Vinícius e Valesca: duas visões antagônicas sobre relacionamentos

Share

Luiza Lourenço


“Se você quer ser minha namorada (…)
Você tem que me fazer
Um juramento
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer…”
(Vinícius de Moraes)

“Tá para nascer homem que vai mandar em mim (…)
Mal sabe meu nome e já tá querendo me ter
Nunca dependi de homem pra coisa nenhuma
Se tuas negas são tudo assim, desacostuma”
(Valesca Popozuda)

»»»Dois tempos, duas visões do amor. Carioca e boêmio, Vinícius de Moraes é um dos poetas brasileiros mais conhecidos. Ele nasceu em 1913 no bairro da Gávea, na capital fluminense, mas não se contentou em ficar apenas lá. Diplomata, viajou o mundo e morou em diversos países, como Inglaterra, Estados Unidos e Portugal.
Além de ter conhecido diferentes culturas em sua profissão, foi dramaturgo, jornalista e compositor. Desde então, foi apelidado de “poetinha” por causa de seus sonetos.
Neles e em centenas de outros poemas, Vinícius falava de um amor idealizado e de uma mulher apaixonada, cega, que apenas pensava em seu amado.
Há que se considerar, no entanto, que, sob esse ponto de vista, a figura feminina é colocada em uma posição submissa e passiva, que apenas respeita e cumpre os desejos de seu homem, sem reclamar.
Contrapondo o poetinha, a rainha do funk carioca, Valesca Popozuda, canta a evolução de uma mulher oprimida, que apanhava do amado, mas decidiu que não precisa mais dele, que se basta por si. Valesca mostra o sexo feminino como poderoso, sexy e independente de qualquer homem.
Autônomas e decididas, as mulheres de suas músicas escolhem com quem querem estar e o que farão com seus próprios corpos. Na sua composição de maior sucesso até hoje, “Beijinho no ombro”, canta: “Não sou covarde, já tô pronta pro combate”.
Essa visão reflete a vida da cantora. Nascida no bairro do Irajá, na zona norte do Rio de Janeiro, em 1978, Valesca começou a vida profissional como frentista em um posto de gasolina.
Ascendeu quando entrou para o funk como empresária e cantora do grupo Gaiola das Popozudas, que foi um dos pioneiros do gênero por introduzir o neofeminismo – a recuperação da feminilidade, que também reforça a ideia de que a mulher não é um sexo frágil – nas músicas. Em 2013, decidiu se separar do grupo e seguir carreira solo. Atualmente, ela é um ícone do empoderamento da mulher.