Chateaubriand foi o primeiro barão da mídia brasileira

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Barbara Caram
»»»Foi em Umbuzeiro, na fronteira entre Paraíba e Pernambuco, no dia 4 de outubro de 1892, que nasceu um dos brasileiros mais influentes do século 20. Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello foi jornalista, empresário, mecenas e político. Um dos seus maiores feitos foi ser responsável pela chegada da televisão ao Brasil. Chateaubriand inaugurou a primeira emissora do país, a TV Tupi.

Conhecido como Chatô, teve sua principal biografia lançada em 1994 pelo jornalista Fernando Morais. O livro “Chatô, O Rei do Brasil” narra em 695 páginas a trajetória do primeiro barão da mídia nacional.
O império de Assis Chateaubriand começou cedo. Com apenas 15 anos entrou para a faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco e estreou no jornalismo escrevendo para os jornais “Gazeta do Norte”, “Jornal Pequeno” e “Diário de Pernambuco”. No ano de 1915 mudou-se para o Rio de Janeiro e colaborou escrevendo para o “Correio da Manhã”. Em 1924 deu o grande passo para a criação da maior cadeia de imprensa do país e assumiu a direção de “O Jornal”. “O Jornal” foi o primeiro título dos Diários Associados, a cadeia de mídia que seria capitaneada pelo empresário. Na sequência, Chateaubriand comprou o “Diário de Pernambuco”, o jornal mais antigo em circulação na América Latina; o  “Jornal do Comércio”, mais antigo do Rio de Janeiro; e o “Diário da Noite”, de São Paulo.
Em pouco tempo, o império cresceu. Faziam parte do grupo Diários Associados 34 jornais, 36 emissoras de rádio, 18 estações de televisão, uma agência de notícias, uma revista semanal (“O Cruzeiro”), uma mensal (“A Cigarra”), revistas infantis e uma editora. Era interessado em manter seus jornais sempre atualizados e então buscava novas tecnologias, como a máquina multicolor, serviços fotográficos que possibilitavam a troca rápida de imagens com o exterior, e a publicidade.
Segundo Audálio Dantas, jornalista ganhador de dois prêmios jabutis, Chatô foi “o sujeito que mudou a comunicação brasileira”, aliando uma visão mais empresarial ao jornalismo, mudando o mapa da comunicação da época e espalhando jornais para o Brasil inteiro por meio de sua imensa rede.

Televisão
A TV Tupi surge no dia 18 de setembro de 1950 em São Paulo, quando Chatô passa a se interessar mais pelo assunto e deixa de lado um pouco os jornais. Em 1951 é criada a TV Tupi Rio. Para que a emissora fosse criada, alguns radialistas escolhidos se lançaram na aventura. Todos tinham de fazer um pouco de tudo: ator virava sonoplasta, autor dirigia e diretor entrava em cena.
A emissora foi responsável pela criação da telenovela: os episódios passavam semanalmente e eram considerados ousados na época. A novela “Sua Vida Me Pertence” mostrou o primeiro beijo na boca na TV.
Muito embora os negócios decolassem, a vida pessoal de Chateaubriand não era fácil. Era odiado por uns e amado por outros. Apoiou o movimento de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder, e por isso conseguiu que Getúlio Vargas publicasse um decreto-lei que lhe deu direito à guarda da filha Teresa, de sua segunda mulher. “Se a lei é contra mim, vamos ter que mudar a lei”, chegou a afirmar à época.
Sua atitude era única. Construiu sua grande rede de comunicação aproveitando sua inteligência acima da média. “Usava esse instrumento como pé de cabra”, afirma  Dantas. Mas Chatô também era pessoa de difícil trato. Frequentemente usava chantagem para obter o que queria, pressionava empresas que não anunciavam em seus veículos, mentia e era temido pelas campanhas jornalísticas que promovia; por exemplo, contra a criação da Petrobras.
Como mecenas, deu visibilidade a artistas não conhecidos na época, como Anita Malfatti, Di Cavalcante e Cândido Portinari. Para Dantas, Chatô tinha uma capacidade extraordinária para descobrir novos talentos, e esse era seu lado mais positivo.
Em 1952 Chateaubriand assumiu o cargo de senador da Paraíba, e, em 1955, do Maranhão. Rejeitou o mandato para assumir a embaixada do Brasil na Inglaterra. Em 1954 entrou para a Academia Brasileira de Letras.
Outra grande realização do jornalista foi o MASP (Museu de Arte de São Paulo), que criou em 1947. Chatô aproveitava sua influência política e empresarial para persuadir os grandes empresários a doarem fundos e obras próprias para o museu. Doou uma coleção particular de obras de grandes artistas europeus adquiridas no pós-guerra.
Em 1960 sofreu uma trombose que o deixou paralisado. Comunicava-se por meio de uma máquina de escrever adaptada. Na mesma época o grupo Diários Associados estava endividado e começava a entrar em declínio. Em 1967, deu à Universidade Estadual da Paraíba o primeiro acervo do Museu Regional de Campina Grande, que mais tarde receberia seu nome.
Assis Chateaubriand morreu em 1968 e foi velado ao lado de duas telas, de Velázquez e de Renoir, que continham as três coisas que mais amou: poder, arte e mulheres.