Experiências imersivas unem arte e tecnologia

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Linha do tempo, na exposição de Salvador Dalí. Foto: Isabella Laste

Isabella Laste – 3o semestre

Museus e centros culturais da capital paulista estão adotando tecnologias de ponta, como realidade virtual (RV), realidade aumentada (RA), inteligência artificial (IA) e instalações interativas, para proporcionar experiências inéditas. A integração desses recursos tecnológicos com as obras de arte não apenas amplia os horizontes da criação artística, mas também redefine a forma como o público interage com o conteúdo cultural.

Um exemplo marcante dessa tendência é a exposição “Desafio Salvador Dalí”, em cartaz no Museu de Arte Brasileira (MAB) da FAAP a partir de 1º de maio de 2024, é uma celebração da mente brilhante do artista surrealista. Ocupando 1.200 metros quadrados, a mostra apresenta mais de 100 conteúdos inéditos trazidos diretamente da Espanha com a supervisão da Fundação Gala-Salvador Dalí. Organizada em seis áreas expositivas, a exposição oferece uma experiência imersiva única, que leva os visitantes às profundezas da imaginação de Dalí.

Os visitantes são convidados a levar seus smartphones e fones de ouvido para mergulhar ainda mais no universo daliniano através de um áudio-relato em formato de podcast, ativado por códigos QR distribuídos ao longo da exposição. No corredor central, os visitantes encontram reproduções das 100 obras mais importantes da carreira de Dalí, incluindo “La persistencia de la memoria” (1931) e “Cristo de San Juan de la Cruz” (1951), exibidas em “caixas de luz” com iluminação interna de filamentos de LED, aproximando texturas e cores das telas originais.

Caio Guidi, estudante de arquitetura, compartilhou seu entusiasmo pela exposição “Desafio Salvador Dalí”. “Eu gostei bastante da exposição, achei bem bacana. A parte que mais gostei foi onde mostra a linha do tempo de Salvador Dalí, com várias de suas obras de arte. Dá para notar a mudança no estilo dele, gostei muito. Foi uma das poucas que fui e com certeza a melhor”, declarou.

Valentina Boratto, estudante de jornalismo, destacou a importância da interação nas exposições modernas. “Eu acho que isso traz realmente uma interação maior. Eu fui na do Sandro Acker, e ele fez um negócio onde você entrava numa sala com uma obra real dele e, ao lado, tinha um painel de LED com uma câmera. Você podia aparecer na obra, tirar um print e até comprar uma versão personalizada que ele pintava. Acho que isso traz algo a mais, não é só um cenário para tirar uma foto e postar, mas algo para você participar, aprender e vivenciar de outra forma que não seja apenas olhando uma pintura ou viajando para vê-la,” explicou Valentina.

 

Museus Digitais: São Paulo na Vanguarda Cultural

A cidade de São Paulo, conhecida por sua efervescência cultural e inovação, está testemunhando uma revolução nas experiências artísticas oferecidas ao público. A combinação de arte e tecnologia está transformando exposições e museus, criando ambientes imersivos que transportam os visitantes para novas dimensões de percepção e interação.

As exposições imersivas e os museus digitais representam uma interseção fascinante entre arte e tecnologia, oferecendo aos visitantes experiências envolventes e interativas que vão além das exibições tradicionais. Esses conceitos surgiram como resposta ao desejo de criar formas mais dinâmicas e acessíveis de apreciar a arte e a cultura.

A estreia desse formato de exposição ocorreu no MIS Experience, um espaço dedicado a mostras imersivas dentro do Museu da Imagem e do Som (MIS). Em 2019, o local apresentou “Leonardo da Vinci: 500 Anos de um Gênio”, atraindo 500 mil visitantes em apenas quatro meses. Desde então, a capital paulista também recebeu exposições imersivas de outros grandes nomes, como Michelangelo, Monet, Banksy e Frida Kahlo.

Lucas Tolotti, professor de História da Arte na ESPM-SP, discute o impacto das tecnologias nas exposições de arte. Ele observa um aumento significativo nas exposições imersivas que utilizam realidade aumentada, realidade virtual e projeções, destacando a importância dessas tecnologias para o entretenimento e a exposição artística. “Por exemplo, uma obra de Van Gogh pode ser vista no museu em Amsterdã ou em uma exposição imersiva, mas também na tela do nosso celular ou computador. O que diferencia a exposição imersiva é a experiência que ela oferece,” explica ele.

Além do entretenimento, a junção de arte e tecnologia tem um papel significativo na educação e inclusão. O Museu da Imagem e do Som (MIS), por exemplo, lançou uma exposição interativa voltada para crianças e adolescentes, onde a gamificação é usada para ensinar conceitos de história da arte e cultura digital. Essa abordagem lúdica e interativa facilita a compreensão e desperta o interesse dos jovens pelo universo artístico.

O movimento em direção às exposições imersivas e aos museus digitais começou a ganhar força nas últimas duas décadas, impulsionado pelo avanço tecnológico e pela demanda do público por experiências culturais mais interativas e acessíveis. A popularização da internet e das tecnologias digitais nos anos 1990 e 2000 estabeleceu as bases para esse desenvolvimento, permitindo a criação de conteúdos ricos em multimídia e plataformas online.

Apesar dos avanços, a integração de tecnologia nas exposições artísticas também enfrenta desafios. A curadoria de exposições imersivas exige um equilíbrio delicado entre a inovação tecnológica e a preservação da essência artística das obras. Além disso, o custo elevado das tecnologias avançadas pode ser um obstáculo para algumas instituições culturais.

Lucas Tolotti aborda a questão das visitas virtuais a museus e se elas conseguem substituir a experiência de ver uma obra de arte pessoalmente. “Não substituem, cria uma experiência diferente, uma coisa é você ver virtualmente, outra coisa, é ver a obra fisicamente, pessoalmente”. Ele menciona que, embora a visualização virtual possa permitir a observação de detalhes que às vezes são difíceis de notar pessoalmente, como no caso da Monalisa, “outras coisas se perdem, como a aura da obra de arte descrita por Walter Benjamin, que envolve a presença histórica e estética da obra.”

No entanto, as perspectivas são promissoras. A popularidade crescente dessas experiências imersivas aponta para um futuro onde a tecnologia e a arte continuarão a convergir, proporcionando novas formas de engajamento e valorização cultural. São Paulo, com sua vanguarda cultural e tecnológica, está na vanguarda dessa transformação, oferecendo ao público experiências que desafiam os limites da imaginação e redefinem o conceito de exposição artística.

A combinação de arte e tecnologia está criando um novo paradigma para exposições e museus em São Paulo. Ao integrar ferramentas tecnológicas avançadas com a criatividade artística, essas instituições estão oferecendo experiências imersivas e inovadoras que encantam e educam. Com a promessa de contínua evolução, o cenário cultural paulistano se consolida como um dos mais dinâmicos e inovadores do mundo.

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