As manifestações contra a Copa no Brasil e a procura por ingressos

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A Copa do Mundo no Brasil só terá início efetivamente em 2014, mas já foi alvo de revoltas por parte do povo brasileiro desde o anúncio de que os jogos seriam aqui.  Em junho deste ano, manifestantes tomaram as ruas para protestar, entre outras coisas, contra os gastos abusivos de dinheiro público na construção de estádios e a não utilização do dinheiro arrecadado em impostos ou até mesmo investimentos da iniciativa privada em hospitais e escolas de qualidade.

Curiosamente, pouco mais de dois meses depois, a FIFA iniciou, por meio de seu site oficial e da imprensa, as solicitações dos ingressos para os jogos em todo o Brasil e a procura foi enorme. Segundo informações da própria entidade, por meio do diretor de marketing Thierry Weil ao site Época Negócios, cerca de quatro milhões de torcedores (sendo apenas 800 mil estrangeiros) solicitaram a compra das entradas, dado que supera o número de 2,3 milhões de brasileiros apenas nas primeiras 24 horas. Qual seria, portanto, a razão para tamanha contradição? Existe contradição?

Para o antropólogo formado pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da ESPM-SP, Pedro Jaime Coelho, a contradição é normal. “A sociedade é contraditória, a contradição faz parte da vida humana. Então, de repente, a mesma pessoa que quer ir a um jogo da Copa do Mundo, quer ir a hospitais de qualidade”, comenta.

“Quando as pessoas reivindicam hospitais e escolas de qualidade ‘padrão FIFA’, por meio dos cartazes nas manifestações, talvez elas não estejam sendo contra a Copa do Mundo, mas querem que o Brasil enfrente os problemas sociais com a mesma intensidade e com a mesma vontade de fazer coisas bem feitas, como está fazendo com os estádios de futebol”, diz Coelho.

Participante das manifestações e ferrenho crítico da realização do evento, o estudante Felipe Silva mostra revolta com as atuações do governo frente à organização da Copa do Mundo em solo nacional. Para ele, o campeonato leva consigo muito mais prós do que contras e ainda lembra a anfitriã da última competição mundial. “Veja a África do Sul, por exemplo. Em vez de progredir economicamente, ela regrediu. Claro que guardadas as devidas proporções, até pelo poder de cada país nesse sentido (econômico). No entanto, o que estão fazendo com nosso país é algo repudiável. Não só no caso da Copa, mas na política em geral. Obviamente, a vinda de estrangeiros pode ser algo bom. Mas creio que, no fim, será um evento oneroso aos cofres brasileiros”.

Claudia Costa, estudante de jornalismo, fez a solicitação das entradas para o jogo de abertura. Ela, no entanto, crê que o momento não seja o mais apropriado para se sediar uma Copa do Mundo. “Existem outras coisas que deveríamos nos preocupar mais, onde o Brasil poderia investir de uma melhor forma”, comenta a estudante. Claudia, por outro lado, ressalta que o evento já está confirmado e não adianta boicotá-lo. “Acho que devemos aproveitar ao máximo a oportunidade. O evento está ai, ele vai acontecer e os gastos já foram feitos. O boicote deveria acontecer quando o Brasil foi escolhido, antes dos gastos. Agora temos de apoiar a realização para recuperar o dinheiro”, analisa.

A FIFA fará um sorteio para, então, serem efetuadas as compras dos bilhetes para os jogos do torneio pelos solicitantes. A Copa do Mundo do Brasil terá seu jogo inicial no dia 12 de junho de 2014.

Leonardo Ferreira (2º semestre)

 

Jogadores da Seleção comemoram gol em amistoso de preparação para a Copa. Foto: Rafael Ribeiro / CBF