Como a pandemia inflacionou o preço dos alimentos no ano de 2021

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Enrico Sanchez (3° semestre)

A pandemia de Covid-19 gerou impactos expressivos em diversos setores da sociedade, sendo um dos mais afetados o de alimentação. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desde o começo da pandemia o preço médio dos alimentos aumentou em 15%. Para efeitos comparativos, é quase o triplo da inflação geral no mesmo período, que ficou em 5,2%.

O assessor da Critéria Investimentos, Guillermo Sanchez, comenta o quão determinante foi a pandemia para esse aumento. “Difícil explicar isso de maneira exata, mas com certeza a pandemia foi um fator relevante. Porém existem diversos fatores que influenciam nessa alta dos preços dos alimentos, como a péssima gestão do governo brasileiro em relação à pandemia, que é o mais significante. Outro fator crucial foi a baixa na taxa de juros básicos e os estímulos financeiros, que aumentaram o poder de compra dos brasileiros e, consequentemente, a inflação”, explica.

O aumento no preço dos alimentos afetou em cheio o consumidor brasileiro. Com a pandemia, muitos negócios tiveram que ser fechados, resultando em um crescimento nas taxas de desemprego e no número de famílias passando por necessidades básicas. Existem outras razões que ocasionaram essa elevação do preço, sendo uma delas, a alta do dólar. “Diversos alimentos são importados e a moeda atrelada ao preço de compra é o dólar. Com a desvalorização do real perante o dólar, os produtores compram o alimento mais caro e repassam esse custo para o consumidor. Mesmo os alimentos que são produzidos no Brasil possuem diversos fatores de custo atrelados ao dólar, como máquinas de colheita, por exemplo. Finalmente, com o dólar valorizado, vale mais a pena para os produtores brasileiros exportar a produção do que vender no mercado local”, analisa Guillermo.

O alimento que teve a maior alta no último ano foi o arroz, com a alta do dólar interferindo diretamente no custo de produção. De maneira mais específica, o preço desse insumo subiu cerca de 25,7% de janeiro a agosto de 2020, conforme o Índice de Preços dos Supermercados, calculado pela Associação Paulista de Supermercados (Apas) em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

A parte mais afetada da população com esse aumento é a classe baixa. Na atualidade, com um salário mínimo (R$ 1.100) é possível comprar cerca de 1,58 cesta básica, que custam em média R$ 696,7 cada. Nos anos anteriores, era possível comprar cerca de duas cestas básicas com esse mesmo salário. Com a diminuição da oferta de empregos, devido à pandemia, o aumento no preço dos alimentos afeta diretamente diversas famílias que podem contar apenas com o auxílio emergencial. “Alimentos são a base dos gastos de qualquer família brasileira. Quando o preço do alimento aumenta, as compras do mês consomem uma parte maior da receita do brasileiro. Um bom indicador disso é o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) que mede uma cesta de diversos produtos para avaliar a inflação no país”, ressalta Guillermo.

De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Socioeconômicos (DIEESE) os dados não são animadores. A previsão é de que em 2021 o salário tenha o menor poder de compra em relação aos produtos da cesta básica desde 2005.