Curador de Tarsila Popular, Fernando Oliveira, fala ao Portal de Jornalismo

Operários (1933), primeira obra da fase Social de Tarsila

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Beatriz Araújo e Lua Cataldi (1º semestre)

 

Operários (1933), primeira obra da fase Social de Tarsila, pintada após a sua viagem a Moscou, onde foi sensibilizada pela causa operária

Entre os dias 5 de abril e 28 de julho, o MASP (Museu de Arte de São Paulo) recebe a exposição Tarsila Popular, que reúne 92 obras de uma das maiores personalidades do Modernismo Brasileiro, a artista Tarsila do Amaral. Após 11 anos de sua última grande exposição no Brasil, que ocorreu na Pinacoteca do Estado de São Paulo, o acervo reunido é uma das principais atrações para paulistas e turistas que estão de passagem pela cidade.

A carreira da artista foi marcada pelo rompimento com os padrões conservadores da época, até então muito presente no início de seu trabalho. A valorização do cotidiano urbano, de elementos tropicais, do índio e da sociedade negra, contribuiu para ilustrar a diversidade brasileira.

Retrato de Mário de Andrade (1922), à esquerda, e autorretrato de Tarsila do Amaral (1923), à direita. Obras dos Primeiros Anos da carreira da artista

 

O Pescador (1925), tela com elementos cubistas que caracterizou a fase Pau Brasil de Tarsila

 

Segunda Classe (1933), retratado ainda durante sua fase Social, a artista conta que a imagem de uma família pobre e descalça descendo do vagão da segunda classe do trem ficou gravada em sua memória

 

O Batizado de Macunaíma (1956), tela inspirada no romance de Mário de Andrade

 

A exposição tem gerado uma intensa repercussão com público interessado em conhecer o legado deixado pela artista e sua contribuição para a arte no país. “Eu decidi visitar, porque nunca tinha visto uma obra dela [Tarsila], só em livros de história, que a gente tem na escola”, disse o paulista Arthur Silva, quando questionado sobre sua visita à exposição. Já a mineira Neusa Lima disse que o motivo da visita à exposição foi o interesse pelo contexto histórico das telas.

O Portal Jornalismo da ESPM-SP, conversou com um dos curadores responsáveis pela realização da Tarsila Popular, Fernando Augusto Oliveira.

PJ: Como é ter contato com obras de arte tão importantes a todo momento?

FAO: O trabalho de curadoria envolve inicialmente um trabalho de pesquisa, uma pesquisa sempre muito extensa sobre o artista e sobre a obra, mas também sobre as questões, os problemas, as ideias deste artista.

PJ: Quanto tempo demora para organizar cada exposição?

FAO: Cada exposição leva cerca de dois anos para achar as obras e, principalmente, pelo enquadramento, porque não é só reunir as obras de um artista e apresentar, você também precisa pensar como enquadrar esse artista sob uma nova perspectiva, que seja interessante, que tenha um apelo público, sem rebaixar a obra dele, sem banalizar, sem ser didático em excesso.

PJ: Como é escolhida a temática de cada exposição?

FAO: Aqui no MASP, a gente trabalha em eixos curatoriais, então cada um trabalha com um problema, com uma questão. Tínhamos, ano passado, histórias afroatlânticas, que se referem à relação do Brasil com a África e de um transido, de um tráfego afro atlântico, dos problemas sociais, raciais, de classe, que envolveu e envolve o Brasil, o último país a abolir a escravidão. O MASP não exclui de suas leituras questões sociais, raciais, que fazem parte da realidade brasileira e que não são colocadas debaixo do tapete.

PJ: Essa foi uma das maiores exposições da Tarsila do Amaral aqui?

FAO: Não foi a maior exposição da Tarsila, mas foi a que pegou um arco de tempo maior.

PJ: As exposições não começam a ficar repetitivas depois de um tempo? O modernismo vai fazer cem anos em pouco tempo…

FAO: O olhar para um artista, quando ele é apresentado em um museu, sempre vai ser novo porque a perspectiva histórica vai ser diferente. Daqui a dez anos, talvez a gente esteja em um outro momento no campo cultural brasileiro, talvez as questões indígenas tenham uma presença maior, então a gente vai olhar a Tarsila do ponto de vista de uma história indígena brasileira.

PJ: Desse processo de dois anos de programação da exposição, o que você acha que foi mais difícil: reunir as obras ou reunir as pessoas para escrever o catálogo?

FAO: A partir do momento em que a gente define a perspectiva para trabalhar o artista, convidamos autores que sejam capazes de escrever naquela perspectiva. Então, já que nossa perspectiva sobre a Tarsila é o popular, o social, as questões de classe, convidamos autores que já escreveram sobre o modernismo brasileiro sob essa chave. Nós acreditamos que já é chegado o momento de propor novas leituras.

PJ: Você esperava dias de superlotação do MASP para visitas à exposição?

FAO: Esperávamos um grande público, porque sabíamos que há muito tempo não havia uma exposição da Tarsila com essa ambição e também porque, obviamente, temos a estrela midiática da exposição, o Abaporu, além de obras raras que há muito tempo não eram exibidas, como: Macunaíma, a Cuca, O Pescador (do Museu Hermitage – Moscou – que nunca foi exibida no Brasil, um empréstimo muito complexo e caro)… a gente esperava uma grande quantidade, talvez não tanto e de maneira tão intensa.