Críticos comentam sobre a polêmica da palha de aço em cabelos no SPFW

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Foto: Marcelo Soubhia/FOTOSITE/Divulgação

O São Paulo Fashion Week (SPFW) da coleção primavera/verão 2013 surpreendeu e superou expectativas na forma com que os estilistas apresentaram suas coleções.  Desfiles marcados por polêmicas,  como o da coleção do estilista Ronaldo Fraga, em parceria com o maquiador Marcos Costa, marcaram o evento.

Inspirado nas crônicas de Nelson Rodrigues, Fraga baseou sua coleção no futebol, com cores, estampas e cortes nas roupas. Para dar ênfase ao estilo, idealizou os cabelos das modelos com palha de aço – o que acabou rendendo uma série de acusações de racismo nas redes sociais. A indignação acabou indo parar nas ruas, com um desfile na Avenida Paulista, centro da capital paulista, realizado pela HDA Models, em que modelos negras desfilaram vestindo roupas feitas de palha de aço e turbantes na cabeça.

Diante da polêmica, Marcos Costa publicou um comunicado em sua página oficial no Facebook: “Nunca foi minha intenção ou de Ronaldo Fraga ofender ou discriminar quem quer que seja. A ideia para o look do desfile era ressaltar a beleza de cabelos que podem ser moldados como esculturas, não importando o fato de serem crespos”, disse. “Depois de testarmos alguns materiais, o Ronaldo Fraga sugeriu a palha de aço. Foi também uma forma de subverter um preconceito enraizado na cultura brasileira. Por que o negro tem de alisar seus fios? Eles são lindos!”, declarou.

Logo em seguida, Ronaldo Fraga divulgou um comunicado, por meio da página oficial de sua assessoria de imprensa no Facebook. Diz o texto: “O meu desfile é uma crítica ao racismo e ao preconceito que respinga até os dias de hoje. Em nenhum momento falo em homenagem. Voltei para um tempo em que o futebol, o tema que escolhi para esta coleção, deixava de ser um esporte exclusivamente branco, de elite, para se ajoelhar diante da ginga, da dança que os negros emprestavam da capoeira pra driblar o time adversário. Tomei como objeto de pesquisa este esporte como formação de identidade, de costumes e da história brasileira. Procurei, como em outras coleções, fazer uma análise crítica e analítica sobre a influência e apropriação do futebol pelo brasileiro.”

Ronaldo Fraga é conhecido no meio como um estilista que desafia estereótipos e preconceitos. Já desfilou com idosos de cabelos brancos, não segue as formas de silhueta marcada que o mercado direciona às mulheres e faz pesquisas da cultura nacional antes de apresentar cada coleção. Para a repórter de moda da Folha de S. Paulo Kátia Lessa, a conotação que ele deu ao trabalho feito com palha de aço nos cabelos não teria sido pejorativa. “Ronaldo trabalha com o lúdico e a fantasia na passarela. Ao usar o produto na cabeça das modelos para criar a textura que desejava, em um desfile que falava do futebol de várzea no início de sua criação, não foi desrespeitoso”, diz. “Essa confusão toda só demonstra o quanto as pessoas não têm cultura de moda no Brasil. O histórico do trabalho do estilista é a resposta para quem imaginou, por algum momento, que ele poderia ter ofendido os cabelos das mulheres negras. Ronaldo jamais faria isso”, afirma a repórter.

O especialista em moda Tarcisio D’Almeida possui opinião semelhante. “Algumas pessoas confundem interpretação estética com preconceito por fazer uma leitura artística de um elemento de styling em desfile, que, segundo alguns, remeteria à questão racial. Não compartilho este tipo de leitura”. O especialista diz, ainda, que todo criador, sobretudo os que têm o traço autoral em seu processo criativo, deve ter liberdade e autonomia. “Precisamos lembrar que, por mais que tenha uma forte ligação com o princípio capitalista do consumo, a moda é, também, uma arte. Se ela ignorar essa essência, podemos acabar perdendo mais uma expressão artística.”

Portanto, para D’Almeida, o conceito de beleza no styling do desfile foi o uso da palha de aço, mas poderia ter sido usado qualquer outra matéria-prima.  “É preciso enxergar além do óbvio e fugir das armadilhas de um discurso que aponta questões raciais, quando na verdade não foi essa a intenção do criador.”

Carolina Ozzetti (1° semestre)

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Imagens gentilmente cedidas para a reportagem do Portal. Fotos de Gustavo Scatena, Barbara Dutra, Marcelo Soubhia, Andre Conti, todas do FOTOSITE