Especialista dá dicas para o jovem que inicia carreira

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Karin Parodi, sócia fundadora da Career Center, atua há mais de 25 anos na área de consultoria de carreira. Dada sua vasta experiência com jovens, Karin destaca questões que devem ser consideradas no início da carreira, como a importância do autoconhecimento e o constante questionamento a respeito da profissão.

Natalia Picanço: Para um jovem que já tomou a decisão mais difícil, que é escolher o curso que ele fará na faculdade, qual o próximo passo? Ele já deve começar a estagiar, enquanto está estudando
?

Karin Parodi: Se a faculdade dá esse tempo para o jovem estagiar – e geralmente as faculdades dão, não sei ao certo em qual semestre –, sem dúvida ele deve fazê-lo. O estágio é uma grande oportunidade para se experimentar coisas novas, ver pelo que esse jovem se interessa (ou não) para depois direcionar a sua carreira.  Logo, o estágio é uma fonte de aprendizagem e experimentação.


NP: Quais as possibilidades de carreira para o jovem que se forma?

KP: O jovem que se forma hoje no Brasil tem muitas possibilidades. Vamos falar um pouco de carreiras. Ele pode ingressar numa empresa, começando em posições que não tenham liderança de equipe, mas com o tempo podendo desenvolver a carreira, como em funções de trainee ou analista. Ele pode ir também para a área acadêmica, fazer mestrado, doutorado para dar aula ou ser pesquisador, dentre outras várias possibilidades. Outro caminho é montar um negócio próprio, sozinho, com os amigos, família etc. Só que montar um empreendimento não é fácil, o ideal é ter uma experiência anterior para depois montar negócio próprio. É importante ressaltar que nem todos os jovens têm  um perfil empreendedor. Mas o Brasil tem oferecido muitas oportunidades para esse jovem que está começando a carreira, o mercado está aquecido e favorecendo seu ingresso e suas opções de escolha.

NP: Então, atualmente, o mercado está muito bom para o jovem que está ingressando e a tendência é continuar assim?

KP: Sim, o Brasil se descolou da crise e sempre para o jovem que tem talento, força de vontade e que quer aprender, existe espaço. É um dos melhores momentos para o jovem ingressante no mercado.

NP: Você pode falar um pouco mais do perfil e das competências mais procuradas pelas empresas?

KP: Bom, vamos falar no geral, para qualquer área que esse jovem vai ingressar, seja marketing, RH, finanças etc. É muito importante que o jovem tenha interesse em aprender, que adore buscar desafios porque através deles, dos problemas, dos projetos, das coisas diferentes do dia a dia, é que esse jovem vai se desenvolver. Então, quanto mais esse jovem tiver interesse e disponibilidade para assumir desafios e resolver problemas, mais ele vai se desenvolver e mais será valorizado. Quando o jovem tem essa oportunidade, ele desenvolve competências, que são um conjunto de conhecimentos, habilidades e comportamentos. Além disso, é fundamental equilíbrio emocional, saber lidar com frustrações, ter iniciativa, ter domínio de idiomas e combatividade. Trabalhar em time também é uma competência muito importante, porque o jovem vai trabalhar com pessoas com perfis diferentes do dele e, o que mais agrega numa equipe, é a complementaridade de perfis. A gente sabe que ninguém é igual a ninguém, mas quanto mais ele entender o seu perfil, melhor vai ser.

NP: Que outras dicas você dá para um jovem que está procurando um estágio ou emprego?

KP: Bom, a primeira coisa é ter bastante força de vontade e persistência. Ele não pode achar que na primeira entrevista de estágio vai passar. Organizar um currículo é o próximo passo, mesmo que ele não tenha experiência – supõe-se que estagiário não tenha experiência. Outra dica é contar para o máximo de pessoas que ele puder que ele está procurando um estágio, quais são seus objetivos de carreira e em que área ele quer estagiar. É importante ressaltar que isso não quer dizer que o jovem vai fazer carreira necessariamente por essa área, estágio é experimentação. Ele pode também mandar o currículo para consultorias de recrutamento como a Newbie, CIEE. É interessante eleger algumas empresas-alvo em que o jovem gostaria de trabalhar, que ele admire, que ele acredite que poderia ser um local para aprendizado. Mas ele deve pesquisar sobre essa empresa, pois assim como ela pode escolhê-lo, ele também tem que escolher a empresa. Mas, no começo, muitas vezes a gente erra, escolhe uma empresa que não tem nossos valoRes, não tem a nossa cara. O que quero dizer é que não existe lugar perfeito.

NP: Depois que o jovem entra na empresa, como ele gerencia sua carreira?

KP: A carreira não é uma corrida de 200 metros, é uma maratona que pode tomar vários rumos, mas quanto mais e antes você souber qual o seu perfil e o mercado no qual você pode trilhar essa carreira, melhor. É importante começar a pensar num plano de carreira, se questionando “onde eu quero estar daqui a 10 anos, 20 anos?”. Está muito na mão desse jovem, porque o plano de carreira é dele. Contudo, ele precisa ter aderência ao mercado, não adianta ele desenhar uma carreira que não exista. Ele deve ter outras reflexões como em que tipo de posição ele quer estar nos próximos anos e em que segmento da economia, o que ele precisa estudar e que tipo de experiência ganhar para tomar esse novo passo de carreira. Com certeza esse plano de carreira terá de ser revisto sempre, porque o mercado muda, as empresas mudam e novos negócios aparecem. Esse profissional tem que estar olhando o que ele aprendeu aquele ano, pedir feedback para o gestor e sempre estar atento às oportunidades dentro da empresa porque pode ser um campo fértil para ele. Se ele não está feliz, ele tem que estar atento às oportunidades fora, através da construção de relacionamentos: o network. Ele é um ativo precioso de sua carreira e através dele, o jovem consegue oportunidades ocultas, novos desafios. Mas o network deve ser construído não à base de interesse, mas por vontade genuína de trocar novas informações. Se o jovem desejar realizar um movimento de carreira, ele acessará essas informações. Ele deve pensar constantemente na carreira, não tomando decisões de curto prazo. Sorte em carreira é ter se preparado para quando surgir a oportunidade. Se você não fez a lição de casa, não se preparou, não se desenvolveu, a oportunidade vai passar e você não vai ser considerado, porque você não tem o perfil. Olhe sua carreira como um negócio próprio. Tem que investir, tem que comparar com o mercado, e se questionar sobre quais são seus diferenciais competitivos, para onde o mercado está indo, quem precisa do seu perfil, das suas competências.

NP: Você tem algo que não foi tratado aqui e gostaria de comentar?

KP: Confie em você, cuide da sua autoestima. Muitas vezes você acha que vai crescer em um curto prazo, mas tem algo chamado ciclo da vida, nem sempre você vai crescer rapidamente, são poucos os que conseguem por terem algumas competências diferenciadas. Você tem que procurar aquilo em que você se encaixa mais, aí você vai ser feliz e fazer bem feito. Se é algo que não tem a ver com seu perfil, você vai gastar muita energia para se adaptar àquela posição e àquela carreira.  Não tenha medo de falar “vou começar tudo de novo porque não é isso que eu quero”. Caso contrário, lá nos 40 anos você vai ter uma crise de carreira, e já é outra etapa da vida, em que as pessoas têm família, filhos, obrigações. Portanto, jovem, experimente muito e busque conhecer seu perfil para poder direcionar sua carreira de forma mais adequada.

 

Natália Picanço (2º semestre)