Acompanhamos três blitze da Operação Lei Seca na madrugada

Segunda blitz policial da noite, na av. General Olímpio da Silveira, embaixo do Minhocão | Foto: Daniel Rybak

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DANIEL RYBAK | DIEGO PINHEIRO | MURILLO GRANT | THIAGO MONTERO | THOBIAS MARCHESI
»»»São 21h30 de mais um sábado em São Paulo, na av. Sumaré, Barra Funda (zona oeste). A agitação da via pública é interrompida por cinco viaturas que estacionam no local, invadindo a calçada. Dez policiais militares – nove soldados e um sargento – descem armados dos carros. Um deles empunha um fuzil.
Logo a cena se repetiria em vários outros pontos da cidade. Blitze como essa, da Operação Lei Seca, já se tornaram parte da paisagem noturna da maior cidade do país.
O procedimento nessas operações é padrão. No início do bloqueio, os policiais se dividem por tarefas: uns preparam os bafômetros, outros distribuem os cones pela avenida e um terceiro grupo controla o fluxo de carros que passam pelo local.
A reportagem da Plural acompanhou, em carro próprio, três blitze na noite do dia 6 de abril. “Mantenha a luz da lanterna ligada, não o farol, e siga as viaturas”, pediu o sargento da PM Luiz Carlos de Queiroz. “Se corrermos, corra. Se pararmos, pare”. Obedecemos.
No roteiro, paradas na av. Sumaré (das 21h30 às 22h40), na av. General Olímpio da Silveira (das 23h10 à 0h50 do domingo) e na av. Auro Soares de Moura Andrade, ao lado do Terminal Barra Funda, até 1h30.
No início dos bloqueios, dois policiais selecionam os motoristas que passarão pela avaliação, fase chamada de pré-teste, em que é usado um tipo de bafômetro menos preciso. Um dos policiais, que se mantém na pista, guia os carros por um segundo corredor, onde é efetuada a abordagem com bafômetro para os reprovados no pré-teste; o outro permanece mais afastado e, quando necessário, ajuda a indicar esse outro corredor ao condutor do veículo.
Na av. General Olímpio da Silveira, as autuações aumentam e o trabalho da polícia começa a ficar mais intenso. A localização, em cima da av. Pacaembu e embaixo do Minhocão, é bem mais movimentada. Ocupando todas as pistas da via, os policiais usam os bafômetros com frequência.

Segunda blitz policial da noite, na av. General Olímpio da Silveira, embaixo do Minhocão | Foto: Daniel Rybak

Apreendido
Um dos motoristas abordados, acompanhado por dois amigos, desce do carro alegando não ter bebido. Insiste em não fazer o teste oficial do bafômetro. No veículo, canecas e uma lata vazia de energético. Os policiais conversam com ele e tentam deixar claras as consequências da decisão. O carro é estacionado.
Passado um tempo, o rapaz, de aproximadamente 21 anos, faz o teste. Reprovado. O carro é apreendido. O motorista é levado em uma viatura policial para a delegacia mais próxima. Os amigos, deixados na avenida, ficam à procura de um meio de voltar para casa.
“Esse é um caso típico da desinformação que existe hoje em relação à alcoolemia”, explica o soldado da PM Braga. Alcoolemia é a incidência de álcool no sangue. Segundo Braga, se o motorista tivesse feito o teste, só seria autuado e ter a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) recolhida. Ao ser pego no pré-teste, o motorista sofre processo administrativo. Recusando-se a fazer o teste, o cidadão é processado também criminalmente. “O que ele pode fazer para amenizar a vida dele é fazer o teste e não entrar na parte criminal”, esclarece o policial militar.
Ao entrar na via criminal, o procedimento muda. “Ele vai para o DP (Distrito Policial) prestar um inquérito e perde a habilitação por um período que vai de seis meses a um ano”, explica o soldado Braga. “Ele está tendo a oportunidade de provar que não bebeu. Todas as chances foram dadas e ele recusou todas. Não vai ser preso, mas vai pagar cestas básicas e prestar serviço comunitário.”
Completando quase duas horas de permanência no local, os policiais se reúnem para decidir a nova localização da blitz – os pontos não são pré-definidos pelos agentes.
Na av. Auro Soares de Moura Andrade, ao lado do Terminal Barra Funda, há pouco movimento. Há 10 anos na Polícia Militar, o soldado da PM Paulo Lobato afirma que o local é um dos campeões em autuações. “Os motoristas preferem dirigir por vias menos movimentadas para fugir da blitz. É justamente aí que são pegos.”