Regras tentam conter excessos em debates

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José Luis Datena ataca Pablo Marçal no debate promovido na TV Cultura. Foto: reprodução da TV.

Henrique Campos Guerra (4º semestre)

O debate eleitoral dos candidatos à Prefeitura de São Paulo, realizado pela TV Cultura no último domingo (15), foi interrompido após uma agressão física. O candidato José Luiz Datena (PSDB), agrediu Pablo Henrique Costa Marçal (PRTB), com uma cadeira. O golpe teria causado um traumatismo na região do tórax de Marçal, que foi levado ao Hospital Sírio-Libanês, no bairro do Morumbi. O candidato do PRTB passou por exames no próprio domingo e, após ser medicado, recebeu alta no dia seguinte.

O incidente ocorreu após uma troca acalorada de insultos. Marçal mencionou uma denúncia de assédio sexual contra o tucano e o provocou, enquanto Datena, visivelmente irritado com a acusação, respondeu com ofensas, chamando seu oponente de “bandidinho” e palavras de baixo calão, e em seguida partiu para a agressão física. O moderador do debate, que também é diretor internacional de jornalismo da TV Cultura e professor da ESPM, Leão Serva, anunciou a expulsão imediata do agressor, conforme o regulamento previamente acordado por todos os candidatos.

A TV Cultura de São Paulo lamentou o ocorrido e afirmou que tomou todas as providências necessárias, incluindo a continuidade do debate com os demais participantes. O candidato agredido, após ser liberado do hospital, registrou boletim de ocorrência por lesão corporal e injúria. Em entrevista para a Rádio Cultura, Leão Serva, afirmou que a cena protagonizada por Datena e Marçal foi uma das mais absurdas da história da televisão brasileira, mas reforçou que as regras propostas pela TV Cultura funcionaram e melhoraram a qualidade do confronto.

Nível dos debates preocupa

 Debates são organizados para proporcionar ao eleitor uma visão clara das propostas de cada candidato, mas também seguem um conjunto de regras que tentam assegurar sua organização e o cumprimento de normas éticas.

Essas organizadoras, normalmente, são emissoras de televisão ou rádio, que determinam suas regras em acordo com as organizações políticas participantes. Segundo a legislação brasileira, a participação é assegurada para candidatos de partidos com representação mínima de cinco parlamentares no Congresso Nacional, sendo facultativa para os demais.

 As regras são estabelecidas pela organizadora do evento, e precisam ser comunicadas à Justiça Eleitoral, incluindo menções sobre o formato do debate, o tempo de fala para cada candidato, e as normas para perguntas e respostas. As organizadoras aproveitam este momento para alterar essas regras.

Com o avanço das táticas de campanha e o aumento da disseminação de fake news, novas regras têm sido introduzidas nos debates, visando garantir que os candidatos respeitem uns aos outros, respondam às questões levantadas no evento e evitem a disseminação de informações falsas ou caluniosas.

Novas regras

Em casos de descumprimento dessas regras, os organizadores podem intervir e, em situações mais graves, o candidato pode ser desqualificado do debate. A TV Cultura optou por excluir jornalistas do local durante o confronto, proibir a exibição de objetos ou documentos, e usar adereços com propaganda política, como adesivos e bonés. Com estas regras impostas, os candidatos ou seus assessores estavam sujeitos a expulsão após infringirem as normas três vezes. 

A Rede TV, que realizou o debate juntamente com a UOL na manhã de hoje (17), decidiu parafusar as cadeiras, para impedir uma possível nova cadeirada, e teve uma segurança reforçada, com um guarda para cada candidato. Diferentemente da TV Cultura, a organização do encontro optou por separar o limite de infrações em duas por bloco. O candidato que infringisse as normas duas vezes no mesmo bloco estaria suspenso até a próxima parte do debate.

Essa é uma das muitas tentativas de assegurar que o foco permaneça nas propostas e ideias de cada participante, ao invés de discursos inflamados e ofensivos. Para os políticos e partidos, aumenta a cobrança em relação ao cumprimento das regras, ao mesmo tempo que muitos as utilizarão para benefício próprio nos próximos debates.



Memes e audiência recorde

A internet rapidamente reagiu à polêmica cadeirada de Datena em Pablo Marçal durante o debate. Em poucas horas, o incidente virou um dos principais tópicos nas redes sociais, com uma enxurrada de memes. A cadeira, que foi usada na agressão, “assumiu liderança” nas pesquisas satíricas compartilhadas pelos usuários, sendo tratada como “candidata” a prefeito em postagens cheias de humor.

Além da repercussão digital, os debates registraram audiência recorde. A TV Cultura, ao transmitir o confronto entre Datena e Marçal, viu um pico de audiência 80 vezes maior que o de sua programação normal, e o segundo “round” entre os dois candidatos, ocorrido na RedeTV!, rendeu à emissora sua maior audiência em cinco anos.

 

Especialista comenta


O Professor Fabio Andrade, da ESPM, especialista em Relações Internacionais, compartilhou em entrevista ao portal de jornalismo da ESPM sua visão sobre o papel e as transformações recentes dos debates políticos. Segundo ele, “os debates têm uma função dupla: de um lado, permitir que o eleitor conheça as propostas e a postura dos candidatos, e de outro, funcionam como uma extensão da campanha, onde as disputas se tornam mais acirradas.”

Fabio também destacou que, nos últimos anos, especialmente desde 2016, com a ascensão de líderes políticos que se identificam como antissistema, os debates em diversos lugares do mundo, incluindo São Paulo, têm se transformado em arenas de confronto mais agressivo. “Esses grupos trazem uma lógica do mundo digital para os debates, o que acentua o desgaste e a confrontação”, afirma o professor, acrescentando que esse fenômeno prejudica o objetivo principal do debate, que é informar o eleitor.

De acordo com ele, “os debates de São Paulo atingiram um novo patamar de tensão, levando mais à destruição dos adversários do que à informação do eleitor, o que é motivo de preocupação para as próximas eleições.” Fabio finaliza alertando para o papel que partidos, imprensa e cidadãos têm na preservação do debate democrático. “As direções dos partidos precisam ter um papel mais incisivo na escolha de suas candidaturas e na defesa da democracia, enquanto a imprensa deve fixar regras mais rígidas e assertivas para proibir comportamentos inadequados em debates”, conclui o professor.

 

Cronologia de polêmicas em debates na cidade de São Paulo:

09/08 – Debate da Bandeirantes

Marçal chama Guilerme Boulos (PSOL) de “comedor de açúcar”

Esposa de Ricardo Nunes (MDB)  interrompe debate após vê-lo sendo acusado de cometer violência doméstica;

Durante debate, Boulos publica, nas redes, condenação antiga de Pablo Marçal

14/08 – Debate do Estadão

Marçal insinua que o outro é um “aspirador de pó”;

Marçal é chamado de “psicopata e mau caráter”;

Marçal mostra Carteira de Trabalho para rival;

Tabata (PSB) é chamada de “para-choque de comunista”;

Marçal é chamado de “coach” e “enganador”;

19/08 – Debate da Veja

Boulos, Nunes e Datena cancelam sua participação alegando falta de regras e ética;

Marçal ignora perguntas recebidas e pede engajamento em sua rede social;

Marçal diz que Boulos frequenta clínicas de reabilitação;

                 01/09 – Debate da TV Gazeta

Marçal chama Nunes de “Tchutchuca do PCC”;

Boulos chama Nunes de “ladrãozinho de creche”;


15/09 – Debate da TV Cultura

Marçal acusa Datena de abuso sexual;

Datena agride Marçal com uma cadeira;



15/09 – Debate da RedeTV! (UOL)

Gritaria entre Marçal e Nunes interrompe debate;

Marçal faz novas acusações de abuso sexual para Datena e dependência química para Boulos;

 

23/09 – Debate do Flow

 

Pablo Marçal expulso após infringir regras;

Assessor de Marçal agride marqueteiro de Nunes;

Veja a seguir slideshow com os memes gerados sobre o incidente no debate da TV Cultura:

Confira Cronologia de polêmicas em debates na cidade de São Paulo:

09/08 – Debate da Bandeirantes

Marçal chama Guilerme Boulos (PSOL) de “comedor de açúcar”

Esposa de Ricardo Nunes (MDB)  interrompe debate após vê-lo sendo acusado de cometer violência doméstica;

Durante debate, Boulos publica, nas redes, condenação antiga de Pablo Marçal

14/08 – Debate do Estadão

Marçal insinua que o outro é um “aspirador de pó”;

Marçal é chamado de “psicopata e mau caráter”;

Marçal mostra Carteira de Trabalho para rival;

Tabata (PSB) é chamada de “para-choque de comunista”;

Marçal é chamado de “coach” e “enganador”;

19/08 – Debate da Veja

Boulos, Nunes e Datena cancelam sua participação alegando falta de regras e ética;

Marçal ignora perguntas recebidas e pede engajamento em sua rede social;

Marçal diz que Boulos frequenta clínicas de reabilitação;

                 01/09 – Debate da TV Gazeta

Marçal chama Nunes de “Tchutchuca do PCC”;

Boulos chama Nunes de “ladrãozinho de creche”;


15/09 – Debate da TV Cultura

Marçal acusa Datena de abuso sexual;

Datena agride Marçal com uma cadeira;



15/09 – Debate da RedeTV! (UOL)

Gritaria entre Marçal e Nunes interrompe debate;

Marçal faz novas acusações de abuso sexual para Datena e dependência química para Boulos;