Editorial: 1968, um ano para ficar na história

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Revisitar um dos anos mais importantes – e polêmicos – do século 20, tendo à frente uma turma de jovens alunos-repórteres que nem em sonho viveram aquela data, foi o desafio desta edição da Plural. Em 2018, o icônico ano de 1968 fará 50 anos. Farão 50 anos, portanto, a tenebrosa promulgação do AI-5 no Brasil, e, com ela, o acirramento da ditadura militar; o assassinato do líder do movimento negro Martin Luther King; a passeata dos cem mil, no Rio de Janeiro, contra a ditadura; a violenta “Batalha da Maria Antônia”, que opôs estudantes da USP e do Mackenzie; o assassinato de Robert Kennedy na Califórnia; a morte do cosmonauta soviético Yuri Gagarin, primeiro homem a ir ao espaço, em um acidente aéreo; o fim da Primavera de Praga, com a invasão de tropas russas à então Tchecoslováquia. No Vietnã, foi também o ano da Ofensiva Tet, em que a guerrilha vietnamita invadiu a embaixada dos Estados Unidos em Saigon, elevando o tom do sangrento conflito iniciado em 1955.
1968 foi um ano violento.
Mas em 2018 farão também 50 anos o histórico e libertário Maio de 1968, que mudou a França e inspirou o mundo; o início do movimento Tropicália, na música brasileira; o lançamento do icônico filme “2001, Uma Odisséia no Espaço”, que fez escola no cinema; o primeiro transplante de coração realizado no Brasil; a eleição da brasileira Martha Vasconcellos à inédita coroa de Miss Universo; lutas e conquistas nos direitos das mulheres e dos negros; a explosão dos festivais de música na TV brasileira.
1968 foi um ano inspirador.
Por essas e outras, é impossível apresentar uma resposta simples para a questão complexa que move esta edição: qual foi o legado de 1968, 50 anos depois? Para mergulhar nessa discussão, esta Plural mobilizou, além de seus repórteres, integrantes do Laboratório de Formatos Híbridos (LabFor) da ESPM, que produziram uma linha do tempo interativa (veja à pág. 26), vídeos de realidade aumentada e ainda um vídeo em 360 graus no Memorial da Resistência de São Paulo. Tivemos também o apoio da oficina de podcast do nosso Centro Experimental de Jornalismo, onde alunos gravaram a série “Mulheres que Resistiram: Memórias da Ditadura”, com entrevistas com sobreviventes torturadas no período.
Papel, web, rádio. Sob várias angulações e perspectivas, o ano de 1968 (re)aparece nas próximas páginas de forma multifacetada e complexa. Impossível resumir o turbilhão de acontecimentos sob uma única etiqueta. Mas uma conclusão, contudo, é unânime (para o bem ou para o mal): 1968 foi um ano histórico.
Renato Essenfelder, Editor da Plural