Bianca Marcondes (2º semestre)
A Caçandoca é uma comunidade de remanescentes quilombolas localizada em Ubatuba, no litoral Norte de São Paulo. Reconhecido em 2005 pelo INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), o local tornou-se o primeiro quilombo assegurado em áreas marítimas. Atualmente a região é formada por cerca de 80 famílias que priorizam a preservação do território e aproximação com a natureza em seu cotidiano.
Para preservar o ambiente – do qual 90% dos 890 hectares estão protegidos – a comunidade cuida das praias, córregos e do manguezal, nomeado de Terra do Guaiamum, uma espécie de caranguejo comum na costa brasileira. Em entrevista à National Geographic, o oceanógrafo Octavio Aburto descreve o mangue como “lagoas ou áreas alagadas que se formam quando as águas doces provenientes de rios e córregos fluem até o oceano e se misturam com a água salgada do mar”.
Devido a transição entre água doce e salgada e a alta quantidade de matéria orgânica disponível, os manguezais contam com uma grande biodiversidade de moluscos, aves, mamíferos, répteis, anfíbios e uma flora composta por mangue, vegetação típica do sistema. Essa variedade impacta a distribuição de alimentos dos brasileiros, visto que 70 a 80% dos peixes, crustáceos e moluscos que a população consome precisam do mangue em alguma fase da vida, segundo o Observatório do Clima.
Esse ecossistema também tem uma função essencial na mitigação das mudanças climáticas, especialmente por proteger a zona costeira de eventos extremos, a exemplo enchentes, além de atuar como sumidouros de carbono, equilibrando a quantidade de CO2 que a atmosfera libera ao armazenar esse gás. Apesar da importância, levantamentos do Observatório do Clima apontam que o Brasil perdeu 20% dos manguezais nos últimos 17 anos.
Assim, o território da Caçandoca segue sendo um espaço de preservação ambiental e cuidado com a natureza. Uma das lideranças do grupo, Mário Gabriel do Prado, destaca as atividades ambientais realizadas com as crianças nas escolas da comunidade e do município como intermediador do ser com a natureza, permitindo que os jovens aprendam a conviver com o meio ambiente. “Nós mostramos que o modo de vida que vivemos no quilombo também é possível de ser praticado fora do território: sem desmatar, sem descuidar e aprendendo a cuidar do lixo”, acrescenta do Prado.