Guilherme Zaguini, Theo Fava e Viviane Tolosa (2º semestre), Arthur Sapiro, Giullia Capaldi e Livia Matos (1º semestre)
Foi dado início, nesta segunda-feira, 23, ao 16° Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji. O evento de jornalismo, que já se tornou uma referência entre profissionais e pesquisadores, será realizado até o dia 27, sexta-feira, para as mesas temáticas, e seguindo nos dias 28 e 29, sábado e domingo, para as oficinas. Devido à pandemia da Covid-19, o evento está acontecendo de maneira on-line e conta com a participação de grandes nomes da comunicação no Brasil e no mundo, dentre eles os jornalistas Fernando Gabeira, Márcio Gomes e Marcelo Beraba, além da documentarista estadunidense Raney Aronson-Rath e o pesquisador em jornalismo Rosenthal Alves.
O evento iniciou com a cerimônia de abertura, e, para o restante da semana, inclui temas variados para os espectadores participarem, como “O que jornalistas e comunicadores digitais podem aprender uns com os outros”, que consistirá numa entrevista da cofundadora do projeto Redes Cordiais e especialista em combate à desinformação, Clara Becker, com o comunicador digital e influencer, Felipe Neto.
Alguns dos eventos serão gravados, mas a maioria será reproduzida em tempo real, com participação da audiência, sendo possível a oportunidade de envio de comentários e perguntas através das redes sociais. “O formato é parte de um esforço para garantir qualidade, bem-estar e tranquilidade tanto para os palestrantes quanto para os participantes”, de acordo com a Abraji.
O Portal de Jornalismo da ESPM-SP cobrirá algumas das palestras durante a semana, incluindo “Índia e Brasil”, mediado por Patrícia Campos Mello, na sexta-feira, 27, e “Checadores e TSE”, com a mediação de Cristina Tardáguila, no mesmo dia.
As inscrições são gratuitas e podem ser realizadas pelo site: https://eventos.congresse.me/congressoabraji.
Mesa aborda busca por informação em locais violentos: “nenhuma notícia está acima da vida”
Nesta terça-feira, 24, a mesa Jornalistas assassinados no México e no Brasil: histórias contadas em podcasts contou com a presença da coordenadora do programa Tim Lopes, da ABRAJI, Angelina Nunes, e a diretora de Defensores de la Democracia, Alejandra Chaoul
As palestras abriram o debate que abordou a questão dos assassinatos de jornalistas no México, em especial a morte de Nevith Jaramillo, assassinado por expor denúncias “como se fosse uma vitrine”. Em 2019, com os mais de 140 jornalistas assassinados, a comunidade jornalística buscou obter respostas. Assim, foi criado o podcast Vozes Silenciadas, com seis episódios sobre a história e o legado de Nevith, além de demonstrar a realidade no país: a falta de liberdade de expressão somada aos crimes nunca solucionados, tornavam o clima hostil para a divulgação de notícias.
Diante de um histórico de caos, o dilema em que muitos jornalistas se encontram é se devem ou não colocar integridade física e mental em jogo em prol da informação. Segundo Angelina, “nenhuma notícia está acima da vida”. Para ela, deve-se encontrar maneiras de informar a população de forma que o profissional se mantenha protegido. Um exemplo citado foi acionar instituições maiores e estar vinculado a veículos grandes de informação. A coordenadora também ressalta que existe a “lei do silêncio”, nome dado ao fato das pessoas não falarem sobre os assassinatos, com medo.
Em suma, os jornalistas devem se resguardar e serem seletivos com as fontes. O México é um dos lugares mais perigosos de se atuar na profissão, assim como o Brasil, que não se isenta de possuir um certo grau de periculosidade. A presença de milícias, tais como PCC (Primeiro Comando da Capital) e CV (Comando Vermelho), torna difícil a atuação dos jornalistas investigativos nesse meio. Além disso, o ódio aos profissionais e o aumento da violência dentro do governo contribuem para tamanha violência, o que torna o Brasil e o México semelhantes nesse quesito. Fora isso, a polarização política e os veículos midiáticos amigos e inimigos contribuem para tirar a credibilidade do trabalho da imprensa.
Cade Metz, do NYTimes, e Natalia Mazotte, da Abraji, discutem a Inteligência Artificial no jornalismo
Na tarde desta quinta-feira, 26, aconteceu o bate-papo “Uso de inteligência artificial no jornalismo” entre o jornalista Cade Metz, do jornal The New York Times, e a diretora da Abraji, Natalia Mazotte.
Um dos primeiros assuntos abordados por Natalia para Cade foi a maneira que os jornalistas informam os desenvolvimentos tecnológicos em suas matérias. O jornalista afirmou que, majoritariamente, os jornalistas costumam fazer colocações equivocadas. Cade cita a maneira como a mídia enxerga o desenvolvimento da inteligência artificial de empresas americanas, dando como exemplo, o desenvolvimento dos robôs humanoides da ‘Boston Dynamics’ e os carros autônomos da ‘Tesla’.
Cade elogiou o progresso tecnológico de ambas as empresas, mas esclareceu que ainda não atingiram a perfeição, e os vídeos fornecidos para os jornalistas onde é demonstrada a capacidade que suas criações têm de ser autônomas ou de replicar ações humanas como correr e pular são manipulados. Cade explica que muitas vezes são os cientistas que estão de fato controlando as ações dos sistemas nos vídeos demonstrativos para evitar qualquer falha. O jornalista encerrou seu comentário dizendo que, apesar destes sistemas de inteligência artificial replicarem ações humanas, eles não são, ainda, de fato independentes.
Sobre o jornalismo, foi colocada uma comparação entre a forma com que o jornalista dos anos 90 apurava e noticiava os fatos em relação aos dias atuais. A diferença está na sociedade, que antigamente não andava com a tecnologia no bolso, justificando a não curiosidade em entender, ou criticar as notícias. A proximidade do jornalista que cobre a área no Vale do Silício ainda é semelhante, mas o que mudou, de acordo com Cade, foi a maneira com que as inovações são interpretadas, pois atualmente há interesse da sociedade na área, principalmente quando se trata de Inteligência Artificial, onde mudanças momentâneas que interagem diretamente na sociedade podem ocorrer.
Foi defendido por Cade a importância do jornalista responsável ter uma visão mais ampla daquilo que foi apurado, ou seja, traduzir os termos tecnológicos e possibilitar que o leitor interprete os pontos positivos, negativos e as consequências que aquela nova tecnologia pode oferecer.
Marcelo Beraba e Fernando Gabeira debatem o jornalismo político no último dia das mesas temáticas
Na sexta-feira (27), último dia do 16° Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji, Marcelo Beraba entrevistou o jornalista, escritor e político Fernando Gabeira. Os temas abordados foram a pandemia e quais os impactos negativos e positivos para a imprensa, jornalismo e política. Além disso, Gabeira relembrou os principais momentos de sua carreira.
O que fazer? Como se prevenir? Qual vacina devo tomar? A pandemia trouxe diversos questionamentos e dúvidas às pessoas, que começaram a buscar cada vez mais informações. Segundo Fernando Gabeira, “a imprensa passou a ter mais credibilidade na pandemia do que os próprios negacionistas”, e “transmitir informações que ajudassem a sociedade na sua sobrevivência” foi uma das funções do jornalismo nesse período.
O avanço da tecnologia ao longo dos anos é evidente e os impactos dos recursos digitais na sociedade é cada vez mais presente. Ao ser questionado sobre o tema, Gabeira respondeu que “a capacidade de contar uma história foi amplamente potencializada através da evolução material. Então, hoje você pode contar uma história que não depende única e exclusivamente da palavra, você pode utilizar inúmeras possibilidades de mostrar à pessoa o que aconteceu”
O diálogo também relacionou a pandemia com o atual governo Bolsonaro: “ao se colocar contra um fato histórico dessa dimensão gigantesca, que é uma pandemia, ele [Bolsonaro] praticamente cavou, no meu entender, o túmulo [político] dele”.
Indagado sobre um recado para a futura geração de jornalistas, Gabeira afirmou ser difícil aconselhar jornalistas, porque eles semprem encontram os seus caminhos.