A cultura do esporte vende a superação do herói, diz psicóloga do COB

08.08.2021 - Jogos Olímpicos Tóquio 2020 - Vôlei Feminino. Final. Brasil x Estados Unidos. Na foto a atleta Fê Garay. Foto: Wander Roberto/COB

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Arthur Sapiro (1º semestre) e Fernanda Delgado (2º semestre)

A psicologia do esporte estuda a forma como pensamentos, ações e emoções afetam os atletas, principalmente em contexto de alto nível. É enorme a pressão pela performance que o atleta enfrenta diariamente, seja dele próprio, de seu técnico, da equipe, ou mesmo, de familiares e amigos. Estas cobranças podem levar a transtornos graves como depressão, bipolaridade, crises de ansiedade e até a Síndrome de Burnout.

Para Carla di Pierro, psicóloga do Comitê Olímpico do Brasil (COB), a cultura do esporte vende a superação e o herói e os atletas vão assumindo essa narrativa: “eles são pessoas, seres humanos que também têm seus momentos de baixa e dificuldade”.

De acordo com Carla, é importantíssimo o apoio psicológico para o atleta, seja aquele que está na iniciação e pode ganhar repertório para lidar com as emoções e tudo que envolve o esporte e suas pressões desde o início, ou aquele que já está sob os holofotes e que por isso, enfrenta uma pressão maior ainda.

“Se pensarmos em uma pessoa, ela não é só corpo. Ela é corpo e mente, intrinsecamente ligados. Não basta estar preparado fisicamente para um desempenho atlético se a mente não estiver preparada e treinada para aquela situação”, afirma Carla.

Este ano, devido ao ocorrido nas Olimpíadas de Tóquio, em que a ginasta norte-americana Simone Biles decidiu sair da competição a fim de conservar sua saúde mental, tornou-se evidente a necessidade de preparo emocional dentro do esporte, afinal, o segredo de um bom desempenho está justamente na combinação do preparo físico e mental, que atuam em conjunto diariamente. Mesmo assim, a desistência da ginasta dividiu opiniões, alguns entenderam-na, outros, a criticaram.

Segundo a psicóloga, todos os atletas têm que desenvolver capacidades mentais, emocionais e comportamentais para aprender a lidar com o que sentem e pensam, assim, conseguindo performar fisicamente.

É incontestável, para ela, a influência de acompanhamento psicológico na performance de um atleta durante os treinamentos. “Na última Olimpíada, em Tóquio, o Brasil teve recorde de medalhas. Das 21 obtidas, 90% dos atletas tinham acompanhamento psicológico em sua equipe, comprovando os efeitos da psicologia esportiva”, diz a psicóloga do COB.