Desaceleração do setor aéreo afeta toda a economia brasileira, aponta especialista

Imagem: Pixabay

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Giovanna Oliveira (6º semestre)

O setor aéreo é um dos segmentos mais atingidos pela pandemia de covid-19. De acordo com a Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA, em inglês), no primeiro ano da pandemia, houve uma redução mundial de 60% no número de passageiros, com apenas 1,8 bilhão de passageiros voando, em comparação a 4,5 bilhões no ano anterior, de acordo com dados publicados pela agência especializada ICAO. Apesar da vacinação já ter começado em vários países, o cenário para 2021 não é otimista. A IATA prevê que o primeiro semestre deste ano será ainda pior do que o esperado. Os impactos financeiros e econômicos já podem ser percebidos pelos resultados das companhias aéreas.

Impactos nas companhias aéreas

Em julho de 2020, uma das principais companhias áreas do Brasil, a LATAM Brasil, entrou no processo de reorganização e reestruturação voluntária sob a proteção do Capítulo 11 da lei dos Estados Unidos, equivalente à recuperação judicial no Brasil.  Este processo legal ocorre quando empresas com dificuldades financeiras buscam uma alternativa de reestruturação econômica.

“Tomamos esta decisão neste momento para que a empresa possa ter acesso a novas fontes de financiamento. Estamos seguros de que estamos nos movendo de forma responsável e adequada, pois temos o desafio de transformar a empresa para que ela se adapte à nova realidade pós-pandemia e garanta a sua sustentabilidade no longo prazo”, comentou Jerome Cadier, CEO da LATAM Brasil, em uma nota divulgada pela companhia.

Além disso, de acordo com dados divulgados pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), as três maiores companhias áreas do Brasil —  Gol, Latam e Azul —  tiveram o pior resultado líquido de toda a série histórica no ano passado. Os indicadores negativos não se limitam somente às aéreas brasileiras. Isso porque, conforme um levantamento do jornal “The Wall Street Journal”, somente quatro das 30 maiores companhias aéreas do mundo tiveram algum lucro durante a pandemia. Como consequência, algumas empresas declararam falência, como é o caso da Czech Airlines, da República Tcheca.

Em meio a este cenário, a solução encontrada pelas companhias para enfrentar os efeitos da crise foi compartilhar voos, reduzir investimentos não essenciais, minimizar custos e despesas, aderir acordos trabalhistas, ajustar a necessidade da frota aos voos, reduzir tarifas e prolongar os prazos dos pagamentos com fornecedores. As companhias também buscam preservar o capital de giro para não terem impactos em suas operações. Esta foi, inclusive, uma das alternativas adotadas pela Gol no Brasil. “A Gol tem capital de giro para manter operações de modo consistente. Terminamos o ano de 2020 com uma redução significativa no endividamento de curto prazo e solidificamos nossa parceria com os principais provedores de capital de giro”, declarou o CEO da empresa, Paulo Kakinoff, durante uma teleconferência com investidores.

O capital de giro é um valor armazenado que é fundamental para manter o funcionamento das operações da empresa no dia a dia, especialmente em situações de crise. O montante é utilizado, por exemplo, para o pagamento de fornecedores. Durante a pandemia, a GOL ressaltou a importância deste montante para sobreviver à crise e mostrou que, quando combinado com outras medidas de redução de dívida, este recurso é essencial para que as empresas consigam continuar operando após o registro de lucros significativamente menores.

Por quanto tempo o capital de giro é suficiente?

De acordo com o diretor de operações da Web Aviation Consultoria e professor de aviação civil da Universidade Anhembi Morumbi, Derick Baum, o agravamento da pandemia reforça um cenário que já era bastante pessimista para as companhias aéreas em geral. “O ano de 2020 para as companhias aéreas foi catastrófico. Nós começamos 2021 com perspectivas melhores, mas agora voltamos a patamares iguais a maio de 2020. Isso preocupa porque o capital de giro que as empresas tinham para queimar está acabando. Agora é possível esperar um nível de endividamento e entrega de aeronaves”, explica o professor.

Segundo ele, é fundamental lembrar que, no caso das companhias aéreas, os custos fixos são bastante elevados, o que pode fazer com que a redução dos custos variáveis, como ocorre por meio de uma redução de salários, por exemplo, não seja suficiente. “As companhias aéreas não possuem aeronaves. Elas precisam pagar o leasing (arrendamento da aeronave). Para um Boeing 737, por exemplo, o leasing é de mais de R$ 1 milhão por mês. Então, em uma frota de 100 aeronaves, o custo fixo somente com leasing é de R$ 100 milhões mensais”, analisa o especialista.

Impactos econômicos

O impacto da pandemia nas finanças das companhias aéreas afeta a economia como um todo. Segundo o professor Igor Gondim de Finanças da ESPM-SP, o setor aéreo tem uma participação relativamente pequena no Produto Interno Bruto (PIB) do país, porém, está relacionado com outros setores importantes da economia como o de infraestrutura, fabricação de aeronaves ou turismo. Além disso, a desaceleração do setor está ligada à queda de arrecadação de tributos, o pode gerar ainda fortes impactos sociais. Segundo Gondim, a perda de empregos diretos e indiretos do setor aéreo afetará, inclusive, a retomada da economia.

Além dos impactos da pandemia, a desvalorização do real também contribuiu para que as empresas apresentassem prejuízo em 2020. Exemplo disso é a Gol, que apresenta aproximadamente 95% de seu endividamento (empréstimos e financiamentos e arrendamentos) em dólar americano e 36,5% dos custos também atrelados à moeda estadunidense, segundo dados divulgados pela própria empresa.