Julia Morita, Ana Fontes e Letícia Baptistão – 2º semestre de Jornalismo
O fortalecimento da imprensa, com a retomada da credibilidade da mídia, é o caminho mais eficaz para a construção de um novo Brasil, a partir de uma participação cidadã e do pluralismo político, conforme defende o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto. Convidado especial do 1º Seminário Internacional de Jornalismo ESPM, realizado em 9 de outubro, em parceria com a Columbia Journalism School, o ministro destacou o papel do jornalismo para o exercício da democracia e do desenvolvimento nesse contexto.
Ayres Britto reforçou essa perspectiva ressaltando que a imprensa brasileira é crítica e denunciadora. “Ela forma opinião no âmbito da sociedade civil. Dá a oportunidade de conhecer uma nova explicação que não a oficial sobre tudo. Cumpre seu papel”, declarou.
Para o ex-presidente do Supremo, essa condição só se realiza, contudo, se houver liberdade de expressão, liberdade para a imprensa se manifestar. “A manifestação de pensamento é um direito. A pessoa humana sem esses direitos se reduz a uma sub pessoa. Acesso à informação, liberdade de expressão, plenitude, fazem parte da estrutura do indivíduo. Não existe a personalidade humana de um lado e esses direitos de outro”, disse Ayres Britto, ponderando, contudo, as exposições a que está suscetível quem faz mau uso dessa liberdade de expressão.
Jornalismo investigativo
Em linha com a fala do ministro, o ganhador de dois prêmios Pulitzer e atual reitor da Columbia Journalism School, Steve Coll, destacou que está emergindo com força cada vez maior uma manifestação contra a proliferação de notícias falsas, em prol da transparência, da checagem de informações e de outras práticas ligadas à ética jornalística –o que também fortalece a retomada da credibilidade.
Coll também discutiu sobre o jornalismo investigativo e os desafios do jornalismo impresso. O reitor descreveu de forma geral a profissão, afirmando que é um tempo bom para o jornalismo investigativo, devido às mudanças nas estruturas de informação. Ele disse que novas formas de produção de notícias pelas gigantes empresas donas de plataformas digitais, como o Facebook, são inevitáveis.
Para ele, o trabalho técnico do jornalista é cada vez mais necessário, uma vez que as novas tecnologias permitem que muitas pessoas tenham acesso a informação e divulgação das mesmas. “O problema atual é ter mais informação do que jornalistas profissionais para lidar com elas”, afirmou.
Coll ainda declarou que o jornalista precisa mostrar mais sobre a procedência da informação que é divulgada para que o público possa checar esses dados. “Fazer um relatório forte, independente, transparente e credível. Isso não é suficiente, nós temos que mostrar ao nosso público mais sobre a nossa lição de casa, temos que ser mais transparentes como jornalistas sobre como desenvolvemos essas histórias que estamos publicando”.
Ele crê que está na nova geração a capacidade de compreensão do papel atual do jornalista e das mudanças estruturais no mundo. “Hoje os estudantes estão nesse propósito. Eles estão olhando por aí, ansiosos, compreensivelmente, sobre como trabalhar e quando ter que ir para rua para relatar”, diz Coll.
Investimento na educação
Com o objetivo de incentivar essa nova geração, o presidente da ESPM, Dalton Pastore, aproveitou a abertura do evento para fazer um apelo em benefício da proliferação dos aportes em fundo de bolsas para as faculdades brasileiras. “Estamos desperdiçando talentos. Assim como surgem diversos talentos no futebol que são exportados para o mundo, temos talentos que podem nos levar ao desenvolvimento, e estes, a gente desperdiça, porque vão para o exterior.”
A forma de não perder estes talentos é alimentando um fundo de bolsas”, disse o presidente, que complementou afirmando que uma educação de excelência é o melhor caminho para o desenvolvimento.
Formação do jornalista
Assim como Pastore, Ernest Sotomayor, diretor de iniciativas latino-americanas da Columbia Journalism School, acredita na necessidade de boa formação dos jornalistas e crê que ainda há muito a aprender sobre jornalismo e sobre suas evoluções, como a relação desse campo com o uso de dados e de algoritmos.
Tanto que a Columbia desenvolveu no curso de jornalismo uma atuação conjunta com a área de computação. “Nosso desafio é lidar, não só com estudantes que sabem como escrever e gravar, mas também com estudantes que podem desenvolver novas formas de jornalismo, adeptos a novas tecnologias”, contou.