Ibirapuera, entre passado, presente e futuro

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Sete décadas de mudanças levantam discussões sobre o futuro do parque. Foto: Ana Carolina Grande, Júlia Peres e Yasmin Gomes

Texto: Júlia Peres, Laura Prates e Yasmin Gomes- 1º semestre

Fotos: Ana Carolina Grande, Júlia Peres e Yasmin Gomes

O Parque do Ibirapuera, o Ibira, como é conhecido pelos paulistanos, completou neste ano seu 70° aniversário. Inaugurado em 21 de agosto de 1954, durante as comemorações dos 400 anos da capital paulista, o parque foi idealizado por diversos arquitetos, dentre eles, Oscar Niemeyer, atribuindo à construção o toque modernista e acessível valorizado por seus visitantes. Como cartão-postal de São Paulo, o parque é o centro de diversas movimentações culturais, abrigando peças de teatro, eventos musicais, esportivos e literários. 

Antes de se tornar o “pulmão da capital paulista”, o local onde hoje está o Ibirapuera era uma área alagadiça e desabitada – o que levou a origem de seu nome, que significa “árvore apodrecida”, em Tupi-Guarani. Com a crescente urbanização de São Paulo, apareceu a necessidade de criar uma área verde e de convivência. Nos seus primeiros anos, o espaço já era muito mais do que um simples parque. Abrigava edifícios importantes, como o Pavilhão das Culturas Brasileiras e o Museu de Arte Moderna (MAM), que se tornaram pontos de encontro para os amantes da cultura e das artes.

Um refúgio no meio da cidade 

Localizado na Vila Mariana, na região metropolitana de São Paulo, o parque se tornou um dos principais pontos turísticos do estado, recebendo cerca de 18 milhões de visitantes por ano. O Ibirapuera conta com extensa área verde da mata atlântica, 314 espécies de animais, além de museus famosos, como o Museu Afro Brasil, a Oca do Ibirapuera, o Pavilhão japonês e o Auditório Ibirapuera Oscar Niemeyer. Estão presentes também observatórios, planetários, serviços de aluguel de bicicletas, e espaços para práticas esportivas.

Assim, para muitos, o Parque Ibirapuera funciona como um refúgio do caos de uma cidade grande dominada pela urbanização. Ele representa um lugar tranquilo para descansar, praticar exercícios ao ar livre e manter contato com a natureza, afastando-se do ritmo agitado da cidade. “Em um dia como hoje, quando muitas pessoas estão no trabalho e eu estou de folga, prefiro vir curtir a natureza desse jeito, sem muitas pessoas por perto”, comenta Manuel, de 54 anos, que frequenta o parque desde os 12. 

Outro ponto de interesse no parque é o amplo acesso à cultura, com alguns eventos gratuitos e diversas construções que têm valor histórico e cultural, como o Pavilhão japonês, que possui um significado especial para a cultura japonesa.

Considerado o cartão-postal de São Paulo, o Ibira está sempre presente no roteiro de estrangeiros. Para a norte-americana Lizz Cone, que visita o Brasil pela primeira vez, o Ibirapuera oferece segurança e tranquilidade. “O parque é adorável”, afirma Cone à reportagem do Portal, destacando a oportunidade de estar longe dos carros, seguir seu próprio ritmo mesmo estando localizado em um centro urbano.

Privatização 

Depois de décadas sob o poder público, a gestão do Parque Ibirapuera foi concedida à iniciativa privada. Em outubro de 2020, a empresa Urbia Parques, que administra vários outros parques e similares, iniciou sua gestão. De acordo com o site da Urbia, os objetivos da concessão são recuperar a infraestrutura do parque, ampliar os serviços, melhorar condições de uso ao ambiente e equipamentos e reforçar a segurança no espaço.   

Entre as melhorias que chamaram a atenção do público estão a organização, com diversas placas novas e sinalização espalhadas no parque, e a segurança, elogiada pela maioria dos frequentadores que se sentem seguros dentro do local. A limpeza do parque, com os banheiros públicos em boas condições e a presença de várias lixeiras, contribuem para um ambiente mais limpo e seguro.  

 Projeções para o futuro

As melhorias associadas à privatização do parque vêm acompanhadas de imposições que dividiram a opinião pública.  Lucas Silva, 25 anos, afirma que não costuma consumir dentro do Ibirapuera e traz todos os alimentos e bebidas de casa. “A água do bebedouro (público) é quente, mas não dá para comprar (água) de garrafa aqui dentro, então eu pego em casa”, comenta Lucas, levantando questionamentos sobre a acessibilidade de valores do parque. “Pagar R$10,00 em um salgado é absurdo”, acrescenta. Além dos salgados, pipocas, cachorros quentes, águas de coco, picolés, alimentos comuns nas ruas de São Paulo são consideravelmente mais caros dentro do parque, o que desestimula parte dos visitantes a consumir ali. 

A equipe do Portal entrevistou uma vendedora que trabalha no parque que não pôde se identificar devido às normas da Urbia, que proíbe que funcionários dêem entrevista dentro do Ibirapuera. Em seu depoimento, esta revelou que todas as “barraquinhas” pagam uma taxa mensal à empresa para poder se instalarem. Essa medida leva ao aumento do preço dos produtos.

Outro tópico levantado pelos entrevistados foi o valor do estacionamento, que até 2020, era gratuito. A concessão implicou em uma taxa de R$18,00 em dias úteis e R$23,00 aos finais de semana e feriados. Tal cenário gerou uma mudança no comportamento de alguns visitantes, que optam por utilizar o transporte público para ir ao parque, como é o caso de Iracilda Marques, 62 anos: “Costumo vir de ônibus, mesmo que seja longe da minha casa, porque não compensa vir de carro”, lamenta-se. 

Já Silmara Moraes, estudante e frequentadora do parque, demonstrou outra preocupação com o futuro do Ibirapuera. Dessa vez, em relação à diminuição do número de eventos culturais. “Os eventos públicos serão mantidos?”, questiona à reportagem. As exposições gratuitas, que movimentam os interessados por arte, música e conhecimento, são cada vez menos frequentes dentro do parque. Já que o aumento dos preços limita o acesso de parte dos visitantes.

Veja a seguir um slideshow com fotos da matéria: