Divórcio grisalho: “não preciso ser infeliz para sempre”

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Texto e Foto: Sofia Florentino – 1º semestre

Há uma geração, cerca de 25 anos atrás, menos de 10% dos divórcios no Brasil envolviam cônjuges com mais de 50 anos. Hoje, mais de 25% dos divorciados têm mais de 50 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa nova tendência, o divóricio após anos de relacionamento, normalmente entre pessoas mais velhas, é chamada de “divócio grisalho”. 

De acordo com o IBGE, O século XXI trouxe tanto uma expectativa de vida maior, pois os brasileiros vivem quase 20 anos a mais do que em 1970, quanto uma nova perspectiva de vida: “eu não preciso ser infeliz para sempre”, afirma Márcia Silva (nome fictício), funcionária pública de 63 anos. Ela se divorciou em 2023, aos 62 anos, quase 36 anos após seu casamento, e, embora considere seu ex-marido um grande amigo, eles não “funcionavam como casal”. Márcia diz que ela ainda tem muitos anos pela frente e merece passá-los feliz e apaixonada.

Os motivos para a separação legal podem variar: a valorização da independência da mulher é um grande pretexto para o divórcio. Atualmente, as mulheres não precisam ter maridos para realizar tarefas sociais básicas, como trabalhar ou aceitar heranças (o artigo 242 do Código Civil de 1916 constata que a esposa tinha de pedir permissão ao marido para realizar ambas atividades). Ou seja, a mulher contemporânea tornou-se independente de um marido e não precisa, necessariamente, se casar para conquistar seus objetivos pessoais. 

O divórcio grisalho vem se tornando mais comum mundialmente. Um estudo feito pela Universidade Estadual de Bowling Green constatou que os números de divórcios grisalhos nos Estados Unidos e no México dobraram entre 1990 e 2010 e aumentaram em 50% na Espanha no mesmo período. Nos EUA, a maioria dos casamentos duram menos de 25 anos. 

De acordo com a funcionária pública Ana Cláudia Basta Forin, de 58 anos, seu divórcio -após anos de casamento- foi “ótimo”: “Percebo que os 50 mais e 60 mais estão livres para se separarem depois de terem dedicado uma vida aos outros”. Ana Claudia diz que o divórcio é uma época de reflexão, em que é preciso “parar de carregar relações que não te fazem feliz”. Ela considera o divóricio grisalho “uma vitória”. 

O comportamento de pessoas mais velhas vem se modernizando e a separação é um ato revolucionário que marca a mudança dos tempos e das relações entre humanos. Tanto a independência da mulher quanto a valorização do autoconhecimento são os motivos de conexões mais saudáveis dadas por divórcios ou separações. O divórcio grisalho é um marco de uma geração e uma tendência que tende a aumentar.