornalista tem que lidar atualmente. “Quando você trabalha em uma empresa você precisa se adaptar a uma série de coisas, inclusive como se comportar, falar ou fazer em um ambiente de trabalho. Você tem que ter o bom senso de saber que aquele ambiente como um todo age de uma maneira que te impede de algumas coisas”, comenta. O estudante ainda acrescenta: “Tem muita gente que se prejudica no jornalismo por ter uma cabeça fechada, o mundo empresarial é assim, o jornalismo também faz parte desse mundo”.
Para Paula, professora e organizadora do bate-papo, a discussão sob a temática de jornalismo e sua relação com o marketing foi extremamente necessária: “Eu chamei o professor Ladeira e a professora Izolda, pois ambos têm ideias complementares”. Paula completa: “É importante que os alunos entendam essas zonas de atrito e de conflito, para saber de que maneira elas podem trabalhar integradas”, finaliza.

Giovanna Hueb – 4º semestre