Paralamas do Sucesso completam três décadas de carreira

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Soprando 30 velinhas, a banda que marcou gerações segue com turnê comemorativa pelas principais capitais brasileiras
 

“Os Paralamas do Sucesso iam tentar tocar na capital (…) então pra lá se encaminhou, ele foi com sua moto porque de carro era baixo astral”, foi com esses versos do primeiro single “Vital e sua moto” (1983), que os Paralamas do Sucesso começaram a fazer história na música brasileira. Hoje, 30 anos depois, a banda comemora sua trajetória com uma turnê de shows esgotados em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Recife, Salvador e duas apresentações ainda a ocorrer em Belo Horizonte, no dia 22 de junho, e em Brasília, cuja data ainda não foi confirmada. Com três décadas de carreira, o grupo continua a fazer jus ao seu nome.

Os Paralamas do Sucesso no início da carreira, em 1983 (a esq.), e recentemente em 2013 (a direita). Fotos: divulgação. Montagem: Laís Guidi

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os integrantes são os mesmos desde 1982: Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone. Entretanto, segundo Kleber Mazziero, maestro, mestre em Comunicação Social e cineasta, mesmo que a formação tenha se mantido, principalmente pela cumplicidade interna dos integrantes, a banda passou por mudanças durante esses anos. “Hoje me parece mais intensa, com letras mais profundas. É semelhante à gente: mais madura aos 30 anos do que aos 20 e aos 10, com vantagens aqui e desvantagens acolá”, explica.

Para o jornalista musical e colaborador do jornal Folha de S. Paulo Carlos Messias, o tempo fez com que os integrantes se tornassem músicos mais competentes ao vivo, fazendo ótimos shows, mesmo que apresentem certo “desgaste” em relação à criatividade. “Uma banda aos 30 anos jamais é igual ao que era no início da carreira”, argumenta. Ele ressalta o fato de os antigos hits serem o principal motivo para a banda ter conseguido manter o sucesso durante esses 30 anos. “Isso mostra como o público brasileiro é nostálgico”, diz.

Segundo Messias, o grande feito dos Paralamas foi sua inusitada mistura de pop, rock e ska (inspirada por The Clash), algo que o Brasil não conhecia e que se tornou uma das principais vozes do BRrock. “A banda ainda fez coisas interessantes nos anos 90, mas nada se compara aos hits e à energia dos anos 80”, defende. Mazziero também cita essa fase como sendo significativa para o grupo. “Acho que algo que marcou a banda foi o sucesso de início, nos meados da década de 80”, conclui.

História

Formada no final dos anos de 70, Os Paralamas do Sucesso, ou só Paralamas, traz na bagagem de 30 anos incontáveis prêmios, dentre eles, 4 Grammy Latino e 2 Troféu Imprensa.

Com composições que misturam rock, reggae, instrumentos de sopro e ritmos latinos, a banda teve seu auge com o CD “O Passo do Lui”, em 1984, contendo diversos sucessos como “Óculos”, “Me Liga” e “Meu Erro”. As letras politizadas e rebeldes marcaram os primeiros anos da banda, como “O Beco” e “A Novidade”.

Os Paralamas vieram a fazer grandes colaborações musicais como a voz de Gilberto Gil em “Alagados” e “A Novidade” , e a guitarra de Brian May, da banda inglesa Queen, com a música “El Vampiro Bajo El Sol”.

Em 1991, a banda sofreu uma perda de popularidade quando, inspirados a testar novos ritmos, lançaram o CD “Os Grãos”. Algumas músicas ainda enquadraram algum sucesso, como “Trac-Trac” e “Tendo a Lua”. A baixa venda de CDs também se relaciona à grave crise econômica que o Brasil enfrentava, mas, ainda sim, o vocalista Herbert lançou seu primeiro disco solo. Mesmo com as críticas da imprensa e pouco espaço nas rádios, o público latino ainda se encantava pela banda. Os Paralamas do Sucesso chegaram a gravar, em 1992, uma coletânea em espanhol de suas músicas.

 

No final da década de 90, a banda voltou com o conceito mais pop e músicas de fácil compreensão, colaborando para o retorno de seu sucesso entre o grande público. É nessa época que os videoclipes passaram a ser mais bem produzidos, o que rendeu à banda 11 prêmios no Video Music Awards Brazil, de 1995 a 1999.

Em 2001, o acidente de Herbet Vianna veio a comprometer o futuro da banda. As sequelas foram duras, mas o vocalista do Paralamas do Sucesso voltou aos palcos para trazer ao público outros grandes sucessos, como “O Calibre”, “Segundo Estrelas” e “Cuide Bem do Seu Amor”.

Tragédia

Tanto Mazziero quanto Messias comentam o acidente de ultraleve sofrido por Herbert Vianna e sua esposa Lucy Needham Vianna, no ano de 2001. Na ocasião, Herbert estava no comando e teria perdido o controle da aeronave ao tentar fazer um looping, levando o ultraleve a cair na praia de Mangaratiba, no Rio de Janeiro. Lucy faleceu na hora, e Herbert ficou paraplégico.

“Internamente deve ter significado o momento de uma reunião e fortalecimento dos laços entre os componentes – a morte, em regra, aproxima os vivos”, explica Mazziero. Para Messias, a tragédia vivida por Herbert foi acompanhada pelo Brasil inteiro, assim como a recuperação dele, trazendo a banda de volta aos holofotes da mídia. “Significou um exemplo público de superação. Poder vê-lo de volta ao palco foi como um milagre”, comenta o jornalista. O cantor voltou aos palcos de cadeira de rodas em novembro de 2002, um ano e nove meses depois do acidente.

Amor de fã

A assessora pedagógica Tamiris Curzio, 25 anos, percebeu que gostava dos Paralamas quando tinha 13 anos. “Estava em um supermercado quando peguei um CD deles e vi que gostava de todas as músicas. Levei-o na mesma hora e daí me apaixonei de vez”, conta.

Para ela, que acredita que seu interesse por violão e percussão na adolescência tenha sido influência do grupo, a mistura de sons, o ritmo contagiante e a poesia de Herbert que foge do senso comum são os aspectos que a fazem gostar tanto dos Paralamas. “Além disso, a qualidade musical é indiscutível”, ressalta. Tamiris relata já ter cometido loucuras para conhecer os membros da banda em dois shows. “São lembranças muito queridas e divertidas. O sorriso e a gentileza deles valeram todos os esforços!”, relembra.

A paixão do professor de geografia Matheus Cristiano de Freitas Oliveira, 30 anos, nasceu dentro do Chevette branco de seu amigo, quando ele tinha 13 anos. Quando seu amigo colocou a música “Vamo Batê Lata”, Oliveira se encantou com o solo de bateria do Barone. “Um dia quero tocar isso, pensei, e foi assim que aprendi a tocar bateria na adolescência”, lembrou. E seu sonho se tronou realidade: Oliveira formou uma banda de rock com os amigos e tocou em vários festivais.

Admite que é muito fã da banda, e quem convive com ele sabe disso. “Paralamas é a trilha sonora da minha vida. Todos os meus amigos e ex-namoradas sabem disso. Sempre tentam se encaixar em alguma música de Paralamas comigo, mas quando o namoro se vai, a música continua.”

Mas o professor não é o único que foi influenciado pelos Paralamas: Vinicius Gonçalves, 24 anos, repórter no site Catraca Livre, diz que sua música predileta é “Romance Ideal”. “Essa música tem uma letra impecável e uma simbologia importante para mim, pois foi uma das primeiras que consegui tocar no violão”, disse.

Foi em seu primeiro emprego, quando tinha 16 anos, que Gonçalves teve seu primeiro contato com a banda. “A caminho do trabalho passei numa loja de discos e fiquei deslizando os dedos à deriva nas prateleiras, quando, de repente, a capa do disco “Arquivo II” me despertou o interesse pela banda”, relembra.

Viria a perceber depois que o disco tratava-se de uma coletânea da banda, lançada em 2000. Até então, o jornalista conhecia a banda apenas pelos clássicos, como “Aonde Quer Que Eu Vá” e “Olhos Fechados”, mas o investimento foi certeiro e ele guarda o disco com carinho até hoje.

Ao resumir a admiração pelos Paralamas, Vinicius explica tratar sempre de momentos de amadurecimento da sua vida. “Para mim, o Paralamas é como uma caixa musical que abro para relembrar momentos especiais em que a banda foi trilha em minha vida. Não que tenha deixado de ser, pois ainda ouço”, afirma.

Ligação

O advogado Daniel Nobre, 32 anos, comenta ter se apaixonado pelo Paralamas da década de 80 e 90 por relacioná-los a sua adolescência. “A fase adolescente traz muitos questionamentos, muita despadronização da vida, muita vontade de ser diferente, de questionar, de ser independente, de entender as coisas, de não se limitar, de quebrar tabus, conceitos e a banda tocava isso. A banda era isso”, ressalta.  Daniel liga a rebeldia das letras da banda ao momento social que o país vivia: o crescimento da economia que havia estagnado nos anos de ditadura, e um Brasil ainda muito visivelmente dividido entre pobres e ricos. Essa rebeldia presente nas músicas fora o que prendera a atenção do adolescente no início dos anos 2000 até hoje.

Nobre ainda comenta um dos pontos interessantes da banda: ainda que retrate músicas de conteúdo bem reflexível e questionador, o Paralamas consegue fazer músicas românticas, tal qual uma de suas preferidas: “Cuide Bem Do Seu Amor”.

Daniel relaciona as canções com seu dia a dia. “Minha esposa acaba digerindo também as letras das músicas comigo, e as canções dos caras atravessaram adolescência, juventude e a fase adulta-jovem”, explica. Segundo ele, sua relação com a banda chegou ao ponto em que interfere direta e profundamente em sua vida, quando certa vez sua esposa, em uma discussão de relacionamento, lhe disse que ele estava agindo igual a uma música dos Paralamas, dizendo que ele machucava mais com as palavras do que com os gritos. “Depois dessa, ninguém melhor para me calar do que o Herbert Viana. Perdi a razão”, afirma.

Futuras gerações

E, enfim, os Paralamas que conquistaram tantas gerações, podem conquistar as atuais? Vinicius Gonçalves aposta que sim. “Sempre uma música, de amor ou sobre a cultura brasileira, vem e esclarece muitas coisas que antes estavam cobertas aos olhos da mente. Acho importante que as novas gerações se atentem à produção artística consistente desta banda”, finaliza.

Juliana Aguilera, Laís Guidi e Maha Assaf

(3o semestre)