MARINA AYUB
Gabriel García Márquez, em um famoso discurso na Sociedad Interamericana de Prensa (SIP), em 1996, disse: “Toda a formação deve se sustentar em três vigas mestras: a prioridade das aptidões e das vocações, a certeza de que a investigação não é uma especialidade dentro da profissão, mas que todo jornalismo deve ser investigativo por definição, e a consciência de que a ética não é uma condição ocasional, e sim que deve acompanhar sempre o jornalismo, como o zumbido acompanha o besouro”.
Esta edição da Plural materializa o discurso do escritor. Exercitamos nossas vocações, colocamos em prática a possibilidade da investigação e debatemos conceitos de ética jornalística. Demos um salto quantitativo e qualitativo em nossa (futura) profissão. Fomos, enfim, jornalistas.
Experimentamos os mais diversos sentimentos em todas as etapas. Primeiro, a escolha do tema: direitos humanos. O Brasil – e o mundo – vivem um período conturbado, e muitas vezes nos esquecemos do significado da democracia e do direito da pessoa humana. A Plural deste semestre teve como objetivo retratar, refletir e repercutir um pouco desse cenário.
O aspecto desumano dos presídios brasileiros, os linchamentos e as agressões moral e física contra infratores, os resquícios da ditadura, entrevistas com acadêmicos e especialistas e mais. Muito mais. Exploramos os ícones que lutam a favor dos direitos humanos, mas também descobrimos os eventos e personalidades que agem no sentido contrário, incitando o ódio.
Experiências
Carla Fernandez e Fernanda Botteghin, que escreveram a matéria da capa da edição e também o perfil da médica missionária Zilda Arns, concordam que uma das melhores partes da experiência é ver o resultado do trabalho jornalístico. Carla afirma: “Uma das maiores dificuldades foi editar e escolher uma determinada quantidade de conteúdo para publicar. Conseguimos muito material bom”.
Para Fernanda, a história de Zilda Arns foi comovente. “É muito interessante poder conhecer mais sobre uma pessoa tão altruísta.”
“Foi difícil escolher somente algumas pautas para trabalhar, todas eram muito relevantes”, conta Fernanda. As futuras jornalistas também comentam sobre a experiência de escrever matérias mais longas, realizar a edição e diagramar. “Criei grande expectativa para participar da revista e, no fim, ver o resultado nas mãos é muito gratificante”, diz Carla.
Para Anita Efraim, o incentivo a nos desinibirmos e darmos o primeiro passo para entrevistar alguém foi um ponto interessante do processo. Anita conta que procurar contatos como o de Ivo Herzog e de especialistas em direitos humanos e criar as oportunidades para as reportagens foi essencial.
“Mas também houve dificuldades, como entrevistar pessoas de cujas opiniões eu discordo. No momento da entrevista, é preciso excluir totalmente o nosso lado pessoal e deixar de lado as ideologias. Profissionalismo é o que importa na situação”, comenta.
Sistema carcerário
Já Guilherme Machado comenta que uma das maiores dificuldades para a reportagem sobre presídios foi a greve dos agentes penitenciários em São Paulo que durou 15 dias e terminou no dia 26 de março. “Só conseguimos visitar um presídio militar. Lá é uma realidade diferente. Não é o tipo de presídio que tentamos mostrar na matéria. De maneira geral, o sistema carcerário brasileiro está em péssimas condições.”
No entanto, Guilherme diz que, com a grande quantidade de informações que foi adquirida no presídio militar, a reportagem não foi prejudicada. Ele também afirma que a experiência da Plural fez com que se sentisse mais preparado para outros desafios.
Isabela Souza conta que o maior aprendizado foi saber mais da história do país pelas pessoas que vivenciaram a época da ditadura. “Saber com detalhes o que aconteceu com cada torturado e também ter a visão da parte dos militares me fez refletir sobre o que aconteceu naqueles anos sombrios. A parte mais difícil foi ser imparcial.”
A jornalista Eliane Brum, em seu livro de ficção “Uma Duas” escreve: “Como pode a vida absorver tanto horror e seguir adiante”. Nós, os futuros profissionais de comunicação, e aqueles já consolidados, absorvemos histórias que nos fazem refletir. Absorvemos, por vezes, o horror. Mas ele deve ser contado, deve ser pensado, deve ser combatido.
Isabela conta sobre como foi ouvir de uma senhora de 70 anos que ela foi estuprada por 10 oficiais da ditadura militar. “São coisas que só indo para a rua a gente vai escutar e aprender. São coisas pesadas e tristes. E aí nos perguntamos se é o que queremos fazer para nossas vidas. Mas é o que eu quero. Eu aprendi a ouvir os diferentes lados.”
Veja aqui depoimentos dos alunos participantes da Plural