Felipe Paiva, diretor de mercado da B3, e Diego Ramiro, presidente da Abai. Foto: Sophia Padovan
Bianca Marcondes e Sophia Padovan (1º semestre)
De acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), o patrimônio financeiro da população brasileira cresceu de R$ 2,1 trilhões para R$ 7 trilhões nos últimos 10 anos. Apesar desse avanço, o país enfrenta um cenário preocupante: mais de 72 milhões de brasileiros estão inadimplentes em 2025, o que representa cerca de 42% da população adulta.
Em entrevista ao Portal de Jornalismo, Enrico Balsan, assessor de investimentos da KAT Investimentos, destaca que o Brasil ainda possui uma cultura limitada de poupança, o que contribui para o endividamento como meio de construção de patrimônio. “O dinheiro acaba sendo algo secreto, pouco falado. Culturalmente, as pessoas não têm o hábito de discutir finanças, tratando o tema com estigma e delicadeza, quando deveria ser algo natural”, afirma.
Segundo o IBGE, 27,4% da população brasileira estava abaixo da linha da pobreza em 2023, o que agrava o problema estrutural da falta de educação financeira.
Educação financeira como ferramenta de transformação
O artigo Demystifying Financial Literacy: A Behavioral Perspective Analysis, das professoras Kelmara Mendes Vieira (UFSM) e Ani Caroline Grigion Potrich (UFSC), aponta que a alfabetização financeira reduz significativamente a propensão ao endividamento. No entanto, a implementação eficaz da educação financeira nas escolas brasileiras ainda enfrenta desafios.
Nos últimos anos, avanços legislativos têm impulsionado a pauta. Em 2024, o Projeto de Lei 2747/24, do deputado Marcos Tavares, propôs a inclusão obrigatória da educação financeira nos currículos das redes pública e privada. A proposta visa fomentar a consciência financeira desde a educação básica, com o objetivo de reduzir o endividamento — que atingiu 81% das famílias brasileiras em abril de 2025, segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC).
Luana Guedes, mãe de três jovens que estudaram em escolas públicas entre 2016 e 2021, relata que o tema era tratado de forma superficial. “Utilizavam o espaço para abordar assuntos que não se encaixavam na proposta da disciplina, como trabalhos sobre dengue. Foi um desperdício de aula, já que a educação financeira tem muito a ensinar”, critica.
Em 2024, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo incluiu aulas de educação financeira no currículo do Ensino Médio e dos 8º e 9º anos do Ensino Fundamental. Mais de um milhão de estudantes da rede estadual passaram a ter acesso a material didático específico, desenvolvido pela Coordenadoria Pedagógica da Educação de SP.
Julia Oliveira, aluna da sétima série da rede municipal de São José dos Campos, participa das aulas de “enriquecimento curricular”, que abordam temas como empreendedorismo e finanças. “Sempre penso em gastar com responsabilidade e guardar para o futuro. Acho interessante planejar desde o uso da receita até a criação de uma reserva de emergência”, conta.
Iniciativas privadas ampliam o alcance da educação financeira
Em entrevista exclusiva ao Portal de Jornalismo da ESPM-SP, Felipe Paiva, diretor de mercado da B3, destacou o papel da bolsa de valores na democratização do acesso ao conhecimento financeiro. “Mesmo com uma população de 200 milhões, o Brasil tem apenas cerca de 30 milhões de investidores. Muitos nem sabem que estão investindo. A B3 tem o papel de mostrar o que é um produto financeiro, suas alternativas e implicações, como o imposto de renda”, explica.
Entre as iniciativas da B3 está o Museu da Bolsa do Brasil, no centro histórico de São Paulo, que oferece visitas guiadas gratuitas com explicações interativas sobre poupança, juros e mercado de ações. A instituição também promove as “Olimpíadas do Conhecimento”, competições acadêmicas voltadas a estudantes da rede pública e privada, que incentivam o aprendizado sobre finanças.
Para o público adulto, a B3 disponibiliza uma plataforma educacional com cursos gratuitos online, que vão desde noções básicas de economia até conteúdos avançados sobre investimentos e finanças pessoais.